A pandemia do COVID-19 inaugura uma forma diferente de doenças de proporções globais com uma superdifusão de informações, tanto das que ajudam quanto as que desinformam. Ainda que menos letal do que antecessoras, como a síndrome respiratória aguda severa (SARS), que tem taxa de mortalidade de 15%, e a gripe A (H1N1), inicialmente conhecida como gripe suína, que leva a óbito uma média de 5% dos infectados, a doença provocada pelo novo coronavírus ecoou com um alerta nunca antes visto pelo mundo.
Só para se ter uma ideia, em 2009, a gripe A matou 100 vezes mais pessoas. Mas os especialistas alertam que não é apenas histeria e que a nova doença é, sim, perigosa, principalmente por ser de contágio fácil e rápido. “A doença afeta mais idosos (acima dos 80 anos, a mortalidade é acima de 15%) e pessoas com problemas imunológicos. Tem poupado jovens e crianças. Contudo, essas faixas etárias estão disseminando rapidamente a doença onde há transmissão local, como na China e na Europa”, afirma o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva.
O especialista avalia que o sistema de saúde está estruturado e que, ao contrário da pandemia de gripe A, houve tempo para preparo da infraestrutura de saúde do Brasil, uma vez que a doença começou no fim do ano passado na China, há quase quatro meses. “Não se sabe exatamente a abrangência do que vai chegar, pois a doença está no início no Brasil. O problema são os casos graves, que vão demandar quartos de isolamento e leitos de CTI. Se for do nível do vírus H1N1 (gripe A), em 2009, a estrutura que temos pode dar conta. Mas se tivermos 6 mil casos graves, por exemplo, demandando internações, o sistema não consegue absorver”, alerta o infectologista.
Um dos aspectos a se observar, segundo autoridades sanitárias, é que, como o contágio se dá pela proximidade dos infectados com as pessoas, locais com grande concentração populacional podem sofrer com mais doentes, como a Grande BH, que supera 5,5 milhões de habitantes. “São locais onde o povoamento muito denso facilita o contágio, que se dá de pessoa para pessoa. Por outro lado, são os locais onde há uma estrutura de saúde com maior capacidade e estruturação. Estamos no início e a doença não circula ainda, mas é quase impossível que não se torne uma infecção comunitária”, compara Estevão Urbano.
Outro aspecto que preocupa é a possibilidade de surtos isolados em áreas mais afastadas do estado, como o de febre amarela, que ocorreu em 2017 nos vales dos rios Jequitinhonha e Mucuri, demandando envio de auxílio estadual e nacional, inclusive com o reforço da Força Nacional do Sistema Único de Saúde. “Temos a Força Nacional do SUS, a possibilidade de montagem de hospitais de campanha militares. O sistema de saúde está suficientemente estruturado para absorver esses casos, se tivéssemos epidemia de proporções superando a oferta de leitos. Até o fechamento de hospitais para tratar especificamente de casos de COVID-19 seria possível. O cancelamento de cirurgias eletivas para utilizar as instalações hospitalares para infectados. Esperamos que não chegue a esse ponto, mas já há previsão para o combate em vários níveis”, afirma o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
A Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que conta com cerca de 2.800 leitos de internação para tratamento intensivo pelo SUS, entre unidades de adultos, neonatais e pediátrica, reforçados por setores de queimados e coronarianos. Além disso, a rede particular conta com outras 1.590 vagas que podem ser acionadas em caso de emergência. leitos complementares também podem ser convertidos para a internação de casos mais graves, sendo 369 da rede SUS e 139 privados. A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA) mantém 20 leitos de retaguarda para pacientes que necessitarem de internação, sendo 10 leitos de CTI na Santa Casa e 10 leitos clínicos no Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro.
Diagnóstico
Desde a última quinta-feira os exames para diagnosticar casos de COVID-19 passaram a ser feitos em Belo Horizonte, na Fundação Ezequiel Dias (Funed), em vez de na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Contudo, o tempo de resposta, por enquanto, é o mesmo registrado no processo interestadual, de 72 horas. Um dos receios que se tem é de que o grande volume de exames de dengue, zika e chikungunya feitos na unidade mineira possa atrasar uma necessária intensificação de diagnósticos da nova doença. Para se ter uma ideia, o estado já registra 25 mil casos de dengue, o maior índice do país.
Segundo a SES-MG, o exame para pesquisa do novo coronavírus é feito por meio de biologia molecular e a rotina de dengue é realizada com a pesquisa sorológica. “O exame é realizado em outro laboratório, por uma outra equipe. Dessa forma, esclarecemos que não haverá comprometimento na realização de exames. A Funed recebe atualmente, em média, 150 amostras por dia para investigação de arbovírus (dengue, chikungunya e zika). Além do Laboratório Central de Saúde Pública da Funed, existe uma Rede de Laboratórios de Saúde Pública que faz o exame de dengue (Relsp-MG) em 12 municípios, o que tem permitido a liberação dos exames de dengue no prazo”, informou a secretaria.
COVID-19
Vírus: Sars-CoV-2
Ano: 2019-2020
Onde começou: China
Mortos pelo mundo: mais de 5 mil
Taxa de mortalidade: 3,5%
Mortos em Minas Gerais: 0
Mortos no Brasil: 0
Combate: Não há vacina ou tratamento
Fontes: OMS e Ministério da Saúde
Caso suspeito deve seguir protocolo
Conforme o Protocolo Infecção Humana pelo novo coronavírus, os quadros suspeitos são de pessoas que desenvolveram febre e pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, batimento das asas nasais entre outros) com histórico, nos 14 dias anteriores, de viagem para área com transmissão ou contato próximo com caso suspeito ou confirmado. A transmissão ocorre por contato próximo, de pessoa a pessoa, a partir de secreções respiratórias de pacientes infectados, como também pela tosse.
Os casos suspeitos deverão buscar a Unidade Básica de Saúde mais próxima. Ao chegar ao local, deverá ser fornecido imediatamente ao paciente uma máscara cirúrgica e o mesmo deverá ser conduzido a uma sala isolada. Os profissionais de saúde que irão prestar atendimento devem utilizar proteção para aerossóis e precauções de contato (máscara respiratória do tipo N95, proteção ocular, luvas, gorro, capote descartável). O profissional deverá realizar notificação compulsória imediata (conforme Protocolo mencionado) e se inicia o processo de coleta de amostra de secreção conforme kit da unidade
A coleta domiciliar, no SUS-MG, poderá ocorrer em caso de necessidade e conforme organização de cada município quanto às equipes de Saúde de Atenção Primária e ou Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD).
Quando o caso confirmado for considerado caso leve, sem sinais de gravidade, deve-se, preferencialmente, realizar isolamento domiciliar do paciente. Há duas possibilidades para os casos mais graves. Se há indicação de internação em Terapia Intensiva, o paciente deve ser internado em hospitais com leito de isolamento. Quando há indicação de internação em Terapia Intensiva, o paciente deve ser internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de preferência em hospitais com leito de isolamento.
Fonte: OMS/EM/JC
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