Em dezembro, andando pelo Shopping Leblon, no Rio, fui abordado por um rapaz que dizia que era Deus que havia me colocado no caminho dele. Ele disse ser amigo de uma moça que administrava as redes sociais do Gugu e me entregou fotos do apresentador com Thiago Salvatico, com quem o apresentador namorava na época de seu falecimento. Vibrei com aquela bomba que havia caído dos céus nas minhas mãos. Só que eu não imaginava que ia enfrentar uma enorme resistência da empresa para a qual eu trabalho, o UOL, que assim como quase toda a imprensa brasileira insiste em viver uma mentira que o Gugu criou para a vida dele.
Resumindo: a homofobia da sociedade brasileira contaminou até os formadores de opinião que eu tanto admiro. Como pode? O argumento era que “em vida, Gugu havia optado por não falar publicamente sobre sua homossexualidade”. Mas peraí. Existe uma enorme disputa judicial, envolvendo R$ 1 bilhão, e, neste caso, há uma grande relevância em saber se Gugu se relacionava com homens ou com mulheres. Algo que explica o motivo pelo qual ele não incluiu Rose Miriam no testamento. Gugu era famoso por sua generosidade, se ele a excluiu, tinha seus motivos. A resposta, para mim, é simples: Gugu não incluiu Rose Miriam em seu testamento porque ela já havia recebido o dinheiro combinado para darà luz os filhos dele. Ponto.
E a lei brasileira não obriga ninguém a ter que deixar herança para quem pariu seus filhos. Mas nada disso convencia os meus chefes. Eles insistiam no famoso “ON”, quer dizer, alguém falar a verdade com todas as letras. Mas, na sociedade homofóbica brasileira, impera a lei do silêncio. E esse “ON” nunca viria. Eu tentei explicar que eu precisava desconstruir a ilusão que o Gugu criou para estar na TV. Eu entendo e respeito as pessoas públicas que não querem expor sua sexualidade. Elas têm o seu direito. Gugu usava a capa da revista “Caras” para criar uma família fictícia na cabeça da “tradicional família brasileira”.
Mas o que não entra na minha cabeça é, em pleno 2020, esse pensamento retrógrado e ultrapassado de achar que dizer que a pessoa é gay é algum demérito. Não é! Não pode ser! Gugu fez história na TV, foi o primeiro gay a apresentar um programa dominical. O legado e a importância dele não serão afetados pelo fato de ele ter se relacionado com homens. O Brasil precisa urgentemente parar de viver essa mentira.
Os filhos, a mãe e todas as pessoas que conviviam com o Gugu sabiam da homossexualidade dele e nunca viram problema nisso. Eu não estou, aqui, falando nenhuma novidade para eles. E eu nunca ouvi Gugu dizer a frase: “Não sou gay”. Gugu não mentiu em palavras, mentiu em atitudes através da capa de uma revista que fez história vendendo uma vida fictícia, que talvez fosse necessária para época. Mas isso não cabe mais nos dias de hoje. Passou. Acabou. Estamos em 2020. Estamos na era da verdade. A imprensa brasileira precisa entender isso.
Eu sei que esse texto vai gerar inúmeros ataques a mim nas redes sociais. Esse é o preço que eu pago por insistir em falar a verdade e não tolerar a mentira. A impressão que eu tenho é que a sociedade prefere viver uma mentira. A verdade dói no início, mas é libertadora. Não sei por que muitos veículos insistem em chamar Rose Miriam de “viúva”. Meu amor, os filhos do Gugu são fruto de inseminação artificial, Rose nunca se casou com Gugu e nunca teve relações sexuais com ele. Ela não pode ser chamada de “viúva”. A imprensa gosta de fantasiar que a família é formada pelo papai que transou com a mamãe e teve filhinhos lindos. Por quê? Vende mais? Dá mais cliques? Chega!
Um dos meus melhores amigos namorou por cinco anos um ex-namorado do Gugu. Ele me contou muitas histórias, falou novamente da generosidade do apresentador com seus namorados, e todos sabem que Gugu sempre foi muito namorador. Ele viveu a felicidade, da maneira dele, do jeito dele. Que bom! Vamos aproveitar que Gugu soube viver a sua verdade e a sua sexualidade internamente e vamos nos despir do preconceito. Vamos celebrar a liberdade que eu tive para escrever este texto no maior portal do Brasil. Isso é um marco no jornalismo brasileiro. Ser gay não é vergonha pra ninguém.
Por Léo Dias/ Uol – Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do TVJC
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