A data de hoje, 6 de agosto é muito especial para Pouso Alegre/ Sul de Minas, onde seus filhos contemplam a face de Jesus pela insigne veneração ao Padroeiro da cidade. Relembre um pouco da história deste dia que se tornou feriado no município.
Um pouco de história
Em 1848, um fato auspicioso veio reanimar a população: a elevação de Pouso Alegre à categoria de cidade pela Lei Provincial nº 433, de 19 de outubro de 1848.
Dois empreendimentos importantes receberam o impulso desse acontecimento: a fundação da Santa Casa da Misericórdia nesse mesmo ano, em prédio doado pelo cel. José Antônio de Freitas Lisboa e situado no Largo do Rosário, e o início da construção da nova Matriz, em fins de 1849 ou início de 1850, atrás da antiga igreja que se encontrava em ruínas, sendo a construção dirigida pelo cel. José Garcia Machado, que empregou todos os seus esforços para realizar aquela tarefa, recebendo, por isso, uma comenda do Papa. A nova Matriz foi concluída em 1857.
Paroquiou a Matriz, de 1853 a 1882, o padre Barnabé José Teixeira de Andrade. Esse longo paroquiato não foi muito fecundo, sendo a assistência religiosa bastante descuidada, gerando com isso a indiferença dos fiéis, limitando-se o vigário a cumprir apenas suas obrigações paroquiais, sem dar maior assistência religiosa ao seu rebanho.
Falecendo o padre Barnabé, assumiu a paróquia o conego Vicente de Mello César. Graças aos esforços do novo pároco houve, então, um florescimento religioso, tendo o cônego Vicente incentivado o renascimento da fé entre o povo, dando ênfase às festas religiosas, à Semana Santa, ao Mês de Maria, etc. O cônego Vicente paroquiou Pouso Alegre de 1882 a 1895, quando faleceu, rodeado da estima e veneração dos seus paroquianos.
A Capela do Mandu
Na segunda metade do século 19, Pouso Alegre já começava a apresentar um certo progresso. Cerca de 50 anos após a fundação, o povoado prosperara, crescendo sempre o número de seus habitantes, a assistência religiosa era feita na Freguesia de Santana do Sapucaí, distante seis léguas, a cuja paróquia pertenciam. Por isso, começou a tomar vulto a idéia de se pedir ao bispo de São Paulo a construção de uma capela no povoado. Havendo necessidade de um patrimônio para a edificação da capela, as terras foram doadas por Antônio José Machado, doação feita por escritura de mão, e confirmada em 29 de agosto de 1796 por escritura pública, passada por seu filho, Manoel José Machado e sua mulher, que as havia herdado de seu falecido pai, perante o tabelião Salvador Correia Leme, em Lorena.
A construção da capela foi iniciada em julho de 1797 e concluída em 6 de agosto de 1799, quando foi rezada a primeira missa pelo padre José de Mello, substituto do vigário de Santana do Sapucaí, que passou a ser o seu capelão.
A capela foi edificada à custa dos moradores, nas proximidades da fazenda pertencente a Antônio de Araújo Lobato, cuja localização coincide com o centro da Praça Senador José Bento, no jardim praça, consagrada ao Senhor Bom Jesus dos Mártires ou do Matozinho. Da sua criação em diante, o povoado passou a ser conhecido, também, como Capela do Mandu.
A inauguração da capela com a celebração regular de atos religiosos pelo capelão, padre José de Mello, vieram trazer nova animação ao povoado do Mandu, que foi aos poucos adotando a denominação de Pouso Alegre.
De construção modesta e sem nenhuma arquitetura, a capela era feita de adobos e coberta com folhas de palmeira entrelaçadas, e não era, certamente, pequena, pois serviu de matriz, mais tarde, até 1849.
Em torno dessa capela desenvolveu-se o povoado, que crescendo de forma acentuada, tornou difícil a assistência religiosa por parte de um padre que nele não tivesse residência permanente. Por isso, a partir de 1805, os moradores passaram a pleitear do bispo de São Paulo, dom Mateus, a criação de uma nova paróquia, desmembrada de Santana do Sapucaí. Provavelmente, esta justa reivindicação foi patrocinada por José Bento Leite Ferreira de Mello, que em São Paulo se preparava para o sacerdócio e gozava das boas graças do prelado diocesano.
O certo é que só oito anos depois de inaugurada, a Capela do Senhor Bom Jesus foi elevada à categoria de paróquia, pelo Alvará Régio de 6 de novembro de 1810, de dom João VI, príncipe Regente de Portugal. Em 1811, o arraial de Pouso Alegre contava com cerca de cinquenta casas bem construídas.
O primeiro Bispo
Em 19 de julho de 1901, chegava festivamente a Pouso Alegre, vindo de Campinas, Dom João Baptista Corrêa Nery, que tornou posse da diocese no dia 21, entre grandes manifestações de júbilo.
Dom Nery vinha transferido da Diocese do Espírito Santo, da qual fora o primeiro bispo e seu organizador. Por motivo de saúde, devido à inclemência do clima de Vitória, fora obrigado a renunciar ao cargo, aceitando a sua transferência para a nova diocese de Pouso Alegre.
Dotado de um tino administrativo invejável e afeito ao trabalho de organização, Dom Nery em pouco tempo estruturou a Diocese, tomando as medidas administrativas que se impunham e organizando suas repartições eclesiásticas, ficando assim tudo disposto para o seu funcionamento. A atuação do bispo diocesano foi das mais profícuas, trazendo novo alento e um surto de progresso para Pouso Alegre.
Decorridos 8 anos de seu episcopado, Dom Nery foi tranferido para Campinas, sua terra natal, em 30 de outubro de 1908, sendo substituído por Dom Antônio Augusto de Assis, que foi auxiliar valioso de Dom Nery, sendo eleito Bispo Diocesano de Pouso Alegre, em 29 de abril de 1902, tomando posse em 17 de novembro do mesmo ano.
Para coroar uma série de realizações, durante o seu episcopado de 43 anos, Dom Otávio se propôs a construir uma nova Catedral, tendo em vista a necessidade de uma reforma urgente da antiga. Optou-se pela construção de uma nova igreja, dada a vultosa quantia necessária para os reparos, sendo mais prática e interessante uma nova construção.
No dia 28 de setembro de 1947, sob a presidência do Bispo Diocesano, reuniu-se a comissão de obras da nova Catedral, ficando resolvido dar-se início à construção e adotar a antiga planta do professor Sachetti, com simplificações. Em novembro de 1947 teve início a demolição da parte da frente da antiga Catedral, tão cheia de histórias e tradição, que durante 90 anos serviu os fiéis pousoalegrenses.
Em 6 de maio de 1948, Dom Otávio benzeu a primeira pedra da nova Catedral e no dia 4 de agosto de 1949 foi inaugurada a primeira parte da nova Catedral, correspondendo mais ou menos à metade de todo o templo, podendo acomodar cerca de 1.200 pessoas. Foi inaugurada, ainda sem o revestimento externo, em.1954, por ocasião do jubileu de ouro da ordenação sacerdotal de Dom Otávio.
Imagem roubada ou vontade divina?
Uma narrativa pitoresca refere-se à imagem do Senhor Bom Jesus dos Mártires, ou do Matozinho, que se encontra no altar-mor da Catedral, e em torno da qual giram várias versões quanto a sua procedência. Porém, ninguém jamais pôde afirmar, com certeza, como se instalou na primitiva Capela do Mandu, passando depois para a velha Catedral, já demolida e depois reconstruída chegar até nossos dias.
Quando da primeira petição dirigida ao prelado de São Paulo, Dom Manoel da Ressurreição, em 1792, pedindo a ereção de uma capela no povoado, a imagem já se achava sob a guarda de Ângelo Gomes Moreira, o zelador da imagem, a qual teria sido obtida do vigário de Santana do Sapucaí (hoje Silvianópolis) para a futura capela.
Conta a tradição que essa imagem fora levada por empréstimo para a Capela do Mandu pelo pároco, Padre José de Mello, para facilitar o culto e a assistência religiosa dos fiéis do Arraial de Pouso Alegre. Depois de algum tempo, o povo de Santana do Sapucaí, inconformado com a demora da permanência da imagem em Pouso Alegre, reclamou-a de volta.
Entretanto, o povo do Arraial, que já havia entronizado a imagem de Cristo crucificado como patrono da Capela do Mandu, recusou-se a devolvê-la. O povo de Santana, revoltado com a recusa resolveu, então, resgatar a imagem a qualquer preço, alegando ter sido ela roubada do altar de sua igreja.
Para esse fim organizou-se um exaltado grupo de pessoas, ou um bando como se dizia, com o intuito de arrecadar a imagem, o qual se dirigiu para o Arraial do Mandu disposto a tudo. O povo do Mandu, avisado da aproximação dessa belicosa comitiva, e da sua intenção, saiu ao seu encontro, o qual se deu além do Morro das Cruzes, nas proximidades de um córrego que nasce na Serra do Cantagalo e que corre dali em direção ao Rio Sapucaí, conhecido em tempos idos por Ribeirão dos Macacos.
O combate entre os dois bandos foi violento. Municiados todos com bacamartes, garruchas e porretes, a luta se feriu às margens do riacho, que ficou tinto de sangue. Os santanenses, em desvantagem numérica e impossibilitados de prosseguir na luta, devido ao número de mortos e feridos, tiveram que se retirar sem conseguir o seu intento.
Desde então, o ribeirão e o próprio bairro passaram a se chamar Ribeirão das Mortes, permanecendo para sempre em Pouso Alegre a imagem do Senhor Bom Jesus dos Mártires.
Uma outra versão conta que a imagem fora levada, por empréstimo, de Santana para a Capela do Mandu. Demorando ali a imagem, o povo de Santana a reclamou. O povo do Arraial do Mandu, muito a contragosto, concordou em devolvê-la. Porém, ao tentarem removê-la para a sua igreja de origem, uma forte tempestade impediu o seu retorno. Por três vezes tentaram reconduzi-la, e todas as três vezes desabou uma terrível tempestade. Viu-se nessas coincidências o desígnio da Providência. Assim, a imagem do Senhor Bom Jesus permaneceu em Pouso Alegre, protegendo para sempre o burgo nascentem que hoje dia 6 de agosto reverenciamos com amor e muita dedicação… “Se non é vero, é bene trovato.
A Festa do padroeiro acontece hoje, dia 6 de agosto, feriado municipal em Pouso Alegre. Neste dia são celebradas seis missas (07h, 08h*, 09h, 10h30, 16h30 e 18h30). A missa das 18:30hs será presidida pelo arcebispo metropolitano Dom Majella. Em seguida terá procissão.
“Glorioso Senhor Bom Jesus Crucificado, Titular da Catedral e da cidade de Pouso Alegre derramai suas bênçãos sobre nosso povo, para que nossa Terra do Mandu continue prosperando e gerando frutos bons. Que o Senhor Bom Jesus Crucificado, Titular da cidade de Pouso Alegre ilumine os passos de seu povo. Assim seja. Amém!”
Direto da Redação com informações da História de Pouso Alegre
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