A liturgia deste domingo revela que Deus nos chama, continuamente, para testemunhar no mundo seu projeto de salvação. Não interessa se essas pessoas são frágeis e limitadas. A força de Deus revela-se através da fraqueza e da fragilidade desses instrumentos humanos que Deus escolhe e envia. Os “profetas” não são um grupo humano extinto há muitos séculos, são uma realidades nos dias de hoje. Eles continuam para intervir no mundo, para recriar a história. Quem são, hoje, os profetas? Onde estão eles?
No Batismo, fomos ungidos como profetas, à imagem de Cristo. Hoje a missão profética é nossa. De muitas formas Deus entra na nossa vida e, desafia-nos para a missão. Devemos estar atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e através dos quais Ele nos diz, dia a dia, o que quer de nós. E para sermos profetas temos que saber a escolha que vamos fazer. De que lado queremos estar!
O profeta é o homem que vive de olhos postos em Deus e de olhos postos no mundo (numa mão a Bíblia, na outra a vida). Temos a noção de que somos a “boca” através da qual a Palavra de Deus se dirige aos homens?
As fragilidades que fazem parte da nossa humanidade não podem, em nenhuma circunstância, servir de desculpa para não cumprirmos a nossa missão profética no mundo. O Evangelho, ao mostrar como Jesus foi recebido pelos seus conterrâneos em Nazaré, reafirma uma ideia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Quando os homens se recusam a entender esta realidade, facilmente perdem a oportunidade de descobrir o Deus que vem ao seu encontro e de acolher os desafios que Deus lhes apresenta.
Depois de escutarem Jesus os seus conterrâneos, traduzem a sua perplexidade através de várias perguntas que dizem respeito à origem e à qualidade dos seus ensinamentos: “de onde lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E os milagres realizados por suas mãos?”
Numa espécie de contraponto à impressão que Jesus lhes deixou, são recordadas por eles o seu ofício e a normalidade da sua família. Para eles, Jesus é o “carpinteiro”, não é um “mestre”, não estudou as Escrituras com nenhum mestre conceituado e não tem qualificações para dizer as coisas que diz.
Por outro lado, eles conhecem a identidade da família de Jesus e não descobrem nela nada de extraordinário. Ele é o “filho de Maria” e os seus irmãos e irmãs são gente “normal” como qualquer um deles. Desde o primeiro momento, os comentários dos habitantes de Nazaré eram depreciativos em relação a Jesus. Nem sequer se referem a Ele pelo próprio nome. Depois, chamam-no depreciativamente como “o filho de Maria”.
O costume era o filho ser conhecido em referência ao pai e não à mãe. Há na vila uma espécie de indignação porque Jesus, apesar de ter sido desautorizado pelos mestres reconhecidos do judaísmo, continua a desenvolver a sua atividade à margem da instituição judaica. Jesus responde aos seus concidadãos, com um conhecido provérbio: “nenhum profeta é respeitado no seu lugar de origem”.
Nessa resposta, Jesus assume-se como profeta, um enviado de Deus. Atua em nome de Deus e tem uma mensagem para oferecer aos homens. Os ensinamentos que Jesus propõe não vêm dos mestres judaicos, mas do próprio Deus. A vida que Ele oferece é a vida plena e verdadeira que Deus quer propor aos homens. A recusa da proposta que Jesus traz coloca-o na linha dos grandes profetas de Israel.
O povo teve sempre dificuldades em reconhecer o Deus que vinha ao seu encontro, na palavra e nos gestos proféticos. E o descrédito enfrentado por Jesus se baseia na sua origem simples e humilde.
Jesus já havia se manifestado plenamente ao mundo e havia operado muitos milagres em Cafarnaum, que distava a poucos quilômetros de Nazaré. A incredulidade do povo foi motivada então, por causa da origem de sua família. Para eles Jesus era apenas um carpinteiro, filho de Maria, cujos pais eles conheciam.
Outro fator para a incredulidade se devia ao fato de que o Mestre não tinha estudado nas escolas rabínicas e eles não podiam explicar o seu conhecimento nem o seu poder. A reprovação da incredulidade era latente, sua cidade não creu nEle; os líderes religiosos não creram nEle. A familiaridade em vez de gerar fé, produziu preconceito e incredulidade. A consequência da incredulidade em Nazaré impossibilitou que nenhum milagre ali fosse realizado. Que lástima! É muito doido quando alguém não crê no nosso potencial.
Apesar da incredulidade, Jesus oferece uma segunda chance à cidade de Nazaré. Que contraste, pois o povo ali era o mais privilegiado do mundo, já que o Filho de Deus havia passado sua infância e juventude em Nazaré. A familiaridade com Jesus produziu preconceito e não fé. Aliás, nada é mais perigoso do que a alma se acostumar com o sagrado.
Outro ponto de destaque nesta incredulidade se deve ao fato de termos o conhecimento separado da fé. O povo de Nazaré reconhecia que Jesus fazia coisas extraordinárias e tinha uma sabedoria sobre-humana. Inclusive, eles fizeram três perguntas: “De onde lhe vêm essas coisas”? “Que sabedoria é essa que lhe foi dada”? “Como se fazem tais milagres por suas mãos”?
Eles tinham a cabeça cheia de dúvidas e o coração vazio de fé. Porque eles não podiam explicá-lo, eles O rejeitaram. Estes fatos foram suficientes para Jesus não permanecer na cidade. A incredulidade fecha as portas da oportunidade para Nazaré. Jesus seguiu adiante, procurando aqueles que pudessem responder aos Seus milagres e entender à Sua mensagem.
O pecado da incredulidade é desastroso; a incredulidade rouba do povo as maiores bênçãos. Onde se rejeita o doador (Jesus), a dádiva é sem sentido, talvez até prejudicial. A incredulidade foi o mais velho pecado do mundo. Ela começou no Jardim do Éden, onde Eva creu nas promessas do diabo, em vez de crer na Palavra de Deus. E tem gente que prefere a voz do diabo no ouvido, do que aceitar a verdade nua e crua. A incredulidade traz morte ao mundo; a incredulidade é o pecado que enche o inferno. Para muitos é mais fácil crer na mentira do que na verdade que liberta e nos abre novos horizontes. A maioria das pessoas pensa que tem ilimitadas oportunidades para crer, mas isso é ledo engano, nunca podemos nos basear pelo que ouvimos dizer dos outros sem termos certeza de suas ações e feitos.
Peçamos ao Senhor a capacidade de perceber a sua presença em nosso meio. Que confiemos na força de sua Palavra, ouçamos a sua voz e apliquemos na vida as lições que nos vêm do Evangelho. Esforcemo-nos para não oferecer resistência e rejeição à mensagem do Reino de Deus. E estejamos preparados para as surpresas e obstáculos que a vida nos reserva, muitas vezes para testar nossas limitações e conhecermos bem as pessoas que confiamos como amigas e queremos bem. Abramos nossos corações à transformação que a Palavra faz em nossas vidas, famílias, comunidades, vida social e em todas as nossas relações.
Direto da Santa Missa em seu Lar
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