A prisão de ex-presidente da República por crime de corrupção é um acontecimento inédito no Brasil. Apesar de recorrentes denúncias de desvios envolverem ex-ocupantes do mais alto cargo da nação, no Brasil, nenhum foi preso por corrupção e lavagem de dinheiro até hoje. No entanto, ex-presidentes brasileiros já foram parar atrás das grades por outros motivos.
O gaúcho Hermes da Fonseca (oitavo a assumir a Presidência da República – de 1910 a 1014) ficou preso entre julho de 1922 e janeiro de 1923. O ex-presidente assumiu a presidência do Clube Militar em 1921 e envolveu-se na campanha pela sucessão do presidente Epitácio Pessoa. Os embates entre o Exército e o governo federal se acirraram na disputa eleitoral e Epitácio ordenou o fechamento do clube e a detenção de Hermes. A prisão deu início a um levante de tenentes que apoiavam o ex-presidente – o episódio que ficou conhecido como “18 do Forte de Copacabana” foi a primeira revolta tenentista que agitaria o país ao longo da década de 1920.
Outro preso foi Washington Luís, logo após ser deposto, em 24 de outubro de 1930, no golpe que colocaria Getúlio Vargas no poder. Ele saiu do Palácio do Catete acompanhado do cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Sebastião Leme, e foi conduzido até o Forte de Copacabana. Depois de deixar a prisão, exilou-se na Europa e nos Estados Unidos. O retorno ao Brasil ocorreu dois anos depois do fim da ditadura Vargas.
O mineiro Artur Bernardes (presidente da República entre 1922 e 1926) também foi preso depois de apoiar a Revolução Constitucionalista deflagrada em São Paulo, em 1932, contra o governo de Getúlio Vargas. Ele tentou sublevar a força pública em Minas em apoio ao movimento paulista, mas não contou com apoio de outras lideranças mineiras. Em setembro de 1932, foi preso em sua fazenda, em Viçosa, e enviado para o exílio em Portugal, onde permaneceu por um ano e meio.
Outro mineiro que viveu dias no cárcere foi o ex-presidente Juscelino Kubitschek (presidente entre 1956 e 1961). Opositor do regime militar desde o golpe de 1964, JK passou vários períodos fora do país após ter os direitos políticos cassados. Ao voltar para o Brasil, em 1967, enfrentou ameaças de apoiadores do regime e passou a ter seus passos monitorados. Em 13 de dezembro de 1968, enquanto o governo de Costa e Silva anunciava o Ato Institucional número 5 (AI-5) – considerado o ato mais duro do regime militar –, Juscelino era paraninfo de uma turma de engenharia que celebrava a formatura no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ao deixar o prédio, o político mineiro foi preso por um oficial e levado para um quartel em Niterói. Lá ele permaneceu preso por 27 dias, até ser liberado para viver em regime de prisão domiciliar.
Pelo mundo
Já em outros países a história é bem diferente. Ao redor do mundo, são vários os casos de ex-chefes de Estado presos após virem à tona escândalos de malfeitos com o dinheiro público. Só no ano passado, três ex-presidentes foram parar atrás das grades: Park Geun-hye (Coreia do Sul), Ollanta Humala (Peru) e Ricardo Martinelli (Panamá).
Primeira mulher eleita democraticamente para comandar um país no extremo Oriente, a ex-presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, teve uma queda rápida e estrondosa. Ela chegou à Presidência em 2013 como uma das políticas mais populares do país. Após seu primeiro ano de governo, em que apostou em um programa de corte de impostos ela atingiu recordes de popularidade e entrou na lista da Forbes como uma das mulheres mais influentes do mundo.
A história começou a mudar completamente em meados de 2016, quando foi revelado que uma de suas melhores amigas, sem ocupar nenhum cargo oficial, usou da influência da presidente para conseguir milhões de dólares de empresas sul-coreanas. Ela foi acusada de compartilhar segredos de Estado, de abuso de poder, coerção e suborno. Com a popularidade despencando para 4%, ela sofreu impeachment no final de 2016 e foi presa em 31 de março. Ontem, Park Geun-hye, foi condenada a 24 anos de prisão por um tribunal de Seul. (Leia mais na pag. 9)
Ex-presidente do Panamá entre 2009 e 2014, Ricardo Martinelli foi preso em junho do ano passado em sua casa em Miami, nos Estados Unidos. Ele é investigado em vários casos de corrupção durante seu governo, e desde o início de 2017 a Interpol havia emitido uma ordem de prisão após ele ser denunciado por usar dinheiro público para espionar ilegalmente mais de 150 pessoas em seu país durante sua gestão.
Martinelli foi citado nas investigações da Operação Lava-Jato e a Suprema Corte apura um suposto superfaturamento de US$ 45 milhões para a compra de comida para escolas públicas e contratos superfaturados com a Odebrecht. O político continua preso nos Estados Unidos, mas pode ser extraditado para o Panamá.
Ollanta Humala, ex-presidente do Peru, foi outro político que deixou o cargo mais alto de seu país e foi parar na cadeia, em 2017. Presidente entre 2011 e 2016, ele e sua esposa, a ex-primeira-dama Nadine Heredia, foram presos em julho do ano passado e respondem por lavagem de dinheiro e recebimento de caixa dois da empreiteira brasileira Odebrecht. A construtora teria pago cerca de US$ 3 milhões não declarados para apoiar sua campanha eleitoral.
Fonte: EM/Fotos Arquivos EM/ Por Marcelo Fonseca
DEIXE SEU COMENTÁRIO | Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site.