A liturgia da Palavra ressalta a urgência da conversão pela renovação batismal. A conversão se traduz na resposta de fé à paciência de Deus. Ele nos dá tempo para que produzamos os frutos da justiça e da fraternidade. A fé se revela com a mudança de atitudes. Converter-se implica voltar para Deus e produzir frutos do amor, da solidariedade e da paz.
No Evangelho de hoje, Jesus continua sua viagem para Jerusalém com seus discípulos. Acabava de lhes falar sobre o discernimento dos sinais que manifestam a vontade de Deus. Sinais do cotidiano que explicitam o projeto salvífico do Pai. Falando à multidão e, em particular, aos discípulos, enfatiza em duas partes distintas, a urgência da conversão.
Na primeira parte (Lc 13,1-5), Jesus refere-se aos dois fatos da repressão a um grupo de galileus enquanto se preparavam para sacrificar suas vítimas e da queda de uma torre perto da piscina de Siloé. Os que relatam a Jesus as duas tragédias desejam ouvir sua opinião e provoca dele uma posição. O Mestre sai pela tangente. Desconstrói a crença popular de que as desgraças sejam uma forma de punição divina e que Deus poderia impedir tais tragédias, mas prefere permanecer surdo e mudo aos gritos dos sofredores. Rechaça a doutrina da retribuição que vincula a desgraça ao pecado cometido.
Para o Mestre, diante de Deus, todos necessitam mudar de vida. Mas, se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo. A única maneira para escapar à ruína é a conversão.
Na segunda parte (Lc 13,6-9), temos a parábola da figueira. Ela é imagem do povo de Israel. Durante três anos de ministério, Jesus procurou frutos de arrependimento e de conversão. E nada! Na palavra de Jesus, a caminho de Jerusalém, a todos é oferecida uma nova chance de mudança de vida. Ele espera, portanto, que os que o acompanham deem frutos, isto é, aceitem converter-se à Boa Nova que lhes anuncia. É a paciência de Deus! Apesar do tom ameaçador, há esperança, Jesus confia em que a resposta à Boa Nova seja positiva.
A quaresma meus irmãos, é um tempo para avaliarmos a qualidade de nossas respostas aos projetos da vontade de Deus. Pode ocorrer que os frutos não estejam à altura do esperado. Quem planta e cultiva determinada árvore frutífera, é natural que almeje colher bons frutos. “Foi lá procurar figos e não encontrou. Então disse ao agricultor: Já faz três anos que venho procurando figos e nada encontro”. Desilusão! A paciência parece estar se esgotando. O impulso humano é dar um basta: “corta-a!”
O amor misericordioso torna possível o êxito dos projetos de Deus. Converter-se a Deus é voltar-se para Ele; é caminhar com Ele e viver o seu projeto de vida e salvação. Conversão é convite à vida. Mais do que anúncio de ameaças, é proclamação de uma boa nova. Jesus apela à conversão, anunciando a proximidade do Pai amoroso e misericordioso.
Esses dois episódios que vimos na liturgia de hoje, como sinais dos tempos, dizem que a morte pode vir de improviso. Assim também o juízo de Deus pode chegar quando menos esperarmos. Por isso, precisamos e devemos nos arrepender de todos os nossos pecados.
Jesus deixa claro que não necessariamente há uma relação direta de causalidade entre culpa e sofrimento. Mas as desgraças públicas são, como sinais dos tempos, oportunidade para reflexão e penitência dos pecados. Jesus adverte que toda nação caminha para a ruína se não se converter ao Messias. Todos necessitamos de conversão contínua porque todos erramos. O mistério do sofrimento sem espírito de fé esmaga o homem.
Arrepender-se não é simplesmente sentir remorso do pecado cometido. Uma pessoa pode sentir remorso de ter pecado devido às complicações que o pecado trouxe à sua vida, ou devido a uma consequência desvantajosa que tenha de sofrer pelo ato pecaminoso. Judas sentiu remorso por ter traído Jesus, mas não se arrependeu (Mateus 27:3). Pedro, que negou Cristo (Mateus 26:34,69–75), arrependeu-se; Judas sentiu apenas remorso. É possível sentir-se perturbado pelo fato de ter pecado, sem, contudo, arrepender-se.
O arrependimento não é simplesmente uma convicção do pecado. No dia de Pentecostes, Pedro expôs o pecado dos judeus que o ouviam. As palavras do apóstolo levaram convicção ao coração deles, a ponto de clamarem: “Que faremos?” (Atos 2:37). Pedro, porém, não considerou essa convicção como arrependimento; pois ao responder à indagação deles, disse: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2:38).
O arrependimento não é simplesmente uma tristeza divina. A tristeza divina por causa dos pecados precede e produz o arrependimento, segundo o apóstolo Paulo: Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza segundo o mundo produz morte (2 Coríntios 7:10).
O arrependimento não deve ser tampouco definido como uma mudança de vida. Ele produz, sim, uma mudança de vida. Se o arrependimento não resultar numa vida transformada, então não houve de fato arrependimento genuíno; mas a mudança de vida não é o arrependimento propriamente dito. João Batista advertia o povo que o seguia: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mateus 3:8). O arrependimento real precede os frutos de arrependimento, a saber uma vida mudada.
Arrependimento tem a ver com mudança resoluta da vontade própria em relação ao pecado. Envolve o intelecto, as emoções e a consciência. Essa mudança de atitude em relação ao pecado torna-se tão nítida na personalidade humana, que capacita o crente a desistir de um modo de vida. No batismo, uma pessoa é imersa para morrer espiritualmente para o pecado, crucificando seu velho eu, de modo que o corpo do pecado seja destruído (Romanos 6:6).
O arrependimento envolve um compromisso constante. Ao respondermos a Deus, devemos fazer morrer as obras do corpo. Daí para frente, uma tarefa que temos como cristãos é não deixar virem à tona essas obras. Paulo disse: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e avareza, que é idolatria” (Colossenses 3:5).
É preciso viver no mundo sem ser dele, e nele viver conforme o Espírito de Deus. O juízo de Deus sobre nós pode dar-se quando menos esperamos e por isso devemos viver de tal modo que não sejamos surpreendidos. O cristão está em contínua vigilância pela caridade e pela prática da misericórdia. Pai, que a minha vida seja uma contínua busca de comunhão contigo, por meio de um arrependimento sincero e de minha conversão urgente para ti.
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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