Diante do segundo grande surto de febre amarela enfrentado por Minas Gerais, doença que já matou pelo menos 86 pessoas apenas em território mineiro, a distribuição dos percentuais de vacinação pelas regionais de saúde traz à tona uma preocupação a mais. Enquanto a Secretaria de Estado de Saúde (SES) persegue desde o ano passado um índice de 95% de imunização – os números atuais apontam cobertura vacinal de 84%, se considerado o Estado como um todo –, cinco das 10 regionais mineiras com menores índices estão em regiões limítrofes com os estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Os dois vizinhos, ao lado de Minas, concentram os casos confirmados e mortes pela virose no país. Segundo o Ministério da Saúde, além dos três do Sudeste, apenas o Distrito Federal tem confirmação de caso humano, com uma morte já atestada pelas autoridades locais.
O Estado de Minas Gerais é dividido em 28 unidades regionais de saúde, que englobam os 853 municípios. Entre todas, a de Pouso Alegre, no Sul de Minas, na divisa com São Paulo e responsável por uma população de 894 mil pessoas em 55 cidades, tem a cobertura vacinal mais baixa, de 71,49%, bem distante da meta de 95% dos moradores protegidos. A unidade de Passos fica em sexto lugar e concentra 24 cidades das regiões Sul e Centro-Oeste, totalizando 393 mil pessoas.
Já Leopoldina ocupa o sétimo lugar e concentra 15 cidades da Zona da Mata, região limítrofe com o Rio de Janeiro, e uma população de 230 mil pessoas. Já Varginha, que coordena a unidade responsável por 831 mil pessoas de 49 cidades do Sul de Minas, fica em oitavo lugar. O ranking das 10 unidades menos vacinadas é fechado por Alfenas (com índice vacinal de 78,04%), que concentra 26 cidades e 460 mil habitantes (veja mapa).
Os dados mais recentes da Saúde estadual apontam 222 casos confirmados e 86 mortes por febre amarela em Minas. Em São Paulo, boletim divulgado terça-feira informa 235 casos confirmados e 85 mortes, enquanto as autoridades estaduais do Rio de Janeiro contabilizam 82 casos e 37 óbitos. Os números fornecidos pelo Ministério da Saúde ainda estão defasados perante os balanços dos estados, mas só incluem um óbito fora do eixo Minas/Rio/São Paulo, no Distrito Federal.
A baixa vacinação em parte dos municípios preocupa a Secretaria de Estado da Saúde. A pasta afirma que entre as 853 cidades mineiras, mais de um terço, ou 33,88%, ainda não alcançaram sequer 80% de cobertura vacinal; outras 34% tem entre 80% e 94,9% de seus moradores vacinados. A atenção maior é exatamente com os municípios limítrofes com estados onde há também há casos de febre amarela. “Considerando o presente cenário de circulação do vírus da febre amarela silvestre na Região Sudeste do país, faz-se o alerta quanto à necessidade de investigação de rumores de morte de macacos e da intensificação da vacinação nos municípios com coberturas abaixo de 95%.
Devem ter especial atenção os municípios que fazem parte das unidades regionais de Saúde de Belo Horizonte, Barbacena, São João del-Rei, Alfenas, Varginha, Pouso Alegre, Divinópolis, Passos, Juiz de Fora, Ubá, Leopoldina, Uberaba, Uberlândia e Ituiutaba”, informou, em nota, a SES.
Segundo a secretaria, ações de prevenção e controle da doença estão sendo adotadas nos municípios afetados e nos que fazem divisa com outros estados, mesmo sem a confirmação laboratorial de casos. Entre as medidas estão a intensificação da vacinação, da vigilância de mortes de macacos, animais que também são hospedeiros do vírus, investigação de insetos transmissores e vigilância laboratorial das síndromes febris que podem causar hemorragia e problemas no fígado, como é o caso da febre amarela.
Segundo o infectologista Dirceu Greco, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, a baixa vacinação é um risco para o avanço do vírus. “A febre amarela está próxima da gente. A vacina é eficaz, então o ideal é se imunizar, seguindo todas as recomendações”, disse. Para o especialista, a baixa procura pela imunização decorre da falta de informação. “Quando houve o primeiro surto, as pessoas começaram a ficar mais atentas e se vacinaram. Com o arrefecimento, acabam relaxando”, comentou.
“Agora, com a proposta de imunização para o Brasil inteiro, há grande chance de a doença ficar sob controle”, disse, referindo-se ao debate aberto pelo Ministério da Saúde sobre a possibilidade de incluir a imunização contra a doença no calendário vacinal de todos os estados. Atualmente, 21 das 27 unidades da federação têm recomendação para a imunização.
Cidades em emergência
Mais uma cidade mineira decreta situação de emergência diante da febre amarela. As ações para bloquear o vírus estão sendo intensificadas em Ouro Branco, na Região Central, onde já foram confirmadas três mortes em decorrência da doença. A vacinação será ampliada no município, que, diante do quadro, criou uma sala de situação para tomar medidas de contenção do surto. Quatorze equipes de saúde estão fazendo a busca ativa dos moradores que ainda não se vacinaram, visitando casa por casa.
Ações emergenciais ocorrem também em outra cidade que integra a Regional de Barbacena. Na última quarta-feira, Santana dos Montes também tomou medida de contenção do surto. Municípios vizinhos também registraram casos. Piranga confirmou duas mortes e Caranaíba, Itaverava, Jeceaba e Senhora de Oliveira, um óbito cada. Minas Gerais já reconheceu a situação de emergência em 162 cidades.
Fonte: O Estado de Minas informações de Guilherme Paranaiba e João Henrique do Vale
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