Na celebração deste domingo do Tempo Comum o Reverendo Frei Antônio Vasconcelos da Fraternidade Anglicana dos Filhos de Assis em sua homilia fala sobre O evangelho deste domingo, sobre a legitimidade do tributo a pagar a César, que contém a conhecida resposta de Jesus: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Com efeito, os interlocutores de Jesus, discípulos dos fariseus e herodianos, fizeram-lhe uma pergunta: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências. Dize-nos, pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?”
Esta questão apresentada a Jesus é muito delicada e nos leva a uma reflexão. Diz respeito à obrigação de pagar os tributos ao imperador de Roma. As províncias romanas pagavam o tributo, quantia estipulada por Roma e que todos os habitantes do Império, com exceção das crianças e dos velhos, deviam pagar-lhes.
A Palestina do tempo de Jesus estava sob o domínio do Império Romano. E a moeda que circulava era a moeda romana, na qual havia a imagem do Imperador, onde ele era qualificado não só como “Augusto” e “Pontífice Máximo”, mas também como “deus”: “Divius”. Isso era intolerável para os judeus de consciência reta.
Em outras palavras, a pergunta que fazem para Jesus é, portanto, esta: é lícito pactuar com esse sistema de injustiça? Os partidários de Herodes e os saduceus, a alta aristocracia sacerdotal, estavam perfeitamente de acordo com o tributo, pois aceitavam naturalmente a sujeição a Roma. Os movimentos revolucionários, no entanto, estavam frontalmente contra, pois, consideravam o Imperador um usurpador do poder. Os fariseus, embora não aceitando o tributo, tinham uma posição intermédia e não propunham uma solução violenta para a questão.
Mas, Jesus é sincero e honesto em sua palavras e ensina o caminho de Deus segundo a verdade, sem se preocupar com ninguém. Ele mesmo é aquele caminho de Deus, que nós somos chamados a percorrer. Se Jesus viesse a pronunciar a favor do pagamento do tributo, seria acusado de colaboracionismo e de defender a usurpação pelos romanos do poder que pertencia a Deus; se Jesus se pronunciasse contra o pagamento do imposto, seria acusado de revolucionário, inimigo da ordem romana, estaria contra o poder de Roma e a política daquele tempo.
No entanto, Jesus não se deixou amarrar por nenhum dos lados da questão polêmica, fundada em situações políticas, pequenas diante da grandeza do Reino de Deus. Jesus pediu aos seus interlocutores que lhe mostrassem uma das moedas do imposto. Eles apresentaram a Jesus a moeda de um denário. Justamente onde estava a efígie do Imperador com seus títulos de honra. “De quem é esta imagem e esta inscrição que aqui está?” Perguntou-lhes Jesus. E responderam: “De César”. Por isto, declarou Jesus: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,19-21).
Com esta informação, certamente, Jesus quis sugerir que o homem não pode nem deve eximir-se das suas obrigações para com a sociedade em que está integrado. Em qualquer circunstância, ele deve ser um cidadão exemplar e contribuir para o bem comum. A isso, chama-se “dar a César o que é de César”. No entanto, o mais importante é que o homem reconheça a Deus como o seu único Senhor. As moedas romanas têm a imagem de César – que sejam dadas a César.
O homem, no entanto, não tem em si a imagem de César, mas a imagem de Deus. Podemos ler as palavras de Deus no livro do Gênesis: “Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança…” (Gn 1,26-27). Portanto, o homem pertence somente a Deus, deve entregar-se a Ele e reconhecê-lo como o seu único Senhor. Jesus vai muito além da questão que lhe puseram. Na abordagem de Jesus, a questão deixa de ser uma simples discussão acerca do pagamento ou do não de um imposto, para se tornar um apelo a que o homem reconheça Deus como o seu Senhor e realize a sua vocação essencial de entrega a Deus, uma vez que ele foi criado por Deus, pertence a Deus e transporta consigo a imagem do seu Senhor e seu Criador.
São Paulo irá lembrar sobre os deveres dos cristãos perante os poderes públicos e irá dizer explicitamente: “Pague-se o imposto a quem se deve o imposto” (Rm 13,7). A primeira leitura, tirada do Livro de Isaías, diz-nos que Deus é um só, é único; não existem outros deuses fora do Senhor (cf. Is 45,1.4-6). Isso nos apresenta o sentido teológico da história: o suceder-se das grandes potências encontram-se sob o domínio supremo de Deus; nenhum poder terreno pode colocar-se no seu lugar. O homem nunca pode deixar Deus de lado. Por isto cada homem é chamado a uma relação pessoal com o nosso Criador.
Também a segunda leitura retirada da primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses (cf. 1Ts 1,1-5), lembra- nos, antes de tudo, que sempre somos chamados a dar Graças a Deus. E o próprio anúncio de evangelização deve ser precedido, acompanhado e seguido pela oração. Com efeito, escreve o apóstolo: “Damos graças a Deus por todos vós, lembrando-nos sem cessar de vós nas nossas orações” (v. 2).
Neste sentido, o “dar a Deus o que é de Deus”, significa abrir-se à sua vontade e dedicar a ele toda a nossa vida, cooperando para o seu Reino de misericórdia, amor e paz. Devemos também ter consciência de que só Deus é o Senhor do homem, e não há outro e que assim seja.
Direto da Redação com imagens e edição de Vinicius Domingos
Padre auxiliar: Frei José Neilo Machado
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