O Reverendo Ismael Hultado no programa de hoje nos fala que existe no planeta uma grande quantidade de nomes e de sobrenomes de pessoas com as quais alguém poderá entrar em contato, por telefone, e-mail whatssap. Mas só é possível fazê-lo, se conhecermos o nome correto da pessoa.
No mundo antigo acontecia o mesmo com os deuses. O panteão, conjunto de divindades que cada povo tinha e venerava, era tão numeroso que era impossível honrá-lo devidamente, se não se soubesse seu nome. Errar o nome era arriscar-se a perder os favores do céu.
Portanto, em cada língua existia a palavra “deus”, que servia para aplicá-la a todos, em geral. Mas, por sua parte, cada divindade tinha seu nome próprio. Exemplo: An para os Sumérios, Shamash para os Babilônicos e Amon para os Egípcios.
O povo de Israel era diferente, admitia um só e o adoravam com exclusividade: Javé. A fonética desta palavra ocasionou um certo problema. De fato, enquanto muitos sustentavam que esta era a forma correta de pronunciá-la, outros pensavam erroneamente que seria Jeová.
Qual a origem deste erro?
Para descobri-lo devemos ir até o livro do Êxodo. No episódio onde Deus aparece a Moisés numa sarça em chamas e manifesta sua vontade de tirar os hebreus do país dos faraós, Moisés quis saber o nome particular desse Deus. Deus disse a Moisés: “Eu sou aquele que sou e assim responderás aos israelitas: Este é o meu nome para sempre, e assim serei lembrado de geração em geração”.
Os eruditos quiseram destrinchar o sentido dessa resposta enigmática. Sabemos que provém do verbo hebraico hawah, que significa “ser” e por isso o nome de Javé normalmente se traduz por “aquele que é”. Mas, “aquele que é” o quê? O que é impronunciável, o que é criador, o que é sempre, o que é por si mesmo, o que é atuante…
No Monte Sinai, contudo, começou outro problema: o de pronunciar este nome. Um dos dez mandamentos era: “Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não deixará impune quem pronunciar seu nome em vão”.
Mas o povo queria saber o que significa “tomar o nome de Deus em vão” e Moisés morreu e não explicou. Aparentemente não era problema, mas quando os cativos voltaram da Babilônia resolveram a se preocupar mais com a observância da lei. E aí voltou a dificuldade. Então para não cometer erros resolveram nunca pronunciar o nome sagrado de Javé. Quando aparecia no texto da Escritura o leitor deveria substituir por Adonai (meu Senhor em hebraico). E criou-se o costume de evitar falar o nome de Deus composto por quatro letras: YHVH.
O nome de Deus escrito com quatro letras: YHVH.
Como sabemos, a língua hebraica tem uma curiosa particularidade: suas palavras só se escrevem com consoantes, sem vogais. Porque? Talvez este costume provenha de uma necessidade muito sentida na antigüidade: a de economizar o material de escrita. Assim se escrevia todas as palavras juntas, sem separação, e sem as vogais. Quem lia as consoantes podia acrescentar por conta própria, já que a língua era conhecida.
Por esta razão, a todos os livros do Antigo Testamento escritos em hebraico foram redigidos sem vogais. Podemos então imaginar, com o passar do tempo, às vezes,variando as vogais, até se mudava o significado do vocábulo. Assim, com o passar dos séculos, o texto hebraico da Bíblia se foi tornando cada vez mais difícil de se ler, de se entender e de mantê-lo único.
A confusão, durou mil anos, até que no século VII tornou-se insustentável. Embora as comunidades tivessem o mesmo texto hebraico, circulavam, no entanto, diferentes leituras em cada região, de acordo com a pausa que se fazia na frase, ou as vogais que, para melhor ou pior, o leitor acrescentava oralmente ou os erros que esta leitura gerava nas sucessivas redações.
Diferentes textos da Bíblia
Na escola rabínica da cidade de Tiberíades, ao norte de Israel, um grupo de mestres, chamados “massoretas” decidiram fixar, de uma vez por todas, a pronúncia exata do texto sagrado, e fizeram algo de insólito para a língua hebraica: inventaram um sistema de vogais que consistia em traços e pontos colocados acima e abaixo das consoantes.
Mas enquanto vocalizavam os manuscritos, quando chegaram ao tetragrama sagrado YHVH, encontraram um grave inconveniente: depois de séculos sem pronunciá-lo, ninguém se lembrava mais quais eram as verdadeiras vogais que lhe correspondiam. Então, puseram abaixo as vogais correspondentes à palavra Adonai (a-o-a) que era lida em seu lugar. Devemos esclarecer que o “i” final de Adonai é consoante e não vogal em hebraico. Por isso ela não foi levada em conta.
Não obstante esta nova vocalização, o nome YHVH continuava sendo substituído por “Adonai” na leitura. A partir do século XIV começou-se a ler o nome sagrado YHVH com as vogais que os massoretas tinham colocado abaixo, ou seja, “e-o-a”, o que resultou YeHoVaH, nosso Jeová atual, mescla híbrida das consoantes da palavra Yahveh com as vogais de Adonai, e que não significa absolutamente nada.
Este erro, no qual caíram os judeus medievais, propagou- se por todo o mundo cristão até o presente século. Ao chegar, porém, o século XX, os modernos estudos bíblicos puderam perceber este erro. Muitas são as provas que os especialistas podem trazer para mostrar que Jeová é uma pronúncia equivocada e que as vogais corretas são “ae”, ou seja, deve-se dizer YaHVeH (Javé).
Certeza do nome nós o temos em alguns escritores antigos, como Clemente de Alexandria, no século IV, que transcrevem este nome em grego, como Iaué. Inclusive conserva-se um texto de um autor do século V, chamado Teodoreto de Ciro, que ao comentar o livro do Êxodo escreve o sagrado nome de Iabé.
No começo deste artigo sobre o nome de Deus, dizíamos que era um problema pequeno. É que, na realidade, a Deus pouco importa que pronunciemos seu nome de uma ou de outra forma, ou que o chamemos de Altíssimo, Todo-Poderoso, Eterno ou Senhor. O que mais lhe importa não é a palavra que está nos lábios, mas a fé e o amor que demonstramos em nossas obras.
Se perguntássemos a Deus como ele gostaria que o chamássemos, com certeza nos diria, com as palavras de Jesus: “Vós, quando orardes, dizei assim: Pai nosso, que estais no céu…”.
Direto da Redação – Por Reverendo Ismael Hultado
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