A festa de Cristo Rei, que encerra o ano litúrgico, celebra a soberania e o poder de Jesus Cristo sobre toda esta criação. O Evangelho nos apresenta a realização dessa promessa: Jesus é o Messias, o Rei enviado por Deus, que veio tornar realidade o sonho do Povo de Deus e apresentar aos homens o seu Reino. No entanto, o Reino que Jesus propôs não é construído pela força, violência, imposição, mas sobre o amor, o perdão e o dom da vida.
O Evangelho situa-nos diante da cruz. É o final da caminhada terrena de Jesus. A cena apresenta-nos Jesus crucificado ao lado de dois malfeitores, os chefes dos judeus que caçoavam de Jesus, os soldados que zombavam dos condenados e o povo silencioso e perplexo. Depois da crucificação do corpo prossegue a crucificação moral do Cristo de Deus. A cruz moral do Messias também era composta de insultos e de impropérios contra os seus ensinos, as suas curas e a sua condição realeza espiritual.
Os escarnecedores de Jesus foram as autoridades judaicas e seus seguidores, os principais sacerdotes, os escribas, os anciãos, os soldados e até um dos ladrões que foi crucificado junto com ele. Todos queriam que Jesus fizesse uma demonstração fútil de poder, descendo da cruz de forma espetaculosa, o que contrariava as suas profecias e todos os seus ensinamentos. Tais escárnios lembram as três tentações do Cristo que instigam o orgulho, a blasfêmia e a vaidade.
Naquele dia, três cruzes foram levantadas sobre o Gólgota: a cruz de um ser puro, a cruz de um pecador arrependido e a cruz de um pecador sem nenhum remorso dos atos praticados. O que demonstra que a cruz sempre nos aguardará a todos, independentemente do nível de condições no qual nos encontremos na hora da nossa morte. A cruz não é sinal de perdão individual e sim de consumação da vontade das Leis de Deus. Ao ser crucificado, cada ser reage conforme as suas condições de inteligência e de moralidade.
A cruz de Cristo Rei representa a abertura e o fechamento de nossa existência material até que alcancemos a perfeição. As três cruzes do calvário de Jerusalém refletem, como espelhos, o que cada um de nós é capaz de produzir em vida: em Jesus, o perdão e o amor, no pecador arrependido, o senso de justiça; no pecador sem remorsos e não arrependido a infâmia e a revolta.
Dimas era o nome do pecador arrependido, ou seja, do “bom ladrão”, e Gestas era o nome do pecador sem arrependimento, sem remorso algum, revoltado como sempre.
Dimas era galileu e proprietário de uma hospedaria. Ele assaltava os ricos, mas favorecia os pobres; saqueava grupos de judeus e furtava o templo de Salomão. Gestas, por sua vez, costumava atacar os viajantes, a uns matava pela espada e a outros deixava despidos. Desde o início de sua vida, praticava atos ilícitos e violentos.
A crucificação ao lado do Cristo não representa a redenção para qualquer dos malfeitores. Não é a cruz, por si mesma, que eleva ou redime e sim o arrependimento, a resignação em face da dor e propósito de hábitos bons conforme os ditames da consciência. Cada um pegue a sua cruz e siga-me disse certa vez Jesus.
A cruz de Jesus como o rei dos judeus representa o amor que sofre pelo bem em favor dos que não aceitam seguir as Leis de Deus. A resposta do Mestre Jesus ao condenado arrependido corresponde a sua segunda declaração na cruz: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”. Em linguagem figurada, Jesus garantiu a Dimas o auxílio por intermédio de seus mensageiros para que não sofresse as agruras do inferno.
Apesar do tempo e da atualidade em que vivemos ainda transitamos entre as três cruzes. Em muitos momentos da de nossas vidas não observamos as Leis do Pai e nos rebelamos contra a Sua Ordem, contra seus mandamentos. Noutros instantes, nos arrependemos e mudamos de comportamento seguindo os caminhos irresistíveis do Amor sem olhar para trás.
Jesus desceria da cruz, mas depois de cumprir a sua missão esplendorosa. Deixaria o seu sepulcro vazio, para encher os corações dos homens de muita fé, de elevada esperança e de sublime Amor.
Portanto Celebrar a Festa de Cristo Rei do Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que se impõe aos homens do alto da sua onipotência e que nos assusta com gestos espetaculares. É celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força desarmada do amor.
A cruz, ponto de chegada de uma vida gasta na construção do Reino é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e escolhe reinar no coração dos homens através do amor e do dom da vida. Isto equivale a definir Cristo como o centro da vida e da história.
Cristo deve ter essa centralidade na vida dos homens e mulheres do nosso tempo. Não devemos ter a centralidade de nossa vida voltada aos outros deuses e referências que usurparam o seu lugar. Esta solenidade nos questiona: Cristo é o centro da minha vida ele é a referência fundamental onde ela se constrói?
A Festa de Cristo Rei é a festa da soberania de Cristo sobre a comunidade cristã. A Igreja é um corpo, do qual Cristo é a cabeça. É Cristo que reúne os vários membros numa comunidade de irmãos que vivem no amor. É Ele que a todos alimenta e dá vida.
Somos convidados a repensar a nossa existência e os nossos valores. Celebrar esta solenidade é dar graças a Deus pela sua generosidade de se fazer Nosso Senhor e Salvador, o Redentor do Mundo! O Reinado de Jesus é um convite para vivermos como Ele: uma vida de serviços a outros, dos irmãos, na busca da reconciliação. O reino e o reinado de Jesus é o reinado do amor ao próximo, da partilha, do perdão e da misericórdia.
Sempre haverá uma cruz para cada um de nós. Abracemos e amemos as nossas cruzes. Por meio do cumprimento do dever moral, é possível carregarmos as nossas cruzes com dignidade, amor e perseverança, até que também estejamos todos reunidos no Paraíso com Jesus. Este é o Evangelho do Senhor!
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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