No texto do evangelho deste domingo, vamos meditar o último diálogo de Jesus com os discípulos. Foi um reencontro celebrativo, marcado pela ternura e pelo carinho. No fim, Jesus chamou Pedro e perguntou-lhe três vezes: “Você me ama?” Só depois de ter recebido, por três vezes a mesma resposta afirmativa é que Jesus deu a Pedro a missão de tomar conta das ovelhas. Para poder trabalhar na comunidade, Jesus não pergunta se sabemos muito. O que ele pede é que tenhamos muito amor!
Duas coisas chamam a atenção. A primeira é que os discípulos passaram a noite toda pescando e não apanharam nada. Isto significa que o começo do anúncio da Boa Nova, logo depois da morte e ressurreição de Jesus, não foi fácil. Muito trabalho e pouco resultado! Pouco peixe na rede. Mas eles continuaram tentando. Não desanimam. perseveraram.
A segunda é que eles ainda não se dispersaram e continuam unidos, apesar das dificuldades. Estão quase todos aí, são “sete”. Pedro, na frente, que toma a iniciativa. Junto dele Tomé, Natanael, Tiago e João, mais dois outros, cujos nomes não são revelados, e o discípulo a quem Jesus amava.
De manhã cedo, quando vêm voltando da pescaria frustrada, Jesus está na praia, mas eles não o reconhecem. Depois de ter constatado que não tinham pescado nada, Jesus manda lançar novamente a rede. Lançaram, e ela ficou tão cheia de peixes, que não deram conta de puxá-la. É a palavra de Jesus que faz crescer a comunidade! É a mesma abundância que já notamos quando Jesus mudou água em vinho, sinal do amor de Deus, e quando partilhou os pães no monte.
Vendo o resultado da pesca, o Discípulo Amado disse a Pedro: “É o Senhor!” O amor é capaz de reconhecer a presença de Jesus nas coisas que acontecem na vida. Ouvindo isso, Pedro, que estava nu, colocou uma roupa no corpo e pulou na água. Como diz a Carta aos Hebreus: diante de Jesus, a Palavra de Deus, “não há criatura oculta à sua presença, mas tudo está nu e descoberto” (Hebreus 4,13). Descobrindo Jesus, Pedro se reencontra consigo mesmo. Ele se refaz (coloca a roupa) e se torna capaz de enfrentar o mar. Estavam perto da margem. Os outros vêm atrás do barco, arrastando a rede cheia de peixes.
Chegando à praia, descobrem que Jesus já tinha preparado uma refeição com pão e peixe assado nas brasas. Jesus manda trazer mais uns peixes dos que foram apanhados na rede. Pedro sobe no barco e arrasta a rede para a terra. Fazendo as contas, eram “153” peixes grandes, e, “apesar de serem tantos, a rede não se rompeu”.
Tudo isto tem um valor simbólico muito grande. A rede simboliza as comunidades. É Pedro que arrasta a rede, mas é o Discípulo Amado que reconhece Jesus. Alguns acham que tudo isto se refere a um fato que aconteceu no fim do século I. Diante das perseguições cada vez mais fortes contra os cristãos, as comunidades do Discípulo Amado uniram-se às outras comunidades coordenadas pelos outros apóstolos. E aí todos juntos fizeram uma grande celebração da unidade, em cujo centro estava o próprio Senhor Jesus, preparando a Ceia.
Terminada a refeição, Jesus chama Pedro e pergunta-lhe três vezes: “Pedro Você me ama?” Três vezes, porque foi três vezes que Pedro negou Jesus. Depois de três respostas afirmativas, Pedro recebe a missão de tomar conta das ovelhas. Jesus não perguntou se Pedro tinha estudado exegese, teologia, moral ou direito canônico. Só perguntou: “Você me ama?” Foi nessa hora que Pedro se tornou também “Discípulo Amado”. O amor em primeiro lugar. Para as comunidades do Discípulo Amado, o que sustenta o primado e mantém as comunidades unidades não é a doutrina, mas sim o amor que deve existir entre o povo de Deus e entre seus semelhantes, aqueles que propagam o seu evangelho.
Com voz suave, mas firme, Jesus pergunta a Simão Pedro: “Pedro, filho de Jonas, tu me amas”? Ao que lhe respondeu o discípulo empolgado: “Sim Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus então pediu-lhe: “Apascenta os meus cordeiros”! Depois de breve pausa, Jesus repete mais duas vezes a mesma a pergunta: Pedro se entristece por imaginar que Jesus colocava alguma dúvida sobre seu sentimento para com ele, e ainda outra vez reafirma: “Sim, Senhor, Tu que tudo conheces sabes o quanto eu Te amo!” E repetindo enfático, o meigo Rabi lhe fala: “Apascenta as minhas ovelhas!” (João, 21:17).
Apascentar, no sentido evangélico pode ser entendido como o ato de estimular o sentimento que nos favorece a compreensão dos nossos laços fraternos e a humildade sincera no trato com os diferentes em seu momento evolutivo e, por isso mesmo, semear o bem sem aguardar recompensa.
Aos aprendizes menos avisados é estranho que Jesus houvesse indagado do discípulo por três vezes quanto à segurança do seu amor. O próprio Simão Pedro, ouvindo a interrogação repetida, entristecera-se supondo que o Mestre suspeitasse de seus sentimentos mais íntimos. No entanto, o ensinamento é mais profundo: Jesus confiava a Pedro o ministério da cooperação nos serviços redentores. Tinha a plena consciência do carinho que Pedro e os discípulos Lhe devotavam, mas sabia também que na gloriosa caminhada de divulgação do Evangelho, haveriam de enfrentar problemas e dificuldades, lutas e perseguições, e, para que tivessem sucesso, seria fundamental o amor pela causa, pois, somente assim, teriam ânimo para perseverarem.
Essa passagem foi fundamental para Simão Pedro. E, se foi para ele, também o foi para o Cristianismo. O pescador de Cafarnaum contribuiria, portanto, para a elevação de seus protegidos do mundo, como os infelizes, os pobres pelo espírito e deserdados, os moralmente decaídos ainda que tivessem posses materiais, alcançando assim valores novos para a vida imortal. A partir daí, Simão Pedro passaria a apóstolo e não mais seria o discípulo, o aprendiz. É por este motivo que, ao interrogá-lo por três vezes, Jesus deixa claro que com amor as dificuldades seriam resolvidas.
É necessário, em qualquer tarefa que nos propusermos a fazer, que a realizemos não por obrigação ou interesse, mas simplesmente por amor ao próximo, atendendo aos imperativos do serviço divino que se localiza em nossa paisagem individual. Não pelo constrangimento, mas pela vontade firme e espontânea, fugindo cada vez mais dos nossos interesses particulares e, de ânimo forte, e prontos para servir ao bem tanto quanto nos seja possível.
Precisamos reconhecer que as nossas conquistas e indagações nem sempre são louváveis, pois o que importa a Deus é a nossa intenção na transformação de nossa forma de enxergar a vida e a nós mesmos através do nosso esforço.
Assim como o Apóstolo Pedro, que cumpriu a tarefa que lhe cabia de conduzir, iluminar, consolar e levar o refrigério, a esperança e a alegria ao coração dos irmãos em humanidade sob a bênção de Jesus, saindo da inércia para o trabalho incessante da nossa redenção,
Permaneçamos com Jesus, conduzidos por Suas mãos compassivas, sempre dispostos a colaborar uns com os outros com Ele apascentando suas ovelhas, doando muito amor no trabalho do bem, em favor daqueles que nos rodeiam, mantendo-nos firme nos compromissos com que a vida nos honra, amando-nos uns aos outros cumprindo o papel da humanidade e da caridade constantes em nossas relações para que Jesus tenha certeza do nosso amor por Ele.
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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