Como encontrar o equilíbrio? Se antes a preocupação do Brasil era com a desnutrição e com o número de crianças abaixo do peso, agora, a grande apreensão é com taxas cada vez maiores de crianças obesas, com excesso de peso. A sociedade atual, com consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, principalmente industrializados, tem de lidar com um quadro grave de saúde. Em menos de uma década, a obesidade pode atingir 11,3 milhões de crianças no Brasil, segundo a Federação Mundial de Obesidade.
Segundo estudo publicado em 2017 na revista científica The Lancet, a taxa global de obesidade em crianças disparou em 41 anos. A prevalência em meninas saltou de 0,7% em 1975 para 5,6% em 2016. Em meninos, a alta foi ainda maior: saiu de apenas 0,9% em 1975 para 7,8% em 2016. Como consequência, 124 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos ao redor do mundo estavam obesos em 2016. Os pesquisadores, coordenado pela universidade inglesa Imperial College London e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), alertam que se a obesidade continuar crescendo nos níveis das últimas décadas, em cinco anos o mundo terá mais crianças e adolescentes obesos do que com baixo peso.
Ivani Novato Silva, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG e presidente do Comitê de Endocrinologia Pediátrica da Sociedade Mineira de Pediatria, explica quando uma criança é considerada obesa: “É aquela que apresenta excesso de massa gorda. Esse excesso pode ser classificado como sobrepeso ou, em grau mais avançado, obesidade. O excesso de peso é devido a uma somatória de fatores, incluindo uma predisposição genética, mas especialmente ambientais, como alimentação inadequada, com consumo em excesso de alimentos industrializados, e sedentarismo, com longo tempo diante de celulares, tablets, TV e jogos eletrônicos. Tudo isso vai levar a um desequilíbrio entre o consumo e o gasto calórico”.
A médica alerta que, embora frequentemente não seja reconhecida como tal: “A obesidade é uma doença sistêmica, então pode afetar praticamente todo o organismo. Desde a infância existem alterações inflamatórias e metabólicas nas pessoas obesas que também podem evoluir com outras manifestações, como a hipertensão, dislipidemias, o diabetes mellitus do tipo II, alterações hepáticas e renais, problemas ortopédicos e respiratórios. E, ainda, as dificuldades comportamentais e de inserção social.”
Com a doença diagnosticada, o tratamento é a única saída. Ivani Novato enfatiza que, considerando os fatores desencadeantes, a principal intervenção inclui a mudança de estilo de vida. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o tempo máximo total de telas deve ser de 2 horas/dia e somente para crianças após 2 anos.
“A abordagem precisa envolver todos os membros da família, visando a mudanças nos hábitos de vida do grupo familiar. Em geral, medicamentos não são recomendados, já que têm efeito temporário e não resolvem o problema. Mas em situações especiais, por exemplo, comorbidades graves e alto risco de morte, aí sim podem ser empregados”, observa Ivani Novato.
GORDINHO SAUDÁVEL
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente, uma em cada três crianças no Brasil está pesando mais do que o recomendado. “Muitas famílias têm dificuldade em reconhecer o excesso de peso dos seus filhos. Acreditam ainda que ‘criança gordinha é saudável’ e subestimam o peso. Ocorre que 80% das crianças com excesso de peso aos 8 anos mantêm o excesso de peso na vida adulta”, alerta Ivani Novato.
Pais obesos, filhos obesos? É hereditária? “Em raras situações, as crianças obesas apresentam algum quadro sindrômico que está associado à obesidade e necessitam de acompanhamento especializado. Frequentemente, vemos pais obesos e filhos obesos, situação ligada principalmente aos hábitos de vida prejudiciais compartilhados pela família. Por isso a necessidade de abordar toda a família”, destaca Ivani Novato.
Diante desse quadro aterrorizador, Ivani Novato avisa que é preciso se preocupar com a prevenção: “Desde os primeiros meses de vida, aleitamento materno exclusivo. Em seguida, evitar premiar com guloseimas, atuar junto às crianças mostrando o que é uma alimentação saudável, estimular brincadeiras ao ar livre e o compartilhamento das experiências afetivas, tudo isso é a base para um futuro mais feliz. E, paralelamente, trabalharmos em conjunto para que medidas protetoras sejam priorizadas”.
Por Lilian Monteiro / Foto: Beto Novaes / Fonte: EM/JC
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