A Quaresma é um tempo de conversão e mudança de vida. Mas para acontecer conversão é necessária uma revisão dos nossos costumes e maneiras de lidarmos conosco, com os irmãos, com a natureza e com Deus. A Transfiguração do Senhor nos ajuda a compreender que a verdadeira luz e a transformação completa só se concluirão se reconhecermos, aceitarmos e escutarmos Jesus.
A liturgia de hoje traz o tema da aliança entre Deus e a humanidade. Esse é o centro de toda a história da salvação. Olhando para todo processo de salvação vamos compreender que a aliança de Deus com a humanidade é a vida. Deus não quer a injustiça, não quer a opressão. Ele quer vida, e vida em abundância! É esse o objetivo da jornada que fazemos em direção à Páscoa: entender o mistério de Jesus no Calvário como expressão do Amor de Deus ao mundo que promove, defende, valoriza e salva a vida.
Deus faz uma aliança com Abraão, assegurando-lhe que sua descendência seria tão numerosa quanto as estrelas do céu e que ele teria uma terra espaçosa e fértil. Essa promessa, feita em um contexto de incerteza, nos ensina sobre a fidelidade de Deus. Pela fé de Abraão o Senhor dá o sinal, que sua luz, seu fogo estará sempre presente suscitando vida, mesmo em meio aos desafios.
Em nossa jornada quaresmal, também somos convidados a confiar nas promessas de Deus, mesmo quando não conseguimos ver o caminho à frente, e que tudo parece não acontecer. Deus é quem nos conduz! Tarda mas não falha.
Diante de uma crise de identidade de liderança da comunidade, tendo em vista o projeto de salvação e aliança, Paulo conclama os Filipenses, para tomarem consciência e fazerem a opção por Cristo aos prazeres do mundo. Ludibriados por ideologias vãs, os Filipenses estavam pensando somente em seus bens e prazeres pessoais, não se reconhecendo mais como cristãos, esquecem o chamado. Paulo faz o alerta para a imitação de Cristo, na defesa da vida, na prática da justiça e na vivência do amor.
Isso nos convida a refletir sobre nossa própria vida e a nos perguntarmos: estamos vivendo em conformidade com a nossa fé? Quais os desafios atuais que enfrentamos para a prática da justiça, defesa da vida e vivência do amor?
No Evangelho de Lucas, encontramos Jesus subindo ao monte com Pedro, Tiago e João. Este momento é especial: enquanto orava, sua aparência se transforma e sua glória divina se revela. A presença de Moisés e Elias dialogando com Jesus ressalta que Ele é o cumprimento da Lei e dos Profetas. Moisés representa a antiga aliança, enquanto Elias simboliza os profetas. A conversação sobre a paixão que se aproxima indica que a glória de Deus é revelada não apenas na vitória, mas também no sofrimento e na entrega. Isso nos lembra que a nossa própria caminhada de fé inclui momentos de desafios e sacrifícios.
Este diálogo nos mostra que a missão de Jesus está profundamente enraizada na história da salvação. Quando ouvimos a voz do Pai dizendo: “Este é meu Filho amado, o Eleito; ouvi-o”, somos convocados a ouvir e seguir a Jesus, especialmente em tempos de indecisão
Encontramos uma perfeita sintonia nas diversas narrações feitas pelos evangelistas desta cena misteriosa que conhecemos por Transfiguração. Assim sendo, para Mateus Jesus revela-se como o novo Moisés. Em Marcos, a Transfiguração anuncia a Ressurreição. E Para Lucas, a cena prepara o Filho de Deus para a sua Paixão.
A descrição da Transfiguração é como que a antecipação da Ressurreição. Aliás, em Jesus tudo encaminha para esse termo. E com Jesus o homem, uma vez vencida a morte, se encontre, transfigurado, na glória de Deus. E para que a mensagem do Mestre não ficasse no vazio, diante dos três prediletos discípulos Pedro, Tiago e João – que seriam também as testemunhas do Getsêmani, – Jesus se transfigura como os corpos gloriosos depois da ressurreição. Fazendo-lhes ver aquilo que todos seremos um dia. Quando tudo se consumar em todos.
O alto monte que se encontra recorda o monte Sinai; a voz do Pai proclama que Jesus é o Filho predileto, o amado, o eleito e por isso, a presença de Moisés e Elias recorda ao mesmo tempo o Antigo Testamento: toda lei e todos os profetas. Os três pilares da Igreja testemunham que a antiga aliança cede lugar à nova. O Filho amado perpetuará a glória momentânea através do sacrifício de sua morte e paixão. E todas as referências ao Servo de Javé de Isaías 42,1 e do Salmo 2,7 plenificam-se em Jesus.
No momento da Transfiguração, o testemunho prestado ao Filho foi selado pela primeira vez pela voz do Pai e por Moisés e Elias, que aparecem junto de Jesus como seus servos. Os profetas olham para os apóstolos Pedro, Tiago e João; os apóstolos contemplam esses profetas. Num só lugar, encontram-se os príncipes da antiga aliança e os da nova aliança.
O santo Moisés viu Pedro, o santificado, o pastor escolhido pelo Pai que por sua vez, viu o pastor escolhido pelo Filho. O primeiro tinha outrora aberto o mar para que o povo de Deus pudesse passar no meio das águas. O segundo propôs erguer uma tenda para abrigar a Igreja. João pôde ver Elias. Aquele que foi arrebatado num carro de fogo e este, viu aquele que repousou sobre o peito do Fogo (Jo 13,23). E aquela montanha tornou-se então o símbolo da Igreja: no seu cume, Jesus unifica os dois Testamentos que esta Igreja acolhe.
Deu a conhecer que é o Senhor de ontem, de hoje, de sempre, do Antigo que recebeu os seus mistérios, do Novo que revelou a glória das suas ações. Todos devem escutá-lo, seguir o seu caminho. Pois ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. E que caminho seguir é o de tomar todos os dias a cruz e seguir pelo caminho do sacrifício pessoal já percorrido pelos precursores Elias e João Batista, se quiserem encontrar-se com ele na glória eterna dos filhos de Deus.
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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