Os espaços urbanos estão em constante transformação. Arranha-céus são erguidos onde antes havia comércio; residências antigas são substituídas por novas lojas; e terrenos abandonados viram condomínios. E, normalmente, esses movimentos de transformação são acompanhados por obras de alargamento de avenidas e construção de viadutos, já que as políticas de planejamento urbano costumam ser idealizadas tendo o carro como elemento central. Mas isso já começa a mudar e uma revolução da mobilidade urbana está a caminho.
Gestores públicos em todo o mundo já chegaram à mesma conclusão: as cidades vão funcionar melhor quando houver menos carros nas ruas. A “nova mobilidade urbana” vai devolver as cidades aos cidadãos e as pessoas não dependerão mais do carro próprio, mas sim do transporte público, de bicicletas e de carros compartilhados — como os dos serviços de transporte privado de passageiros.
Cidades europeias e asiáticas já possuem sistemas consolidados de compartilhamento de bicicletas. Há anos, existem pedágios urbanos que obrigam os motoristas a pagar para circular pelas regiões centrais.
Devolver as cidades às pessoas
Em muitas cidades brasileiras, Departamentos de Transporte, utilizam-se da Zona Azul para criar os espaços públicos que passaram a priorizar os pedestres em detrimento do carro. Trata-se de políticas baratas e simples para criar espaços de automóveis e devolvê-los aos que verdadeiramente necessitam de vagas para fazerem suas compras. Usando tintas para pintar o asfalto e restringindo o acesso a veículos, muitas cidades criaram praças e bolsões de uso exclusivo de pedestres.
A ideia é diminuir os engarrafamentos, assim como arrecadar dinheiro para a futura revitalização dos municípios que passam por um forte processo de sucatização. Sem rotatividade nos grandes centros urbanos, a vida dos transeuntes fica dificultada para o seu ir e vir. A Zona Azul tornou-se a grosso modo uma primeira solução para desviar comerciantes que fazem da porta de suas lojas estacionamentos particulares, chegam de manhã e só desocupam o espaço, após o seu expediente de trabalho. Em Pouso Alegre, desde que a Zona Azul deixou de funcionar, estacionar no centro da cidade tornou-se quase impossível. A cidade vive um caos quando o assunto é achar um lugar próximo ao local em que necessita parar para breves necessidades de compras ou outros afazeres. Se era ruim para muitos a Zona Azul, agora ficou pior reclamam os que buscam uma vaga na cidade para efetuarem suas compras. Visitantes que vinham de fora com o mesmo intento, estão deixando de vir, pelos mesmos motivos, falta de locais para estacionar seus veículos.
“É uma maneira de você precificar e cobrar um efeito negativo de uma ação individual sua. Você é dono de um carro e usa o seu carro, você eventualmente melhora a sua mobilidade individualmente, mas você gera um atraso de mobilidade coletiva”, explica Philip Yang, pesquisador de planejamento urbano e fundador da Urbem. “A outra possibilidade de compensação por esse efeito negativo de uma ação individual é continuar cobrando para estacionar nos centros das cidades onde o comércio é mais intenso”. Conclui.
Fim dos estacionamentos gratuitos?
O diretor do Instituto Movimento e assessor da ANTP, Eduardo Vasconcellos, reforça que a questão dos estacionamentos gratuitos é crucial e que deveria ser uma prioridade nas discussões de mobilidade urbana em metrópoles brasileiras, como o caso dos grandes centros urbanos de todos os estados. “Hoje, um milhão de automóveis estão estacionados (em São Paulo) sem pagar nada, todo dia. Essa liberdade de sair e estacionar de graça em um milhão de lugares é o que tem que ser reduzido em todas as cidades brasileiras.”
Para Vasconcellos, os preços cobrados em vagas da Zona Azul são muito baixos e não têm o impacto de desencorajar motoristas. De fato, as vagas nas ruas — gratuitas ou muito baratas — acabam servindo como subsídio ao transporte individual. Caso o motorista tivesse que desembolsar mais dinheiro para estacionar, ele procuraria outras alternativas de transporte. E tem mais: a própria tarefa de procurar por lugares para estacionar causa transtornos para toda a sociedade. “Em média, 40% dos carros em centros urbanos congestionados estão circulando em busca de vagas”,
Segundo um estudo com informações de hábitos de estacionamento em 3.700 cidades, realizado pela Inrix, empresa de dados de tráfego, somando o prejuízo de horas perdidas procurando vagas, os valores pagos em estacionamentos e os custos de multas por estacionar em locais não permitidos, chega-se a montantes estratosféricos: um custo anual de US$ 95,7 bilhões nos EUA, £31,2 bilhões no Reino Unido e €45,2 bilhões na Alemanha.
A pesquisa indica ainda que questões relacionadas a estacionar o carro geram estresse e podem ocasionar brigas entres motoristas. Na análise, 32% dos motoristas homens de várias partes disseram ter entrado em confronto por causa de disputas em estacionamentos no último ano; quase um terço de todos motoristas desistiu de fazer compras ou de fazer alguma atividade externa de lazer para evitar a dificuldade de estacionar; e 40% disseram ter perdido algum compromisso por causa da demora em encontrar vagas para estacionar.
Eliminar as vagas nas ruas reduziria todos esses prejuízos econômicos e não econômicos. Na opinião de Yang, uma alternativa seria criar edifícios-garagem em zonas mais densas das cidades, o que aumentaria, de quebra, a área para calçadas e canteiros com árvores.
Fim dos estacionamentos?
O ponto central é que as cidades não precisam mais de tantos estacionamentos. Os serviços de ride-hailing, estão tirando carros da rua, ao oferecer transporte urbano barato, confortável e eficiente para os passageiros. Faz cada vez mais sentido, portanto, não ter carro próprio — ainda mais considerando que os veículos para uso individual ficam 95% do tempo estacionados no local onde seus proprietários trabalham”.
Dessa maneira, como um carro exige de 3 a 4 vagas de estacionamento, quando há redução de veículos nas ruas, a necessidade por estacionamento também cai. E esse efeito já é sentido nas redes de estacionamento privado.
Mais espaços para os cidadãos
Sem a necessidade de tantos terrenos dedicados a estacionamentos, as cidades podem ganhar novos espaços para melhorar a vida das pessoas. Por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, se toda a área construída para estacionamentos entre 2006 e 2015 tivesse sido destinada a moradias, praticamente metade do déficit habitacional do município estaria resolvido.
Um estudo do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento aponta que, neste período, a cidade do Rio de Janeiro dedicou para o uso residencial praticamente a mesma área construída destinada ao estacionamento de veículos. Ou seja, para todo apartamento construído na cidade, outro apartamento de igual tamanho foi construído para abrigar automóveis. Terrenos e espaços públicos são ativos valiosos de uma cidade. A possibilidade de construir moradias, escolas, parques e hospitais em locais que costumavam abrigar apenas veículos estacionados será um um avanço na qualidade de vida das pessoas. E o que tornará isso possível será o desenvolvimento de modais de transporte como a bike compartilhada, ônibus, trem, metrô e carros de ride-hailing como os da 99.
A Zona Azul em Pouso Alegre
Em Pouso Alegre a situação não é diferente, não se encontra vagas para se estacionar, alguns donos de veículos procedem da mesma forma conforme narrados na matéria acima, chegam de manhã para o trabalho, estacionam seus carros, e ali os mesmos permanecem o dia todo até o entardecer quando voltam para suas residências. Com ruas estreitas e poucos lugares para se estacionar a população pede a volta da Zona Azul, que oferecia desde sua criação, rotatividade para usuários de veículos e conforto para quem necessita fazer as suas compras no centro. É um mal necessário, brincam os que ontem reclamavam do sistema implantado na cidade. Uma política de transporte que possa trazer soluções urgentes para o problema tem sido questionado na cidade, além do problema com os ônibus urbano coletivos é preciso pensar urgente em como vai ficar os estacionamentos gratuitos nas principais avenidas centrais da cidade?
Direto da Redação com informações da ANTP / Fotos: Reprodução JC
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