Muitos cristãos sentem-se censurados pelo fato de usarem imagens de Jesus Cristo, da Virgem Maria ou dos santos, nos cultos como em suas devoções particulares. Dizem que está proibido na Bíblia pela Lei de Deus. É verdade ou não? Narra o livro do Êxodo que Deus entregou a Moisés os dez Mandamentos e todos conhecemos o segundo mandamento que diz:
“Não farás para ti ídolos, nem figura alguma do que existe em cima, nos céus, nem embaixo, na terra, nem do que existe nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles, nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento…” (Êx 20,4-5).
Então é verdade? Vamos ver…
O Livro de Levítico, o terceiro livro da Bíblia, ordena que não se faça ídolos, imagens, nem pedras esculpidas para ajoelhar-se diante delas. O Livro de Deuteronômio diz: “Guardai vos bem de corromper-vos, fazendo figuras de ídolos de qualquer tipo, imagens de homem ou de mulher, ou imagens de animais que vivem na terra ou de aves que voam debaixo do céu, ou de animais que rastejam sobre a terra ou de qualquer espécie de peixes que vivem na água, debaixo da terra” .
Isto era tão grave que se penalizava com uma maldição: “Maldito seja o homem que fizer escultura ou imagem fundida, abominações para o Senhor…”. Como se vê, está proibida pela Lei de Deus toda representação vegetal, animal ou humana, no culto. Seguindo este preceito, muitas igrejas cristãs rejeitam atualmente as imagens em seus cultos e criticam quem as empregam.
No entanto, a própria Bíblia Sagrada em alguns casos Deus mesmo ordenou a construção de imagens sagradas. Por exemplo, durante a travessia do deserto, quando Javé mandou fabricar a arca da aliança, cofre sagrado onde se guardavam as tábuas da Lei, ordenou que em cada lado se pusesse a imagem de ouro de um querubim, ser angélico com traços metade animais e metade humanos. Por sua parte, o candelabro de sete braços que foi colocado no interior da Tenda Sagrada, tinha gravadas flores de amendoeira.
Gedeão, por exemplo, um dos mais importantes juízes de Israel, fabricou, com anéis e outros objetos de ouro, um manto sacerdotal, a quem os israelitas prestavam culto. E Micas, um fervoroso e piedoso javista, fez uma efígie de prata de Javé e estabeleceu um santuário para prestar-lhe culto. Até o próprio rei Davi, amado e abençoado por Deus, tinha, em sua casa, estátuas.
O majestoso templo de Jerusalém, construído por Salomão, estava abarrotado de representações e esculturas. O interior estava totalmente decorado com imagens de querubins, além de outros vegetais. E para sustentar o enorme depósito de água na entrada do templo para as purificações, construíram doze magníficos touros de metal que estavam voltados para os quatro pontos cardeais.
Moisés também levou por ordem do próprio Deus, uma enorme serpente de bronze, no deserto: todos os que, se picados por ofídios, olhassem para ela, eram curados. Esta serpente esteve exposta no templo durante duzentos anos, até que o rei Ezequias a eliminou.
Embora a Bíblia não diga, podemos conjeturar o motivo da proibição das imagens, graças aos nossos conhecimentos do ambiente religioso antigo. Todos os povos que estavam em contato com Israel consideravam a imagem não só como símbolo da divindade, mas também como habitação da própria divindade, ou seja, a própria divindade a habitava de fato. Ela era, de certa forma, o mesmo deus representado.
Quando alguém fazia uma imagem, o deus deveria vir residir nela, já que toda imagem realizava uma epiclesis, isto é, um apelo a que Deus viesse habitá-la. Por isso a Bíblia conta que quando Raquel, esposa de Jacó, rouba os ídolos de seu pai Labão, ele se queixa que roubaram seus deuses e não suas imagens. Compreende-se, então, como era fácil cair num conceito mágico de divindade.
São Paulo, que vivera durante algum tempo cumprindo a lei antiga, compreendeu muito bem a nova disposição ao falar de “Cristo, a imagem de Deus”. E num belo hino canta que Cristo é a imagem do Deus invisível. Falando, um dia, com o apóstolo Felipe, Jesus já o antecipara: “Quem me viu a mim, viu o Pai”.
Como se vê, o mandamento sobre as imagens no Antigo Testamento tinha uma função pedagógica. As imagens de Cristo e o representar cenas de sua vida, ajudavam o povo a se aproximar de Deus. Os cemitérios, as igrejas e os templos povoaram-se delas pelo valor psicológico que ostentavam como suporte para a oração, ou seja, é apenas arte sacra, nada mais, embora saibamos que há exageros de clérigos e fiéis.
Os chamados de protestantes, quando se separaram da Igreja Católica, no século XVI, reagiram contra os excessos no culto das imagens e provocaram a destruição de muitas delas. No entanto, Martinho Lutero, o iniciador desse movimento, não foi tão intolerante. Ao contrário, reconheceu a importância que elas tinham.
Numa carta datada de 1528, escrevia: “Penso que no que diz respeito às imagens, símbolos e vestes litúrgicas… e coisas semelhantes, deixe-se à livre escolha. Quem não quiser, deixe-as de lado. Se bem que as imagens inspiradas na Bíblia ou em histórias edificantes, parecem me serem muito úteis”. E em outra passagem afirmava que as imagens eram “o evangelho dos pobres”.
Se quiséssemos aplicar hoje ao pé da letra este segundo mandamento, não poderíamos nem sequer ligar um televisor, ou usar tanto o aparelho celular, porque estaríamos fazendo imagens segundo as técnicas modernas. Embora tenhamos de evitar a superstição e os erros no uso das imagens, seja ela de que jeito for, nunca poderemos, no entanto, tomar como base a Bíblia para proibi-las. Houve sim, uma proibição para um certo povo e para uma determinada época. No entanto segue a máxima de que “devemos adorar somente a Deus e nada mais”.
A única imagem que devemos construir para adorar é a de Cristo como nos diz São Paulo: “Os que de antemão conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito de muitos irmãos”.
No entanto, meu irmão e minha irmã, fica a dica, as imagens seja de quem for, são apenas representações, arte sacra. Eu me recuso a aceitar o termo que usam por aí para explicar a questão das imagens: “é uma fotografia”. Não! Não é uma fotografia, pois não sabemos de fato como os foram a não ser santos mais atuais. Voltando e reafirmando; é apenas uma representação. Não contém Deus, não é Deus. Caiu, quebrou, enferrujou, pode descartar sem nenhum perigo de maldição para sua vida. “Dó pó veio e ao pó voltará”. Não polua encruzilhadas com imagens quebradas, jogue as fora. Se você se nega a fazê-lo, há um forte indício que passou de arte sacra para idolatria, o que realmente seria um grave erro.
Um grande abraço a todos.
Por Reverendo Ismael Hultado – Produção independente – Editado pela TVJC
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