A liturgia de hoje mostra que Jesus e seus discípulos continuam em viagem à Jerusalém. As dificuldades de seguir o Mestre são muitas. É preciso tomar decisões e abandonar o que atrapalha no seguimento. Dentre tantas situações, o Evangelho de hoje, neste 25º Domingo do Tempo Comum, nos convida a refletir sobre o apego à riqueza. A parábola contada por Jesus visa duas qualidades, pelas quais se reconhece a bondade ou a maldade do homem: fidelidade e infidelidade.
Fidelidade é a constância, a firmeza e a lealdade com que agimos em todos os momentos da vida: na abastança como na pobreza, nas eminências dos palácios como na humildade das comunidades, na saúde como na enfermidade, e até na morte como no apogeu da vida. O Apóstolo Paulo, demonstrando sua lealdade, sua constância, sua fidelidade, sua firmeza de caráter, dizia: “Quem me separará do amor de Cristo?” A fidelidade é a pedra de toque com que se prova o grau do caráter dos homens.
É fiel nos seus deveres? Tem forçosamente todas as qualidades exigidas ao homem de
caráter?: reconhecimento? gratidão? indulgência? caridade? amor? Porque a verdadeira fidelidade não se manifesta com exceções ou preferências. Aquele que caminha para se aperfeiçoar em tudo, obedece à sentença de Jesus: “Sejam perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celestial”.
Pelo que se conclui: expondo a parábola, Jesus teve, por fim, exortar seus discípulos a se aplicarem nessa virtude, que se chama fidelidade, para que pudessem um dia representá-la condignamente, tal como se manifesta nos Céus. Como tudo na Natureza e como tudo o que se faz mister para a perfeição, quer no plano físico ou na esfera intelectual e moral, a fidelidade vai-se engrandecendo em nós à proporção que nela nos aperfeiçoamos
Não a adquirimos de uma só vez em sua plenitude, mas paulatinamente, gradativamente. E aquele que já a possui em certo grau, como o “administrador infiel” da parábola, faz jus à benevolência divina. Pelo estudo analítico da Parábola vemos que o administrador foi acusado por alguém, foi denunciado como esbanjador dos bens de seu patrão, pelo que este resolveu chamá-lo à ordem, perguntando-lhe:
“O que quer dizer esta denúncia que tive de você? Presta me conta da tua administração; pois dessa forma não podes mais continuar como meu empregado”.
Pela prestação de contas verificou-se não ter havido esbanjamento, mas sim facilidade em negócios, que prejudicaram o patrão. O prejuízo constava de vendas feitas sem dinheiro e sem documentos: cem barris de azeite e mil medidas de trigo. Tanto assim que, legalizadas as contas, com as letras correspondentes ao valor de cinquenta medidas de azeite e oitenta medidas de trigo”, “o amo elogiou o administrador desonesto, por haver procedido sabiamente.
E salientou a seus discípulos a boa tática comercial do empregado que não só garantia a empresa que lhe fora confiada, mas também constituía um bom meio de granjear amigos, disse-lhes: “Conquistem amigos com as riquezas deste mundo, para que, quando estas lhes faltarem, eles recebam vocês no Lar eterno”.
É o mesmo que dizer: colaborai, doem, as suas sobras, aos que têm necessidade e sejam também indulgentes para com os pecadores, não lhes imputando o mal que fazem; mas antes, ao que deve cem medidas de mal, mandai-o escrever só cinquenta, e, ao que deve mil de erros cometidos, mandai os escrever oitenta; observai-os, que precisam trabalhar para resgatar essa dívida, pois da mesma forma que você os julga, também serás julgado.
Façam como fez o administrador infiel, assim chamado pelos seus acusadores, mas que, na verdade, procedeu sabiamente, “porque quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito”.
O que é nosso são os bens incorruptíveis, dos quais Jesus falou também a seus discípulos, para que os buscassem de preferência, porque “os vermes não os estragam, a ferrugem não as consome, os ladrões não os alcançam nem a morte os subtrai”.
Conclui-se de tudo o que acabamos de ler e transmitir é que o título de infiel, dado ao administrador, foi mal aplicado, torcendo por completo o sentido que Jesus deu à mesma parábola. A palavra divina, pode parecer falha quando há má interpretação, portanto é necessário recorrermos à capacidade de raciocínio superior de Jesus, para que possamos compreender sempre o sentido em espírito e verdade.
Nossa infidelidade consiste em utilizarmos desses recursos egoisticamente, como se fossem patrimônio nosso, dilapidando ao sabor de nossos caprichos, esquecidos de que não poderemos fugir à devida prestação de contas quando, pela morte, formos despedidos da mordomia que julgamos ter nesta vida.
Pois bem, já que abusamos do amor de Deus, lembrando de que somos simples administradores, tenhamos ao menos o questionamento de que fala a parábola neste domingo. Que fez ele?
Para ter quem o favorecesse, quando demitido do cargo que desempenhava, tratou de fazer amigos, reduzindo as contas dos devedores de seu amo. É o que Jesus nos aconselha fazer, quando diz: “usem as riquezas deste mundo para conseguir amigos” pois: De que adianta ganhar o mundo inteiro e arruinar-se a si mesmo!”
Se assim agirmos com prudência, ganharemos a amizade e a gratidão dos que nos cercam e das quais somos devedores, que se solidarizarão conosco quando deixarmos este mundo, bem assim a complacência do Pai celestial, porque muito lhe apraz ver-nos tratar o próximo com misericórdia, quando nos mandou amar uns aos outros.
Os seguidores de Jesus precisam ser honestos e criativos na administração do bem comum. O certo é que não podemos servir o Reino de Deus e ao mesmo tempo, o reino do dinheiro, pois são incompatíveis: enquanto o primeiro refere-se ao amor ensinado por Jesus, baseado na justiça e na solidariedade, o segundo baseia-se na ganância, na injustiça e no egoísmo.
Sejamos, pois, colaboradores fiéis da Divindade, gerindo os bens materiais de que dispusermos em conformidade com os ensinamentos sublimes que nos foram ditados por Jesus no Sermão da Montanha; assim fazendo, estaremos, acumulando, no Céu, um tesouro verdadeiramente imperecível. Sim, porque as virtudes cristãs, que formos adquirindo no convívio com nossos semelhantes, são as únicas riquezas efetivamente nossas, e só elas nos poderão dar a felicidade perfeita no Lar eterno!
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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