Nesta quinta-feira, 30 de junho completa-se 20 anos da morte do médium Francisco Cândido Xavier, medium que divulgou a doutrina espírita no Brasil e conquistou milhões de seguidores.
Nascido em 1910, em Pedro Leopoldo, Região Metropolitana de Belo Horizonte, o mineiro Chico Xavier se mudou para Uberaba, no Triângulo Mineiro, em 1959, onde psicografou grande parte dos seus 459 livros.
O Brasil é considerado o maior país de adeptos ao espiritismo do mundo inteiro, sendo que todos seguem os exemplos do famoso médium, ou seja, caridade, amor ao próximo, tolerância, diálogo, respeito e empatia. “Chico deixou um legado relacionado aos valores universais que hoje em dia é seguido pelos seus seguidores e centros espiritas que realizam, por exemplo, doações de alimentos, entre outras ações que beneficiam os necessitados”, comentou Carlos Vitor Silveira coordenador do Memorial Chico Xavier.
O médium Chico Xavier, dizia que queria desencarnar no dia em que o povo brasileiro estivesse muito feliz. Foi o que aconteceu. Por volta das 19h30 do dia de 30 de junho de 2002, quando o país estava em festa, já que na manhã daquele dia, a seleção brasileira de futebol havia conquistado o pentacampeonato da Copa do Mundo, Chico Xavier, com então 92 anos, sofreu uma parada cardiorrespiratória e faleceu.
Chico psicografou 459 livros ao longo de sua vida missionária. Tudo começou em 9 de julho de 1932, quando ainda jovem, com então 22 anos, lançou a sua primeira obra espírita: Parnaso de Além-Túmulo; uma antologia de poemas, psicografados pelo médium, ou seja, mais de 200 poemas ditados por 56 poetas brasileiros e portugueses já desencarnados.
Ao longo dos próximos 70 anos, Chico Xavier, que dizia que não era o autor dos livros e sim uma espécie de ‘‘carteiro’’, psicografaria mais 459 livros. Os textos foram traduzidos para 15 línguas, incluindo japonês, grego, tcheco e esperanto, sendo que os direitos autorais, todos, foram doados, com registro em cartório, para obras assistenciais.
Homenagem
Às 18:30hs desta quinta-feira, 30 de junho, acontece no Teatro Sesiminas uma homenagem a toda a trajetória de Chico Xavier com a presença de pessoas que conviveram com ele ao longo dos anos. A homenagem contará com a cabine “O que vivi com Chico” e um concerto especial da Orquestra Municipal de Uberaba/MG.
Opinião
Para os céticos, uma coincidência; para os que acreditam, mais uma prova das capacidades do médium — Chico Xavier morreu exatamente há 20 anos, no mesmo domingo em que o Brasil venceu a Alemanha na final da Copa do Mundo e conquistou o sonhado pentacampeonato.
Aos 92 anos frágil e já doente, Chico era uma personalidade amplamente conhecida no país. Filho de um vendedor de bilhetes de loteria e de uma lavadeira, ambos analfabetos, se tornou o maior médium brasileiro, tendo escrito mais de 10 mil cartas psicografadas e se consolidado como dono de uma obra de mais de 458 livros — cuja autoria sempre foi atribuída a espíritos. No total, vendeu cerca de 50 milhões de exemplares cuja renda sempre foram doadas a instituições. Viveu na simplicidade, para servir e demonstrar amor o tempo todo.
Nascido em Pedro Leopoldo, pequeno município, Chico Xavier alcançou a notoriedade desde a publicação de seu primeiro livro — embora fenômenos mediúnicos já fizessem parte de sua vida desde a tenra idade.
Em 1932, ele ainda ganhava a vida como vendedor e tecelão e costumava publicar poesias em jornais assinados por nove poetas brasileiros, quatro portugueses e um anônimo. Desta coletânea surgiu o primeiro livro “ Parnaso de Além-Túmulo”. A edição ficou por conta da Federação Espírita Brasileira. E o livro alcançou repercussão no meio literário. “Ele tinha jovem de 20 anos era considerado um matuto, um menino do interior de Minas Gerais, filho de pais analfabetos, que colocava no papel poemas assinados por nomes como Castro Alves, Augusto dos Anjos, etc… E afirmava: ‘foram eles que escreveram, não fui eu'”, conta o jornalista e escritor Marcel Souto Maior, autor de, entre outros, As Lições de Chico Xavier e As Vidas de Chico Xavier.
“Era uma época em que ele, que já havia trabalhado numa fábrica de tecidos, trabalhava 12 horas seguidas por dia como vendedor no armazém de um tio. Tinha pouco tempo para leitura e para exercícios de escrita”, comenta Souto Maior. “O livro foi publicado e provocou uma grande comoção, atraindo a curiosidade dos principais escritores da Academia Brasileira de Letras.”
Segundo o biógrafo, “95% dos escritores ficaram impressionados com a qualidade e a versatilidade da escrita”, sendo que alguns comparavam com textos escritos em vida pelos autores ali citados e encontravam muitas semelhanças no estilo, na métrica e na temática.
“Foi um impacto muito forte. E isso levou jornalistas a Pedro Leopoldo, alguns interessados em desvendar aquele enigma, outros querendo ‘desmascarar aquela fraude'”, prossegue Souto Maior. “Houve um impacto positivo e também um impacto negativo na repercussão.”
Tal dicotomia perseguiu Xavier por toda a vida. “De um lado, admiradores; de outro, profunda desconfiança”, comenta o jornalista. “Mas neste início dele, veio algo forte e interessante. Ele foi se tornando uma figura conhecida. E polêmica em todo o Brasil.”
E se ele sempre manteve a simplicidade no seu dia a dia — três anos depois, assumiu um posto de escrevente-datilógrafo em uma Fazenda Modelo ligada ao Ministério da Agricultura —, a escrita passou ser parte indissociável de seu dia a dia como médium.
De certa forma, foi essa obra literária mediúnica que atraiu Souto Maior ao universo de Xavier. “Recordo-me até hoje do que escrevi depois, no jornal, sobre a experiência, aquele universo em que o centro era Chico Xavier. Coloquei no papel que ele havia então escrito mais de 400 livros, vendido mais de 30 milhões de exemplares e doado toda a renda dos direitos autorais a instituições beneficentes”, relata o jornalista. “Aquilo para mim era muito intrigante. Por isso decidi ir até Uberaba, apesar de muito cético, muito descrente”, diz. “O encontrei em um centro espírita na cidade de Uberaba que o médium então exercia suas atividades.
Esse fascínio e todo o carisma de Xavier fizeram dele o maior nome do espiritismo kardecista brasileiro. E também foi o que trouxe muitos adeptos para a doutrina fundada na França no século 19 por Allan Kardec.
“Chico Xavier não foi só o grande médium, mas todo o espiritismo brasileiro ganhou uma feição diversa depois de sua aparição. Ele não foi apenas um médium carismático, foi antes de tudo um modelo de espírita exemplar, que é também um modelo de santo cristão exemplar a ser seguido e imitado em sua caridade, humildade de renúncia, infelizmente não aceito e venerado pelo catolicismo”, contextualiza o filósofo e antropólogo Bernardo Lewgoy, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autor do livro O Grande Mediador: Chico Xavier e a Cultura Brasileira.
Sim, o antropólogo avalia que Xavier consagrou-se “como uma espécie de ‘santo informal’ do espiritismo”. “Os livros e as mensagens de Emmanuel e André Luiz [os dois principais nomes a quem ele atribuiu a autoria de seus textos psicografados] são presença e leitura obrigatória em centros espíritas brasileiros”, comenta.
“Mas o catolicismo nunca foi homogêneo: sempre houve devoções populares e misturas sincréticas com outras religiosidades de origem indígena e africana. A crença em espíritos que sobrevivem após a morte do corpo e que retornam periodicamente parece ser uma moeda comum dessa espiritualidade difusa abrigada no grande manto católico-popular”, avalia o pesquisador.
“O espiritismo é uma religião urbana de classes médias inseridas no crescimento de profissões típicas dessa classe, como médicos, militares e professores. O apelo da experiência mediúnica com uma base cultural europeia, pela questão do capital cultural envolvido, de que eram ávidos em sua busca por legitimidade, numa época de difusão do positivismo e do evolucionismo é fator de muito importância para esse segmento, associando-se a contatos com parentes falecidos e práticas de caridade e de cura.”
Na visão do antropólogo, estabeleceu-se então “um longo e invisível diálogo sincrético, misturado a uma forte competição” entre espiritismo e catolicismo. Este foi o caminho encontrado por Chico Xavier, um homem hábil em costurar “uma agenda nacional cristã espírita, com influência do catolicismo popular”.
“Seu discurso era fundamentalmente cristão. E ele sempre fazia questão de dizer que a Igreja Católica era o berço de todos nós e um caminho que deveria ser estudado com amor e dedicação”, ressalta o jornalista Souto Maior.
A mãe de Francisco Cândido Xavier era católica e morreu quando o garoto tinha apenas 5 anos. Segundo alguns biógrafos, um ano antes ele já relatava ouvir vozes do além. Quando se tornou órfão, passou a “ter diálogos” diários com o que seria o espírito de sua mãe.
“Um padre que se tornou seu amigo confidencial dizia para ele ter cuidado com que falava, não contar tudo o que vivia… Por isso ele sempre teve um profundo respeito e gratidão pelo catolicismo.”
Foi só aos 17 anos que Xavier teve contato com a doutrina espírita kardecista — e assim colocar o que vivenciava dentro dos métodos de uma doutrina. Mas foram os seus livros e seus escritos polêmicos que o ajudaram a sistematizar seu legado; foram suas aparições na TV, nas rádios e jornais que renderam fama nacional. É considerada um marco sua participação, ao vivo, no programa Pinga-Fogo da extinta TV Tupi, em julho de 1971.
Ele acabou repetindo a participação no fim do mesmo ano e o sucesso foi tamanho que, segundo a metodologia da época, 86% dos televisores estavam sintonizados no programa.
Segundo o censo, de 2010, eram 3,8 milhões de praticantes do espiritismo kardecista no Brasil. Como bem define o antropólogo Lewgoy, trata-se de “uma minoria religiosa de muito prestígio e respeito” e isso se traduz no sem-número de filmes, telenovelas e outros materiais midiáticos que retratam o assunto constantemente.
“O cristianismo evangélico tem uma clientela muito distinta dos espíritas, que são de classes médias urbanas, de maior educação formal e renda”, compara o professor. Por outro lado, é importante pontuar que o kardecismo, no Brasil, acabou assumindo para si o título de “espiritismo”, como se não houvesse também no país outras religiões espíritas.
No exato momento em que as forças vivas da família brasileira espírita lembram o aniversário de desencarne (morte) 20 anos do querido médium espírita Francisco Cândido Xavier, suas palavras ainda ressoam em nossa acústica doutrinária, convidando-nos a uma meditação séria em torno do homem santo que ele encarnou, que revive o Cristianismo primitivo em sua simplicidade e que tem no “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15:12) a sua expressão máxima.
Cumpre-nos desta forma, meditar melhor a mensagem dos Espíritos e a crença que cada um tem de acordo com sua religião, mas, sobretudo, que possamos aplicá-la em nosso convívio com nossos semelhantes e, principalmente, em nosso movimento de unificação, aplicação esta que foi a tônica de toda a vida de nosso irmão em Cristo, Chico Xavier. Aliás, ninguém mais do que ele viveu, principalmente no Brasil, o verdadeiro sentido da unificação daquilo que significou os ensinamentos do Mestre Jesus. Viva para sempre em nossas memórias saudoso Chico Xavier.
Direto da Redação com informações da Biografia e Fonte: “O Espírita Mineiro
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