O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor marca a abertura de nossa Semana Santa e carrega, em si, a síntese do que celebramos como católicos: acolhemos e exaltamos a soberania e a majestade de Cristo, nosso Messias. Mas a sua realeza se dá não como no mundo. Cristo é Rei, soberano, que mostra seu poder no trono da Cruz, apagando toda mancha do pecado, e ressurgindo glorioso, pela nossa salvação.
Importante notarmos que em nossa vida espiritual podemos fazer o mesmo que os judeus fizeram, caso não compreendamos a lógica da realeza de Cristo: aclamá-lo com Rei e Senhor, e ao mesmo tempo, pelas nossas atitudes, crucificarmos a Jesus e afastarmos de nós qualquer menção à Cruz e conversão de vida. Vida e obras devem concordar!
Além disso, vale destacar que os Ramos que levamos às nossas casas não podem se tornar, para nós, objetos de superstição. Os Ramos servem para nos recordar a dinâmica de Jesus Cristo, Rei e crucificado. São, sim, um poderoso sacramental em nossas vidas, levando a benção para nossos lares, porém, os Ramos só serão benção se ousarmos entronizar, em nossos corações e vidas, o Cristo Rei, tal e qual celebramos na liturgia deste Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor.
DOM. Hoje a liturgia pede que sejamos muito breves no nosso comentário sobre a Palavra, que é a autêntica protagonista, especialmente a história da Paixão, narrada este ano por São Marcos. Darei, portanto, apenas mais alguns toques para que fique bem claro esse momento.
Em primeiro lugar, repito é um convite que devemos levar a sério são as palavras de São Paulo:. É frequente entre nós olhar para Jesus como alguém que tinha claro que sua missão era “MORRER POR NÓS” na cruz, com essa morte dolorosa que hoje meditamos, porque assim o teria pedido / desejado seu Pai Deus. E como ele era Deus, ele “já sabia” que três dias depois iria ressuscitar vitorioso da tumba… e assunto resolvido, missão cumprida.
São Paulo afirmou que Cristo “apesar de sua condição divina” se despojou de todos os seus atributos divinos e se converteu “em um de muitos”. Quer dizer: ele era como você e eu, e sendo “semelhante aos homens”, teve que descobrir gradativamente seu caminho, seu projeto, a “vontade do Pai” e vivenciá-la na carne. Progressivamente, ele teve que buscar, não raro, entre as dúvidas e a obscuridade, e tomar decisões. Sua “luta / agonia” no Getsêmani foi muito real: Seu caminho não foi fácil nem óbvio. Ele teve que discernir. Sentiu como seu projeto de Reino poderia ter fracassado ante as autoridades religiosas, perante o Povo ao qual se dedicou tão intensamente, e inclusive sentiu o silêncio e o abandono de Deus. Precisamente as únicas palavras que Marcos guardou para nós sobre Jesus na cruz dizem: Deus meu porque me abandonastes? Um grito de partir o coração que nos revela os profundos sentimentos de sua dor até a cruz.
Quanto às razões históricas de sua condenação e morte, são muito bem descritas pelo evangelista: Jesus foi rotulado de blasfemador, por suas interpretações sobre as Escrituras e o poder. O Povo, por sua vez, esperava que alguém resolvesse seus problemas concretos de toda espécie… E o aclamaram quando ele entrou em Jerusalém e gritaram “HOSANA” (= que Deus tenha misericórdia e nos salve).
Mas ao se verem desiludidos por este “Filho de Davi”, que chega montado num humilde burrico, e numa atitude pacífica… acabam por preferir a liberdade de um criminoso, do que a de um justo inocente, se deixando manipular pelas autoridades. Políticos, como Pilatos, querem é “agradar o povo” e evitar problemas e responsabilidades. E quanto aos seus discípulos, eles têm medo, adormecem, fogem, o traem, escondem-se, desaparecem de cena. Para viverem suas próprias histórias.
Em resumo: as razões ou causas pelas quais Jesus acaba crucificado devem ser procuradas, em primeiro lugar, na rejeição de sua missão e de sua mensagem. Não se deve esquecer, para não “descontextualizar” ou “espiritualizar” a história de uma tremenda injustiça que a todos deixou confuso. E porque essas lutas e confrontos de Jesus devem ser agora e sempre nossos, os de seus discípulos, já que o “panorama” não mudou muito.
Por isso, não podemos assistir aos acontecimentos da Semana Santa do Senhor como “espectadores” de uma história ocorrida há um pouco mais de dois milênios, e ficar oprimido e nos assombrar com tudo o que aconteceu, sem nos permitir ser pessoalmente afetados. Rever e reviver a Paixão do Filho de Deus deve servir para nos fazer reagir e ficar indignados com tanta injustiças, tantos “FILHOS DE DEUS” que vivem circunstâncias semelhantes HOJE, e que também são eliminados, esmagados, silenciados, desprezados, ignorados… pelos obscuros interesses de todos tipos.
A “desordem” que matou Jesus está por trás dos acontecimentos da ingratidão, dos que para serem felizes, esquecem os dias de paz e bem aventurança que já viveram, das manipulações políticas e econômicas de todas as cores…
Essa história do Filho de Deus está muito viva hoje e está muito atual, e temos que ter muito cuidado… para não ser seus novos protagonistas: novo Pilatos, novas autoridades, novas pessoas manipuladas, novos discípulos covardes, novos ingratos… Não é coerente que estejamos chocados com as feridas, as quedas, as chicotadas, os desprezos e tudo o mais que Jesus teve que suportar… por ser quem era… e esquecer que era “UM DE MUITOS” que sofrem o mesmo destino hoje.
Direto da Santa Missa em Seu Lar – Estúdios da TVJC
DEIXE SEU COMENTÁRIO | Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site.