Queridos irmãos e Queridas irmãs, o tema da liturgia de hoje é dado explicitamente pela primeira leitura: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55,8). É convite para conhecer e aceitar um Deus que não age conforme os critérios humanos, o que exige conversão, ou seja, mudança de mentalidade. O texto de Isaías funciona como introdução ao que é desenvolvido no Evangelho em forma de parábola, cuja conclusão é desconcertante: “Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos” (Mt 20,16). Está claro, portanto, que esta liturgia nos motiva a assumir nova lógica para vivermos de acordo com os valores de Deus, incompatíveis com as práticas humanas convencionais. A segunda leitura apresenta o testemunho de um cristão que assimilou a lógica de Deus em sua vida: Paulo, que abandonou todos os interesses pessoais para viver somente em função de Cristo e do seu Evangelho.
Isso significa que essa parábola contada por Jesus, particularmente, contém uma mensagem indispensável para a comunidade, embora difícil de ser assimilada. Desde o Antigo Testamento, Deus é apresentado como o dono de uma vinha; logo a vinha é imagem clássica do povo que Deus escolheu como propriedade sua. Em Mateus, Jesus aplica essa imagem à comunidade cristã, embrião do Reino dos céus. A parábola mostra um proprietário zeloso: é ele mesmo quem sai para contratar os trabalhadores em diversas horas do dia. A propósito, o texto na língua original não traz o termo “patrão”, como está na versão litúrgica, e sim a expressão “dono de casa”, o que corresponde melhor à ideia de um Deus que é Pai, como Jesus quer revelar. Trata-se de um Deus que se relaciona pessoalmente com a humanidade, já não condicionado à mediação das lideranças religiosas.
Os diversos momentos em que o proprietário sai em busca de trabalhadores para a vinha demonstram que o Reino é inclusivo: todas as pessoas são chamadas a fazer parte dele. Ao contrário das religiões que segregam e excluem, classificando as pessoas entre justas e pecadoras, afirmando muitas vezes que a verdade, se encontra apenas no meio deles, Não foi isso que Jesus disse ao afirmar que onde houver dois ou três reunidos em meu nome, lá estarei eu no meio deles. Jesus propõe um Reino acessível a todos, sem espírito de competição. É claro que essa proposta encontra resistência, pois nem todos conseguem assimilar a mentalidade que marca a passagem da religião do mérito para a gratuidade do amor.
A parábola mostra isso com a resistência dos primeiros trabalhadores contratados na hora do pagamento. Aqui, Jesus denuncia o espírito de competição predominante nas sociedades e adverte os discípulos para não reproduzirem tais práticas. A parábola funciona também como denúncia de Mateus à situação da sua comunidade, composta predominantemente de cristãos oriundos do judaísmo, que reivindicavam privilégios em relação aos cristãos convertidos do paganismo. Buscai primeiro as coisas de Deus, que as demais lhe serão acrescentadas.
Aqueles homens estavam dispostos a trabalhar mas ”ninguém os contratou”; eles eram trabalhadores, mas ociosos por falta de trabalho e de patrão. Em seguida, uma pessoa contratou-os, e no seu zelo, não combinaram antecipadamente qual o preço do seu trabalho, como os fez com os primeiros. O patrão avaliou os seus trabalhos com sabedoria e pagou-lhes tanto como aos outros. Nosso Senhor contou esta parábola para que ninguém dissesse: “Uma vez que não fui chamado na juventude, não posso ser recebido”. Ensinou que, seja qual for o momento da sua conversão, todos os homens são acolhidos… “Ele saiu pela manhã, às nove horas, ao meio dia, às três da tarde e às cinco da tarde»: pode-se compreender isso desde o início da sua pregação, ao longo da sua vida até à cruz, porque foi “à hora undécima» que o ladrão entrou no Paraíso. Para que não se incrimine o ladrão, nosso Senhor afirma a sua boa vontade; se tivesse sido contratado, teria trabalhado: “Ninguém nos contratou”. O que damos a Deus é bem digno dele e o que ele nos dá é bem superior ao que merecemos. Contratam-nos para um trabalho proporcional às nossas forças, mas propõem-nos um salário superior ao que o nosso trabalho merece… Ele age do mesmo modo para com os primeiros e para com os últimos; “recebeu cada um uma moeda de igual valor» .
Tudo isso significa o pão da vida que é o mesmo para todos os homens; único é o remédio de vida para aqueles que o tomam. No trabalho da vinha, não se pode acusar o patrão pela sua bondade, e não se encontra nada a dizer acerca da sua retidão. Na sua retidão, ele deu como havia combinado, e mostrou-se misericordioso como quis. É para ensinar isto que nosso Senhor disse esta parábola, e resumiu tudo isto em sua palavras: “Não me é permitido fazer o que quero na minha casa?”.
O pagamento igual para todos os trabalhadores é demonstração de que, de fato, os pensamentos de Deus não são como nossos pensamentos, como ensina a primeira leitura. Deus tem o direito de fazer o que quiser com seu amor e sua misericórdia; e ele é bom para todos, indistintamente. A frase proverbial conclusiva mostra a reviravolta na história que o advento do Reino propõe. Longe de ser uma exclusão dos primeiros, é uma forma enfática de afirmar que os últimos são acolhidos sem nenhuma discriminação. Só é possível acolher essa novidade por meio da conversão, acolha.
Direto da Redação – imagens e edição de Vinícius Domingos
Telefone para contatos e doações
(35) 9 2000 – 1955 (Neilo) (035) 9 99060133 (Simeão)
DEIXE SEU COMENTÁRIO | Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site.