Morreu em 14 de janeiro do corrente ano, o advogado Mário Ottoboni, que teve atuação de destaque em projetos de ressocialização de presos. Ottoboni foi o responsável em 1972 pela criação do método APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados), mérito reconhecido pela ONU – Organização das Nações Unidas.
Por esse sistema, os próprios detentos se tornavam responsáveis pela recuperação. Mais de 100 unidades prisionais seguindo essa filosofia foram abertas no Brasil e em mais de 18 países, como Alemanha, Estados Unidos e Inglaterra.
A Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim) divulgou nota de pesar pela morte e ressaltou o trabalho de Ottoboni. “Mário Ottoboni é daquelas pessoas insubstituíveis e seu óbito deixa o mundo mais pobre”, afirma a entidade.
Dr. Mário Ottoboni
Mario Ottoboni, advogado, casado, nascido em 11 de setembro de 1931 na cidade de Barra Bonita, no Estado de São Paulo, desde o mês seguinte ao seu nascimento até sua morte residiu em São José dos Campos/SP.
A APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) e a FBAC (Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados) foram fundadas sob liderança de Mário Ottoboni.
Deixou de lado sua profissão, como fonte de renda, e passou a assistir juridicamente, sem honorários, os presos pobres que são maioria da população prisional brasileira.
A inexperiência no mundo do crime, das drogas e das prisões proporcionou a criação de uma experiência revolucionária – a APAC. A sigla APAC significava Amando o Próximo Amarás Cristo.
No ano de 1974, a equipe que constituía a Pastoral Penitenciária, concluiu que somente uma Entidade Juridicamente organizada seria capaz de enfrentar as dificuldades e as vicissitudes que permeavam o dia a dia do presídio e assim foi instituída a APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados.
Dr. Mário possui um extenso currículo de suas beneméritas atividades como o título de “Cidadão do Mundo, libertador dos presos e dos humildes” do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, realizadas incansavelmente desde 1972, quando nasceu a primeira APAC, na cidade de São José dos Campos – SP, através de um grupo de voluntários cristãos, sob sua liderança, no presídio Humaitá, para evangelizar e dar apoio moral aos presos.
É autor de muitos livros, entre eles: “Vamos matar o criminoso?”, “Seja solução, não vítima”, “Testemunhos de minha vida e a vida de meus testemunhos”, “Franz de Castro Holzwarth”, “A comunidade e a execução da pena”.
Desde 2003, quando Pouso Alegre iniciou a instalação da sua unidade, Mario Otoboni esteve várias vezes na cidade. Tinha predileção pela APAC Pouso Alegre construída numa área de seis alqueires no bairro dos Farias às margens da MG 290. Suas visitas sempre arrebanhavam centenas de pessoas de vários seguimentos da sociedade. Incluindo as da OAB e do Poder Judiciário, pois os presos – embora cumpram pena numa prisão humana e diferenciada, dirigida voluntariamente por membros da sociedade, onde o índice de recuperação chega à faixa de 70%, – seguem rigorosamente a Lei de Execução Penal.
Mario Ottoboni morreu aos 88 anos, na madrugada de segunda-feira, 14 de janeiro, na UTI de um Hospital de São José dos Campos/SP, onde estava internado desde o ano passado tratando um câncer. No final de 2018, por ocasião do Natal, ele enviou uma mensagem aos apaqueanos:
“Lutei até onde foi possível e agora sinto necessidade de parar para descansar. A idade foi barrando meu entusiasmo e Deus pediu-me prudência. Agradeço a Deus tanta confiança e a você e aos companheiros que irão continuar socorrendo os pecadores arrependidos e acolhidos pelo Pai Eterno. Deus nos concedeu a vida para sermos vencedores. Fui, você sabe, muito perseguido e humilhado, mas venci os momentos difíceis porque Deus não me abandonou. Agora preciso descansar. Não deixarei de estar espiritualmente em orações com os apaqueanos, e onde estiver, estarei solidário com os irmãos de fé.Tudo na vida passa, menos o amor que supera o tempo na eternidade. Abraços.”
Nossa homenagem ao Dr. Mário Ottoboni e nossos sentimentos aos familiares e amigos por seu passamento. “Do amor ninguém foge.” Essas palavras brotaram da boca de um recuperando que tinha fama de ser fugitivo. E, com as chaves da cadeia nas mãos, ao invés de fugir da APAC, ele disse isso: “Do amor ninguém foge.”
“Que Deus o ampare nessa caminhada que será percorrida por todos em igualdade de condições. Os bons por onde passam deixam sinais de amor. Para quem ama nada termina tudo começa. Com gratidão e afeto descanse em paz.”
Direto da Redação
DEIXE SEU COMENTÁRIO | Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site.