A liturgia deste domingo convida-nos a uma conversão profunda em nós mesmos, de forma que nossos valores fundamentais sejam os valores do Reino. Com bastante frequência encontramos comunidades onde os irmãos estão divididos: criticam os outros, tomam atitudes agressivas, discriminam aqueles que não entram na sua “panelinha”. Empenhados ao poder, fazem tudo para dominar os outros e para afirmar a sua superioridade.
Isaías apresenta o personagem que será o instrumento de Deus na realização do reino de justiça e paz, e que será animada pelo Espírito. Esse Espírito confere a esse enviado as virtudes dos seus antepassados: sabedoria e inteligência como Salomão, espírito de conselho e de fortaleza como Davi, espírito de conhecimento e de temor de Deus como os patriarcas e profetas.
O profeta apresenta ainda o quadro desse mundo novo que o Messias vai instaurar. Ele trará a paz e fará cumprir o projeto inicial que Deus tinha para o mundo e para o homem: é a superação do desequilíbrio, do conflito, da divisão que o pecado introduziu no mundo.
No primeiro paraíso, o homem escolheu ser adversário de Deus e a viver no orgulho e na autossuficiência. Agora, por ação do Messias, ele regressou à comunhão com o seu Criador e passou a viver no conhecimento de Deus. É o regresso ao paraíso original. Para nós, cristãos, Jesus Cristo é o Messias que veio tornar realidade o sonho do profeta.
Paulo por sua vez, exorta os cristãos a vencer qualquer tipo de egoísmo e a não fazerem discriminações, mas a acolherem a todos. Aponta como exemplo o próprio Cristo, que acolheu todos os homens. A comunidade cristã, como rosto visível de Cristo no mundo, tem de ser o lugar do amor, da acolhida fraterna, da caridade e da harmonia.
No Evangelho, João Batista anuncia que o Reino está próximo. Sua figura nos interpela a questionar as nossas prioridades e valores fundamentais. A prioridade de João Batista é o anúncio do Reino dos Céus. E o Reino é despojamento, simplicidade, amor total, misericórdia e dom da vida. São esses valores que ele procura anunciar, com palavras e com atitudes.
João prega a conversão e o Reino de Deus. É uma conversão urgente, porque esse reino está próximo. Esta mensagem é destinada a todos. Porém, João tem palavras duríssimas aos fariseus e saduceus: “raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Não penseis que basta dizer: Abraão é nosso pai”. João avisa que não há salvação assegurada obrigatoriamente a quem tem o nome inscrito nos registros do povo eleito. É preciso viver em contínua conversão e fazer as obras de Deus: “toda a árvore que não dá fruto, será cortada e lançada ao fogo”. Ou seja, é importante para a salvação receber os sacramentos da Igreja, mas não basta ter o nome inscrito no livro de registros de batismo da paróquia, nem no livro de registros de casamentos, nem ter posto os filhos na catequese e aparecer lá somente para tirar fotografias na festa da primeira comunhão. E ainda: não basta dizer aquela frase: “sou feliz por ser católico”, porque é preciso uma conversão séria, empenhada ao Reino e aos seus valores e uma vida coerente com a fé na igreja que fomos batizados, é preciso praticar a caridade em tempos tão difíceis.
O batismo de João significava o arrependimento e o perdão dos pecados. No entanto, ele avisa: “aquele que vem depois de mim batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo”. De fato, o batismo de Jesus vai muito além do batismo de João: confere a quem o recebe, a vida de Deus e torna-o “filho de Deus”.
Além disso, implica uma incorporação na Igreja e a participação ativa na sua missão. Não significa apenas o arrependimento e o perdão dos pecados; significa um quadro de vida completamente novo, uma relação de filiação com Deus e de fraternidade com Jesus e com todos os outros amando verdadeiramente como Jesus nos ensinou.
Neste tempo de advento a palavra nos pede para estarmos atentos, se preocupar com o andamento das coisas, buscar crescer e se desenvolver é bom e necessário. Quando a preocupação se torna um fardo que tira a leveza da vida, quando a demasiada atenção a si mesmo ignora a dor do outro, há o risco de nos tornarmos insensíveis perante nossos semelhantes.
Para que estejamos preparados, Jesus nos pede duas atitudes: ficar atentos e orar. A primeira sugere um jeito consciente de se viver, que procura conhecer-se a si mesmo e que se integra na sociedade e no mundo praticando a caridade. A segunda, orar, nos põe em contato com o sagrado e nos ajuda a ter a justa dimensão de nossa existência.
Quando vier o Filho do Homem (ele continua vindo incessantemente), estejamos de pé, com a disposição para viver bem cada dia. Que tenhamos um bom caminho até o Natal!
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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