A Operação “Canaã – A Colheita Final” provocou na manhã desta terça-feira, 6 de janeiro um novo capitulo numa história apocalítica vivida na cidade com trabalho escravo. A Polícia Federal revelou que ainda existe na cidade um forte esquema de captação de novos fiéis para uma seita religiosa que vem sendo investigada desde 2011 cuja suspeita é de manter fiéis em situação de escravidão.
A investigação realizada pela PF apontou que nestes últimos três anos os líderes da organização “Traduzindo o verbo: a verdade que marca”, antes conhecida como “Comunidade Evangélica Jesus, a verdade que marca”, aumentaram em três vezes o número de seus membros. Ao todo, foram interditados 17 estabelecimentos.
Em Pouso Alegre, foram interditados os restaurantes “Circuito das Águas” e um Café “Bombom”. Em Poços de Caldas, o restaurante “Poços Grill” foi interditado pela Polícia Federal durante a manhã. A gerente do estabelecimento foi presa no local. Ela seria a responsável pela seita na cidade, segundo levantamento da Polícia Federal.
Em 2015, na operação “De Volta para Canaã”, 315 pessoas foram encontradas em situação de trabalho escravo em propriedades rurais e estabelecimentos comerciais do Sul de Minas e em outras regiões de alguns estados. Na operação desta terça-feira, a estimativa da polícia é que quase mil pessoas sejam localizadas no mesmo cenário, sendo mais da metade em Minas Gerais.
Segundo o delegado Alexandre de Oliveira, todos os funcionários dos estabelecimentos comerciais interditados eram fiéis e não recebiam o pagamento pelo trabalho que vinham realizando. “Eles trabalham em estabelecimentos dos mais variados sem receber nenhuma remuneração. Eles têm o patrimônio completamente usurpado pela seita, quando entram são induzidos a doar tudo. Em reunião dos líderes, eles transferem o patrimônio para laranjas e outras empresas”, explicou Oliveira.
As investigações mostraram que mesmo após as operações realizadas em 2013 e 2015, o grupo voltou a cometer os mesmos crimes. Na época, o patrimônio da seita havia sido estimado em R$ 100 milhões. Agora o volume será atualizado, mas a estimativa é que o número de propriedades tenha dobrado.
Até o final da manhã desta terça, treze pessoas haviam sido presas, sendo oito no Sul de Minas – Nove pessoas continuavam foragidas, inclusive o líder da seita, conhecido como pastor Cícero.
Perfil dos fiéis
Segundo o delegado, a maior parte dos fiéis membros pertence à classe C, com poucas condições. Mas também há registros de pessoas em situação financeira melhor que foram iludidos.
“A promessa é de que a ‘besta’ está vindo e que, dentro das comunidades, ela não vai atingir os fiéis no dia do apocalipse, no dia do juízo final. Sempre um argumento religioso do mais baixo nível para ludibriar essas pessoas”, afirma Oliveira. Os fiéis vivem em situação bem diferente dos líderes da seita, que acumulam carros, apartamentos de luxos e altos valores.
As investigações
A seita começou a ser investigada em 2011. As precárias condições de alojamento e trabalho foram denunciadas aos órgãos. Na época, cerca de 800 integrantes da organização moravam em cinco fazendas em São Vicente de Minas e Minduri. Conforme as investigações da época, foi identificado um sofisticado esquema de exploração do trabalho humano e lavagem de dinheiro levado a cabo por dirigentes e líderes religiosos.
Ainda em 2015, uma nova operação realizada pela Policia Federal prendeu seis líderes da seita religiosa. Segundo a PF, o pastor que é um dos principais líderes da organização foi preso em Pouso Alegre, e outras cinco pessoas, que formariam a cúpula da seita religiosa, foram detidas em Minas Gerais e Bahia. Além disso, foram bloqueados bens que pertencem aos líderes da seita, entre eles 39 imóveis rurais em Minas Gerais e Bahia, além das contas físicas e jurídicas dos envolvidos.
Para a polícia, um dos desafios é convencer os fiéis a deixarem a seita. “E que os fiéis nesta situação possam voltar para suas famílias. É uma lavagem cerebral muito grande, em uma situação que chega a dar pena. Eles acreditam que se saírem dali, o governo vai colocar um chip na cabeça deles e todo mundo vai ser perseguido”, completa Oliveira.
Com as prisões dos líderes, segundo o delegado, os fiéis perdem a referência de trabalho. A situação será acompanhada pelo Ministério do Trabalho, que fará a rescisão dos contratos fictícios. Os agentes federais estiveram na prefeitura de Pouso Alegre para comunicar que os estabelecimentos pertencentes a seita estão interditados.
Desde o início da manhã foram cumpridos 22 mandados judiciais de prisão preventiva, 17 mandados judicias de interdição de estabelecimento comercial e 42 mandados judiciais de busca e apreensão, todos expedidos pela 4ª Vara Federal de Belo Horizonte/MG. Participam da Operação cerca de 220 Policiais Federais e 55 Auditores Fiscais do Ministério do Trabalho nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Bahia.
Fonte: G1 Sul de Minas
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