Neste domingo, a liturgia nos sugere uma reflexão sobre nossa responsabilidade para com nossos irmãos. As leituras afirmam claramente, que ninguém pode ficar indiferente diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão. Todos somos responsáveis uns pelos outros. O cristianismo sem amor é uma mentira.
No mandamento do amor, resume-se toda a Lei e todos os preceitos. Os diversos mandamentos são especificações da exigência do amor. Os cristãos não podem nunca deixar de se amarem mutuamente. Trata-se de uma “dívida” que temos com todos os irmãos, e que nunca estará completamente paga. Qualquer dívida pode ser liquidada de uma vez. Contudo, o amor deve ser renovado cada instante pela própria vivência do amor.
No texto do Evangelho de hoje vemos como se deve proceder com o irmão que errou e que provocou conflitos no seio da comunidade. Não é com a condenação ou marginalização do irmão infrator. Decisões radicais e fundamentalistas dificilmente convertem e restituem a vida. É preciso tratar o problema com bom senso, maturidade, equilíbrio, tolerância e, acima de tudo, amor.
O evangelista Mateus deixa claro que a Igreja deve tomar alguma posição quando um de seus membros de forma consciente e obstinada, recusa a proposta do Reino. Em primeiro lugar, é preciso deixar claro ao infrator que suas opções e atos já são excludentes. Por si mesmo, já se colocou às margens da comunidade. Esta, por sua vez, deve ajudá-lo a tomar consciência e retornar o seu caminho.
A Igreja deve responsabilizar-se por seus membros e buscar sua salvação. Cada membro da Igreja deve agir com misericórdia, paciência, prudência e discrição diante da pessoa que errou e dos atos que praticou. Estas atitudes demonstram o amor fraterno entre nós. Amar não significa compactuar com o erro, mas possibilitar o retorno daquele que errou para o convívio com todos: família, Igreja e sociedade.
Amar um irmão significa ajudá-lo a “crescer” a se encontrar, e não se sentir injuriado em todos os níveis. Devemos querer concretamente sua “libertação” daquilo que é defeituoso e mau, lutar por sua plena humanização. Foi por isso que Jesus indicou os passos da Liturgia de hoje: “corrige em particular, depois da primeira tentativa, duas pessoas sensatas. Como terceira opção é apresentar o caso à Comunidade. Se mesmo assim ele não ouvir, deixe que ele siga o caminho que escolheu livremente”.
Dizendo estas palavras, quis Jesus mostrar o efeito da união e da fraternidade que deve reinar entre todos. O que atrai Jesus ao nosso meio, não é o maior ou menor número de pessoas que se reúnam, pois, em vez de duas ou três, ele poderia ter dito dez ou vinte, dezenas e centenas, porque é o sentimento de caridade que reciprocamente as anime. Ora, para isso, basta que elas sejam duas. Contudo, se essas duas pessoas oram cada uma por seu lado, embora dirigindo-se ambas a Jesus, não há entre elas comunhão de pensamentos, sobretudo se não estão movidas por um sentimento de mútua benevolência. Eu já disse aqui em outras oportunidades, que quem não se ajunta, se espalha, o vento leva, porque a união é força fundamental para se realizar um bom trabalho em comum, quando os objetivos são os mesmos. Lembrando que o próprio Jesus se encarregou de enviar dois em dois de seus discípulos para a missão de saber o que o povo comentava sobre ele.
Se irmãos de fé, se olham com prevenção, com ódio, inveja ou ciúmes, as correntes positivas de seus pensamentos, longe estão de se conjugarem por um comum impulso de simpatia, e eles o que fazem, repelem-se. Nesse caso, não estarão reunidas em nome de Jesus, dos mesmos ideais, e a melhor solução para reinar a paz é separar o joio do trigo que crescem juntos, mas um atrapalha o outro, então, não há pretexto para uma união satisfatória, não o tendo este por verdadeiro motivo, é melhor que deixe-o seguir o caminho que escolheu livremente. Não existe o acaso, tudo tem o seu porque para acontecer. E nesta hora a vontade de Deus deve prevalecer.
Isso não significa que ele seja surdo à voz de uma única pessoa; e se ele não disse: “Atenderei a todo aquele que me chamar”, é que, antes de tudo, exige o amor do próximo, do qual se pode dar mais provas quando são muitos, e distanciados de todo sentimento pessoal, do que aquele que vive no isolamento. Segue-se que, se, numa assembleia numerosa, somente duas ou três pessoas se unem de coração, pelo sentimento de verdadeira caridade, enquanto as outras se isolam e se concentram em pensamentos egoístas ou mundanos, ele estará com as primeiras e não com as outras, porque a lei é uma só, “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Não é, pois, a simultaneidade das palavras, dos cantos, das missas ou dos atos exteriores que constitui a união em nome de Jesus, mas a comunhão de pensamentos, em concordância com o espírito de caridade que ele personifica.
O amor fraterno passa pelo diálogo, pela amizade e também pela correção. Por amor ao amigo não se deve concordar com seus erros, mas ensinar pescar em vez de doar os peixes. Seguir Jesus é buscar viver concretamente o amor a Deus e ao próximo, verdadeiramente! Se você não ama quem está próximo de ti, como poderá amar que se encontra distante?
Onde quer que se encontrem dois ou três, onde estiverem reunidos em meu nome (…), estarei? onde] estiverem reunidos em meu nome (…), eis que ali estarei no meio deles — assim também estou no meio de vós”. Bem mais do que um ou dois, agora, neste momento, graças a tecnologia das redes sociais, uma multidão de Seus discípulos está reunida nesta santa Eucaristia e, conforme prometido, o Senhor está em nosso meio.
Nesta Liturgia, peçamos ao Pai pelas nossas relações em família, em comunidade e em sociedade, e principalmente com nossos irmãos congregados para que sejam mais de acordo com o amor que Seu Filho nos propõe. Jesus sabe que nem tudo são flores nas relações. No Evangelho de hoje, mostra-nos um caminho que parte da conexão com Ele, com o seu amor, e não parte das nossas carências. “Se o seu irmão pecar contra você, vá e mostre-lhe o seu erro. Mas faça isso em particular, só entre vocês dois.” Hoje em dia, o que mais vemos são indiretas nas redes sociais, quando não acusações e exposição pública das pessoas. Quando alguém nos ofende, é como se quiséssemos disputar com ele as outras pessoas, ver quem fica com mais gente do seu lado. Pura carência! Jesus aponta o caminho do diálogo fraterno, feito de respeito, sinceridade, abertura, humildade e discrição.
Antes de ter uma conversa com o irmão, preciso tê-la com o Senhor Jesus. Colocar-me diante dele abrindo meu coração, expressando e deixando que Ele me cure e me ajude a perdoar. A reconciliação dependerá do outro. O perdão está em mim, independente do resultado da conversa com o outro, aliás, antes dele. Depende só de mim perdoar, com a graça de Deus. E preciso pedi-la. E assim pedir também a purificação das minhas intenções: que não sejam vingar-me do outro, ofender-lhe pelo que me ofendeu, colocar-me superior a ele…. mas apenas trazer o irmão de volta.“Se essa pessoa ouvir o seu conselho, então você ganhou de volta o seu irmão.” e é isso que importa a Deus.
Terminemos nossa homilia agradecendo pelo Senhor fazer-se presente quando nos reunimos em seu nome, e pelo poder que nos dá de ligar, de conectar as pessoas com Ele. Peçamos-lhe a graça de bem viver esse dom e, a partir dele, pôr em prática o diálogo e o amor fraterno entre todos sem distinção..
Direto da Santa Missa em seu Lar
DEIXE SEU COMENTÁRIO | Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site.