O Vaticano anunciou na manhã deste último dia do ano, 31 de dezembro a morte do papa emérito Bento XVI, Bento XVI morreu, às 9h34. Lideranças católicas e políticos brasileiros lamentaram a perda através de suas redes sociais. O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que toma posse amanhã (1º), em Brasília, iniciando o seu terceiro mandato, disse ter recebido a notícia com tristeza.
“Tivemos a oportunidade de conversar na sua vinda ao Brasil em 2007 e no Vaticano, sobre seu compromisso com a fé e ensinamentos cristãos. Desejo conforto aos fiéis e admiradores do Santo Padre”, escreveu Lula.
O presidente Jair Bolsonaro também manifestou pesar com o falecimento do papa emérito. “Embora seu pontificado tenha sido curto, deixa um legado imenso para a igreja católica, para todos os cristãos e para a humanidade”. Acrescentou que Bento XVI fundamentou os seus escritos e ensinamentos na verdade que liberta. “Que seu exemplo e sua obra magistral de grande teólogo e pastor possam educar e iluminar a todos nós”, afirmou Bolsonaro.
Bento XVI, nome adotado pelo cardeal Joseph Ratzinger quando assumiu o pontificado em 2005, faleceu hoje, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Seu estado de saúde vinha se agravando em razão do avanço da idade. Em abril de 2023, ele completaria 96 anos.
Joseph Ratzinger assumiu o pontificado após a morte de João Paulo II. Alemão da cidade de Marktl am Imm, ele abdicou em 2013. Foi o primeiro pontífice a renunciar ao posto desde Gregório XII no século 15. Substituído pelo Papa Francisco, passou então a ter o título de papa emérito.
Palavra de Deus
Autoridades religiosas da Igreja Católica no Brasil compartilharam palavras com os fiéis. Dom Odilo Scherer, arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, escreveu em suas redes sociais: “Que descanse em paz no Senhor e receba a recompensa por seu serviço a Deus, à Igreja e à humanidade. Rezemos em sufrágio por ele”.
Dom José Luiz Majella Delgado, C.Ss.R., arcebispo metropolitano de Pouso Alegre (MG), recebeu com pesar a notícia do falecimento do papa emérito Bento XVI. Em nota emitida pela chancelaria arquidiocesana, Dom Majella destaca que Bento XVI o nomeou para o episcopado, para ser bispo de Jataí (GO), em dezembro de 2009. Além disso, Dom Majella pede que os fiéis da arquidiocese de Pouso Alegre estejam unidos à Igreja neste momento de tristeza e, com preces, peçam pelo descanso eterno de Bento XVI e agradeçam a Deus pelo seu ministério a favor da Igreja Cristo.
Eis a nota oficial de dom Majella:“Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor” (Mt 25).
Nossa arquidiocese, na esperança da Ressurreição, externa profunda tristeza pela passagem do papa emérito Bento XVI para a Casa do Pai. Ocorrida às portas de um novo ano, entra ele num eterno tempo e nas alegrias do Senhor a quem serviu humildemente na sua vinha.
Trago a lembrança e gratidão de ter sido nomeado bispo de Jataí por ele em dezembro de 2009 e peço a todos que elevemos nossa prece de ação de graças por uma vida tão longeva que tanto bem fez para a Igreja de Cristo e o sufrágio por seu descanso eterno.
Que a Bem Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, o receba em sua maternal bondade. Descanse em paz! Em preces! Dom José Luiz Majella Delgado
O Brasil possui a maior concentração de católicos do mundo e, diante da repercussão da notícia, o nome de Bento XVI alcançou rapidamente o topo do ranking de assuntos mais comentados do país na plataforma Twitter.
A Despedida ao Santo Padre
O corpo do santo padre ficará exposto para a despedida dos fiéis a partir deste domingo até o fim da tarde da segunda-feira, enquanto o funeral foi marcado para quinta-feira, às 9h30 (horário local), na Praça São Pedro, em cerimônia presidida pelo papa Francisco.
Simplicidade
Seguindo o desejo do papa emérito, o funeral ocorrerá sob o signo da simplicidade. Será solene, mas sóbrio. O pedido explícito do papa emérito é de que tudo tivesse a marca da simplicidade, seja no funeral, nos ritos ou nos gestos nesse tempo de dor.
O quadro de saúde de Joseph Ratzinger começou a se agravar nos dias anteriores ao Natal, quando ele apresentou problemas respiratórios, porém a situação se tornou pública apenas na última quarta-feira, após o papa Francisco pedir “orações” dos fiéis pela saúde de seu antecessor.
Na tarde daquele mesmo dia, ao fim de uma missa no Mater Ecclesiae, o papa emérito recebeu a extrema-unção.
Conservador
Nascido na pequena cidade de Marktl am Inn, no estado alemão da Baviera, em 16 de abril de 1927, Ratzinger era filho de um policial e uma cozinheira e, na adolescência, foi membro da Juventude de Hitler, etapa obrigatória para jovens durante o regime nazista.
Após a queda da Alemanha na Segunda Guerra, foi prisioneiro dos aliados durante um breve tempo e, após conquistar a liberdade, enveredou pelos estudos religiosos, tornando-se padre e obtendo doutorado em teologia. No ano de 1977, Ratzinger foi nomeado arcebispo de Munique e Freising pelo papa Paulo VI e, em junho do mesmo ano, tornou-se cardeal.
Em 1981, já com a fama de teólogo respeitado, foi nomeado por João Paulo II como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, importante dicastério da Cúria Romana herdeiro da Santa Inquisição.
Renúncia
De orientação conservadora, ele permaneceu no cargo até abril de 2005, quando venceu o conclave para escolher o sucessor de João Paulo II.
Em fevereiro de 2013, no entanto, renunciou ao trono de Pedro alegando não ter mais forças para seguir na função, abrindo caminho para a ascensão do progressista Francisco. Bento XVI foi o primeiro papa a renunciar em cerca de 600 anos.
Após sua abdicação, Ratzinger passou a viver de forma reclusa no Mosteiro Mater Ecclesiae, fazendo raras aparições públicas. Sua rotina era marcada por orações, leituras, correspondências, música e passeios nos Jardins Vaticanos.
Protocolos Rígidos
A Igreja Católica tem protocolos rígidos a seguir após a morte de seu líder. Mas, no caso de Bento XVI que morreu neste sábado, 31 de dezembro, não está claro se esses mesmos protocolos se aplicariam a um papa aposentado, conhecido como emérito. O Vaticano informou que seu velório ocorrerá em 5 de janeiro e será presidido pelo papa Francisco. A partir de 2 de janeiro, o corpo do pontífice emérito ficará na Basílica de São Pedro para a visita de fiéis.
“Nunca aconteceu isso antes, uma situação em que um papa vivo vai ajudar a enterrar um papa morto”, afirmou o historiador católico John McGreevy.
Nem mesmo a Idade Média oferece um modelo a seguir, porque quando Gregório 12 renunciou em 1415, seu objetivo era dar um fim a anos de divisão envolvendo adversários rivais ao papado.
A pessoa que comanda o Vaticano entre a morte de um pontífice e a eleição do seu sucessor é chamada de “camerlengo” — atualmente, é o cardeal Kevin Farrell. Mas como Bento já não era mais papa, algumas das tarefas do cardeal podem não ser mais apropriadas.
Normalmente, o camerlengo tem o papel de confirmar oficialmente a morte do papa, pela tradição, ele deve bater três vezes com um pequeno martelo de prata na testa do pontífice e chamar seu nome.
Ele também supervisionaria a destruição do Anel do Pescador do papa, selaria os aposentos papais, organizaria o funeral e prepararia um conclave para eleger seu sucessor.
Como já existe um outro papa oficial Francisco que já é papa, há uma incerteza considerável a respeito de o que o camerlengo vai fazer.
Regras do funeral
Um funeral papal é normalmente presidido pelo Decano do Colégio dos Cardeais, atualmente função do cardeal Giovanni Battista. Mas, neste caso, o Vaticano já informou que esse papel caberá ao papa Francisco. A cerimônia geralmente acontece na Basílica de São Pedro ou na praça em frente a ela. O papa é então enterrado na gruta sob a basílica.
Cada papa pode especificar seus próprios arranjos para o funeral e, embora a família de Bento XVI esteja enterrada na Alemanha, seu biógrafo, Peter Seewald, disse que ele queria ser enterrado na tumba que pertenceu a seu predecessor, João Paulo 2º, antes de ser canonizado e transferido para outro lugar no Vaticano.
O ritual mais significativo após a morte de um papa, a eleição de um sucessor, não acontecerá. Mas os protocolos exatos que o Vaticano vai seguir não estão claros.
O escritor e jornalista italiano Massimo Franco, especializado em Vaticano, disse à a imprensa como porta voz que todos os procedimentos teriam que ser “escritos do zero” — e que, após a renúncia de Bento 16 em 2013, a Igreja Católica não especificou o que seria feito no caso de sua morte.
Ele também alertou que a eventual morte de Bento XVI poderia ter consequências imprevistas no papado, como normalizar a renúncia de um papa.
“Para alguns dentro da Igreja Católica, a renúncia de Bento representa uma circunstância única que nunca terá que se repetir”, diz. “Para outros, pode representar um precedente e, portanto, pode se repetir. Mas isso continua sendo um grande ponto de interrogação, assim como tudo que envolve a morte e o funeral de Bento16.”
Como Bento XVI foi anteriormente chefe de Estado da Cidade do Vaticano — uma cidade-Estado independente cercada por Roma e governada pelo papa —, é possível que haja um funeral com honras de Estado com líderes estrangeiros convidados. Mas, até o momento, inclusive isso é uma incógnita. O Vaticano vive uma novidade, sem estar preparada, e tudo que acontecer será considerado inédito na história dos papas.
Direto da Redação – Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-64124538
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