A liturgia deste domingo nos convida a descobrir a “loucura da cruz”. A cruz é o símbolo do amor de Deus em sua máxima expressão na vida, missão e obediência de Jesus Cristo. Nossa vivência do Reino só terá sentido quando assumirmos na cruz de Cristo a nossa própria cruz, ou seja, os desafios cotidianos do Reino de Deus. Pela cruz entendemos o caminho do despojamento e da obediência que nos leva para a vida eterna.
Na primeira leitura, Jeremias descreve sua experiência desolada. Sentiu que Deus o chamava a ser profeta. Viveu numa época histórica bastante conturbada: período de grande instabilidade, injustiças sociais gritantes, infidelidade religiosa. Sua pregação não foi apreciada, pois era considerado um “profeta da desgraça”. Mas ele é o modelo dos profetas que sofreram por causa da sua missão. Estava, verdadeiramente, apaixonado pela Palavra do Senhor e sabia que não teria descanso se não a proclamasse com fidelidade.
Seduzido pelo Senhor, o profeta colocou toda a sua vida a serviço de Deus. Sentiu-se abandonado diante dos insultos e zombarias de seus adversários. Conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição, mas o amor a Deus e sua Palavra eram tão grandes no coração de Jeremias que era impossível resistir. A Palavra de Deus é um fogo devorador. Ao profeta resta, portanto, continuar o serviço da Palavra, enfrentando o seu destino de solidão e de sofrimento, na esperança de, ao longo da caminhada, reencontrar esse amor de Deus que um dia o seduziu e ao qual o profeta nunca poderá renunciar. É essa a experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Deus e vivem na coerência. Muitas vezes caminhamos por estradas sinuosas para alcançarmos os nossos objetivos.
A segunda leitura convida os cristãos a oferecerem sua existência a Deus, comportando-se de acordo com as exigências da sua condição de batizados. Diante da bondade e do amor de Deus, os cristãos são aqueles que se entregam completamente em Suas mãos e que, em todo instante da sua existência, vivem para Ele. Essa oferta será um “sacrifício vivo, santo e agradável”. Este é o “culto espiritual” que Deus espera do homem.
Mas o que significa oferecer-se inteiramente a Deus?
Em primeiro lugar, não se conformar com “este mundo”, ou seja, manter distância dos esquemas e valores sobre os quais o egoísmo e o pecado se constrói. Em segundo lugar, uma mudança de coração, de mentalidade e de inteligência, que possibilite discernir qual é a vontade de Deus, a fim de poder percorrer, com fidelidade, os seus caminhos.
No Evangelho, Jesus explica aos discípulos o sentido autêntico do seu messianismo e da sua filiação divina. Fiéis no seguimento, eles acreditam que Jesus é o “Messias, Filho de Deus” e querem partilhar o seu destino de glória e de triunfo. Jesus vai, no entanto, explicar-lhes que o seu messianismo não passa por triunfos e êxitos humanos, mas pela cruz. E, viver como discípulo é seguir esse caminho da entrega e dom da vida. Em suas palavras encontramos uma catequese sobre esse destino da cruz que aparece em seu horizonte.
É conveniente meus irmãos e minhas irmãs recordar que o caminho cristão não é um caminho fácil, percorrido no meio de aplausos. Pedro não está de acordo que Jesus caminhe em direção à cruz. Essa oposição significa que a compreensão dele sobre o mistério de Jesus é imperfeita. Jesus o repreende com dureza, porque os discípulos precisam corrigir sua perspectiva sobre Ele e o plano do Pai que veio realizar. Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir no caminho do Mestre, custe o que custar.
O cristão não pode viver fechado em si mesmo, preocupado apenas em concretizar os seus sonhos pessoais, seus projetos de riqueza, suas ambições, segurança, bem estar, êxito, triunfo. Ele deve fazer da sua vida um dom generoso a Deus e aos irmãos e deve saber investir com inteligência em seus projetos e insistir neles para alcançar o Reino dos Céus. Conquistar a qualquer preço a realização pessoal para estar mais próximo dos projetos de Deus. Para poder exercer sua função como pastor e missionário da Palavra consciente dos obstáculos para alcançar suas metas. Essa é a cruz que temos muitas vezes de carregar, sem questionamentos porque a própria vida assim é composta. Só assim, acredito eu, poderemos ser discípulo de Jesus e integrar a comunidade do Reino, para levar sua Palavra com mais liberdade ao povo de Deus. E, Que assim seja, amém?
Direto da Santa Missa em seu Lar
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