O Dia da Sagrada Família é celebrado no domingo seguinte ao Natal, na Oitava do Natal. A sagrada família é constituída por Jesus Cristo; sua mãe, a Virgem Maria; e pelo seu pai adotivo e terreno, São José. A festa da Sagrada Família remonta ao século XVII e consiste na celebração da família santa, como um exemplo de vida familiar para todas as famílias cristãs.
Amor incondicional, simplicidade, união, trabalho e sacrifício são algumas das lições a aprender com a Sagrada Família, “a primeira de muitas outras famílias santas”, na palavras de São João Paulo II a “Sagrada Família de Nazaré, desperta na nossa sociedade a consciência do caráter sagrado e inviolável da família, inestimável e insubstituível. Cada família seja morada acolhedora de bondade e de paz para as crianças e para os idosos, para quem está doente e sozinho, para quem é pobre e necessitado.”
Apesar das dificuldades enfrentadas diariamente, as famílias precisam se fortalecer para que a relação familiar não se resuma apenas a conflitos. Por isso, este dia recordamos a importância de valorizarmos os momentos em família, bem como da importância da educação familiar para vivermos em sociedade, unidos apesar das desavenças que possam ocorrer. O amor ao próximo é muito mais do que saber conviver em paz, é ter o exemplo da Sagrada Família como modelo a ser
A narrativa da perda e do encontro do menino Jesus no templo (Lc 2,41-52) faz parte dos chamados “evangelhos da infância”. Presentes nos livros de Mateus e de Lucas. Esses relatos ainda que tardios recordam tradições antigas, porém sempre nos trazem belos ensinamentos. Como numa casa, em que a porta não é a primeira parte a ser construída, muito provavelmente estes relatos foram a última parte a ser escrita. Hoje, os “evangelhos da infância” constituem os dois primeiros capítulos tanto de Mateus como de Lucas.
Mateus concentra as narrativas na pessoa de José e busca mostrar que Jesus, em paralelo com Moisés, é o verdadeiro libertador do novo e definitivo êxodo. Por isso, apresenta um menino tendo que ser salvo de um novo faraó (Herodes) e lembra as palavras de Oséias: “Do Egito chamei o meu filho” (Os 11,1). Como exilado político, Jesus também faz a caminhada libertadora de seu povo e vem realizar a libertação plena de tudo o que oprime e diminui a vida.
Lucas, por sua vez, além de centrar mais a narrativa na figura de Maria, traça um paralelo entre a figura de Jesus e a de João Batista. Enquanto em Mateus são os sábios do Oriente quem visita Jesus (representando as nações que chegam para homenagear a criança recém-nascida), em Lucas os primeiros a visitar Jesus são os pastores, que deixam maravilhadas a todas as pessoas que escutam o seu anúncio. Também, de acordo com a narrativa de Lucas, Jesus nunca foi ao Egito: Terminando de fazer tudo conforme a lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, a sua cidade (Lc 2,39). São jeitos diferentes de misturar tradição e teologia. E a beleza dessas narrativas está, justamente, em buscar o seu significado teológico mais profundo, o seu sentido de vida. E isso não se alcança ficando preso nas figuras. Porém, olhando para além das imagens.
Lucas inicia a narrativa, afirmando que os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa (Lc 2,41). Na história do povo de Israel, por vários séculos, esta festa era uma celebração doméstica, um momento de memória coletiva do povo, mas também de fortalecimento de vínculos familiares. Entretanto, o rei Josias (640-609 a.C.) determinou que a festa deveria ser celebrada de forma centralizada em Jerusalém, a capital (2Rs 23,21-23). Com essa medida, ele conseguiu concentrar poder através do controle do culto praticado no templo, que ficava em Jerusalém. Houve muita resistência, mas a medida do rei Josias foi imposta pela força bruta e ai os súditos foram obrigados a irem, e isso tornou-se com o tempo, uma tradição.
Para Lucas, os pais de Jesus também seguiram essa tradição, inclusive quando ele completa doze anos (Lc 2,42). Terminada a festa, eles começam a viagem de volta, sem notar que o menino não está na caravana. Depois de andarem um dia inteiro, percebem a sua falta e começam a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Como não o encontram, retornam a Jerusalém (Lc 2,43-44).
O menino é finalmente encontrado depois de três dias (Lc 2,46), como que numa prefiguração da sua própria Páscoa: depois de três dias ele ressuscita. Além disso, a comunidade de Lucas já conhecedora da filiação divina de Jesus escreve essa passagem que fica registrada nos anais da história cristã. Por isso, e desta forma a resposta do menino causa certa indignação profética: Não sabíeis que devo estar na casa de meu pai? (Lc 2,49). A frase não é de tradução muito simples e não fala literalmente de casa. Podemos também traduzi-la da seguinte forma para os tempos atuais: “Não sabem que devo estar com (as coisas de) meu pai envolvido?”
Os pais de Jesus o encontram “sentado em meio aos mestres”. A palavra utilizada por Lucas, normalmente traduzida por “doutores”, é didaskalos (de onde vem a palavra didática, em português). É o mesmo termo empregado mais tarde para referir-se a Jesus: Não perturbes mais o mestre (Lc 8,49). Na narrativa da Páscoa, o próprio Jesus teria usado o termo para falar de si: Direis ao dono da casa: “o mestre te pergunta: onde está a sala em que comerei a Páscoa com meus discípulos?” (Lc 22,11).
Jesus está, portanto, conversando com os mestres do seu povo. De acordo com o texto e muitas interpretações como a que apreciamos em vídeo, a primeira coisa que ele faz é escutar. Como toda criança, ele escuta e pergunta. E como toda criança, é inteligente nas respostas. É possível imaginar a cena de várias formas, inclusive com outras crianças juntas, também escutando, perguntando e respondendo. Como as crianças da época, Jesus ensina e aprende. Se assim não fosse, não teria mais como crescer em sabedoria (Lc 1,52). Quem sabe tudo ou acha que sabe tudo, não tem mais como crescer.
O texto de hoje faz questão de ressaltar que as respostas de Jesus chamam a atenção, deixam as pessoas extasiadas! Como, ainda hoje, muita gente diz: “Mas que criança inteligente!”. Como dissemos, a comunidade de Lucas escreve essa passagem muito tempo depois, já conhecedora da divindade de Jesus. E consegue preservar no texto duas dimensões: um menino que não é nada comum (é o próprio filho de Deus) e que, ao mesmo tempo, cresce e aprende, como toda criança. Cresce, inclusive, em graça, em sua comunhão com o Pai, amadurecendo a sua missão a serviço do reinado de Deus, eu diria naturalmente. E nesse processo, também ensina. Como também nos ensinam as crianças de hoje em dia.
Porem, É impossível não perceber, na narrativa, a aflição e o desespero dos pais. Só quem teve um filho desaparecido consegue dimensionar a dor desta sagrada família. Noites e dias de procura interminável! Angústia, lágrimas e cansaço. E quando a criança é localizada, surpresa, alívio e desabafo, expressos pelas palavras da mãe: Filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos! (Lc 2,48).
Trata-se, no caso da narrativa de Lucas, de uma história de final feliz. Não é esse o caso da experiência de milhares ou até milhões de mães e pais pelo Brasil e por ai afora? Crianças que se perdem nas grandes cidades, crianças separadas de seus pais em situações de guerra e tantas outras condições que temos vistos nos noticiários.
Não podemos deixar de estar presentes a essa dor! Nossa solidariedade tem que ser maior. Como também deve ser maior o nosso esforço para que tais situações sejam menos frequentes. Especialmente no caso das guerras que temos conhecimento pela TV, nossas lutas pacifistas precisam ser intensificadas. Em se não for assim, não estaremos vivendo o espírito natalino: um menino nos foi dado para que toda marca de guerra, toda bota de soldado e todo uniforme militar manchado de sangue sejam queimados (Is 9,4).
A narrativa de Lucas termina reafirmando que o menino crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e diante das pessoas (a mesma frase já havia sido dita referindo-se ao menino Samuel, filho de Ana – 1Sm 2,26). Reafirma também que a mãe de Jesus guardava todos esses fatos (literalmente, essas palavras) no seu coração (Lc 2,51-52). É terceira vez que a frase aparece nos dois primeiros capítulos de Lucas (Lc 1,69 e Lc 2,19).
Guardar os fatos no coração é mais do que ter boas lembranças. 2024 foi um ano amargo para muita gente, e termina daqui a dois dias. Mas foi um ano importante para se reequer e seguir em frente, pois nunca estamos sozinhos, o amor de Deus sempre nos faz companhia, quando uma porta se fecha, muitas outras nos abre, e se Jesus é o Caminho, a verdade e a vida, é nela que temos que prosseguir, confiantes de que o amanhã sempre será melhor. É manter viva a memória e a história, para que as coisas ruins não se repitam e para que os bons ensinamentos permaneçam e produzam frutos. Nada nos acontece por acaso. Depois da tempestade sempre vem a bonança. É atitude, é saudade ativa que fica, porém confiantes vamos em frente. O menino foi encontrado e a felicidade do reencontro é a esperança que dias melhores virão. Que assim possamos também nós sentir e agir! E agradecer a Deus que ainda separa o Joio do Trigo para uma boa colheita.
Direto do Santa Missa em Seu Lar
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