O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse neste domingo, 1º de janeiro de 2023, para o seu terceiro mandato à frente do Palácio do Planalto com a promessa de não tentar reeleição em 2026. Entre petistas próximos ao presidente empossado, no entanto, a aposta é de que a longa lista de aliados que miram a sucessão de Lula terá de aguardar até 2030 para disputar a Presidência.
Do outro lado, autoexilado em Orlando, nos Estados Unidos, para evitar a posse de Lula, o agora ex-presidente Jair Bolsonaro ainda se considera presidente da República em suas principais redes sociais. Na descrição no Twitter, Instagram e Facebook de Bolsonaro, além de aparecer “presidente da República Federativa do Brasil”, consta candidato do PL à reeleição. A exceção é o Telegram, rede social na qual Bolsonaro enviava diariamente feitos de seu governo. A página é apresentada como “canal pessoal de Jair Messias Bolsonaro”, sem menção a nenhum cargo.
Nas outras redes, nas quais Bolsonaro ainda se apresenta como presidente do Brasil, a frequência de postagens é menor do que antes da derrota eleitoral no dia 30 de outubro. Apesar da frequência menor, Bolsonaro fez questão de publicar nessas redes sociais mensagens de condolências pelas mortes do Rei Pelé e do Papa emérito Bento XVI.
Mourão
Em pronunciamento de final de mandato, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, frustrou bolsonaristas que pregam um golpe militar em frente a quartéis-generais. Mourão disse que o país mudará de governo, mas não de regime e conclamou que as pessoas voltem à “normalidade da vida”, em alusão aos apoiadores de Jair Bolsonaro. Ele também afirmou que a “alternância de poder em uma democracia é saudável e deve ser preservada.
Parte dos bolsonaristas acampados se decepcionou com a atitude de Bolsonaro e esperava uma reação de Mourão na véspera da posse de Lula e Geraldo Alckmin, o que não ocorreu. Sem citar nomes, o presidente em exercício criticou “lideranças” dos três Poderes que, por meio do silêncio, deixaram crescer um clima de desagregação no país e levaram para as Forças Armadas a conta de um “pretenso golpe”. A mensagem foi interpretada como uma crítica indireta a Bolsonaro, que se calou após a derrota eleitoral, o que fomentou as manifestações em frente aos quartéis.
A posse de Lula lá
Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como o 39º presidente da história do país. A celebração do início do mandato levou centenas de milhares de apoiadores à Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Em um dos momentos mais marcantes, Lula recebeu a faixa presidencial de pessoas comuns, representantes do povo brasileiro.
Em discursos, o presidente ressaltou a defesa da democracia e o foco no combate à pobreza e à fome. Ao falar de fome, no parlatório do Palácio do Planalto, de frente para a multidão, Lula chegou a chorar. Ele também fez críticas ao governo anterior, sem citar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que irregularidades na pandemia devem ser investigadas..
O trajeto até o Congresso Nacional foi mesmo em carro aberto. A dúvida acabou quando, no início da tarde, ele subiu no tradicional Rolls Royce da Presidência. Lula estava acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e da mulher do vice, Lu Alckmin.
Em seguida, na chegada ao Congresso, Lula passou em revista as tropas militares, uma das etapas tradicionais da celebração da posse. Lula foi oficialmente empossado no Congresso, em cerimônia diante de parlamentares e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Em uma fala de 31 minutos, o presidente exaltou a “democracia para sempre”. Lula disse ainda que seu governo vai ser de esperança, união do país e sem revanchismo.
“Hoje, nossa mensagem ao Brasil é de esperança e reconstrução. O grande edifício de direitos, de soberania e de desenvolvimento que essa nação levantou a partir de 1988, vinha sendo sistematicamente demolido nos anos recentes. É para reerguer esse edifício de direitos e valores nacionais que vamos dirigir todos os nossos esforços”, disse.
Ao sair do Congresso, Lula foi para o Palácio do Planalto e subiu a rampa. Em uma das cenas mais históricas da posse, ele subiu acompanhado de Janja, cidadão comuns, representando a diversidade do povo brasileiro e a cachorrinha do casal, chamada de Resistência, em referência ao período em que Lula passou preso.
No alto da rampa, a faixa passou pelas mãos destes representantes do povo e foi finalmente entregue a Lula por Aline Sousa, uma mulher de 33 anos, catadora desde os 14 anos. Já com a faixa no peito, Lula se dirigiu ao parlatório do palácio, para falar à multidão que o aguardava na Praça dos Três Poderes. Foi nesse discurso que, ao falar da fome no país, Lula chorou.
A próxima etapa no dia de Lula foi, dentro do Palácio do Planalto, receber cumprimentos de líderes estrangeiros. Entre eles, estavam 17 chefes de Estado. Depois na sequência, Lula deu posse a seus 37 ministros. Para encerrar o seu dia de glória, ainda participou de um jantar com convidados especiais e chefes de estado, e compareceu ao Show da Posse, onde ainda fez pequeno discurso de agradecimentos.
Opinião
Com o inestimável auxílio de Jair Bolsonaro, o golpista fujão, o Brasil oficializou um retrocesso de 20 anos. Teremos o mesmo presidente que tomou posse duas décadas atrás, com as mesmas ideias retrógradas e com o mesmo partido disposto a instrumentalizar a democracia para perpetuar-se no poder. Quando também se leva em conta o currículo de honestidade petista, fica mais forte a sensação de que não é a história que se repete como farsa, mas a de que é a farsa que se repete como história.
Escolheu-se viver sem esperar nada sob a esquerda do que se enervar continuamente sob a direita. A frase é da escritora francesa Annie Ernaux, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura. Está no livro Les Années (Os Anos) e se refere à reeleição do socialista François Mitterrand. Guardadas as devidas diferenças de latitude, essa foi a circunstância que levou Lula a ter um terceiro mandato presidencial, visto que boa parte dos cidadãos que votou no petista o fez por falta de opção. Se a juntarmos com a metade que o rejeitou completamente nas urnas, teremos uma maioria que oscila entre a resignação e o total descontentamento.
Se Lula e o PT tivessem juízo, eles não perderiam esse fato de vista. Mas juízo não é o forte entre os petistas. Desde que a vitória eleitoral lhes foi anunciada, eles se comportam com arrogância e mostram a disposição de sempre de aparelhar a máquina estatal de alto a baixo. Que ninguém se engane com o arco de alianças que loteou os ministérios ou com os discursos que aparentam gentileza e abertura para outros pontos de vista. Lula e o PT acreditam que o Brasil lhes pertence de direito, dentro do seu projeto partidário-patrimonialista fundado no assistencialismo e decorado por um esquerdismo ora choroso, ora raivoso, sorrindo não se sabe do quê.
Que os próximos quatro anos nos sejam leves. O máximo que pode acontecer de bom para o país é nada. Esperemos nada. Escreveu Mário Sabino em sua coluna (Menu).
Direto da Redação com informações e fotos da ABN/EM/Menu/JC
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