O povo de Deus sempre se manteve atento à Palavra de Deus. Em primeiro lugar, a Palavra era recebida através das narrações dos antigos: dos pais, dos líderes, dos chefes. No tempo das tradições orais, o ensinamento “boca a boca” era transmitido de modo solene e acolhido de todo o coração, como uma verdadeira herança que se vai passando de geração em geração, moldando a personalidade e a consciência tanto de quem escutava quanto de quem falava.
Para que não se perdessem as palavras dos antigos, passaram a ser escritos pequenos hinos e orações, para que fossem decorados com facilidade. Nesses pequenos textos se transmitiam belas e profundas sínteses de fé, que recuperavam a história de Israel e a ação de Deus em seu favor, em tantos acontecimentos maravilhosos. Um resgate da memória e da fé, que nunca se separam na cabeça e no coração do povo de Deus.
Com o passar do tempo, a complexidade da cultura passou a exigir maior elaboração da palavra que se contava e se escrevia. Surgiu então a necessidade de reunir os pequenos fragmentos de textos que circulavam entre as comunidades, numa composição mais ampla e cheia de sentido. Foi assim que nasceram os primeiros livros da Bíblia. As inspirações divinas ganharam corpo em palavras humanas, repletas de fé e de espiritualidade, sem deixar de traduzir os sentimentos e a realidade do povo.
Quando nos reunimos em comunidade aos domingos, revivemos essa experiência do tempo somos animados pela salvação que o Senhor nos oferece e que acolhemos ao ouvir e viver a sua Palavra!
Pelo estudo e oração dos textos bíblicos passamos a conhecer melhor ao Senhor Jesus, e podemos assim crescer na comunhão com Ele e com a comunidade com a qual partilhamos a fé cristã e a vocação batismal. Todos, indistintamente, são chamados a assumir seu lugar e seu papel na missão da Igreja de anunciar ao mundo inteiro o grande plano de amor de Deus, que se abre a todos os seus filhos e filhas.
A missão da Igreja é a própria missão de Jesus. Ele nos envia, tal como fora enviado pelo Pai, para fazer chegar a todas as pessoas a boa notícia, sempre nova e repleta de alegria e esperança, de um tempo novo que se abre para nós em Deus. Uma realidade nova, de libertação de todo poder que escraviza e paralisa a vida, de abertura cada vez maior para o amor e a solidariedade, de conversão de gestos e estruturas para acolher os mais simples e vulneráveis, pobres e injustiçados, perseguidos e marginalizados.
O Evangelho que o Espírito de Deus nos envia a anunciar é a proposta de acolhida sem fronteiras que só o amor é capaz de realizar. Esse projeto divino toma forma em cada gesto concreto que realizamos, animados pela palavra e pelo exemplo de Jesus.
Como o próprio Senhor, somos também enviados às mais remotas periferias existenciais, para ajudar tantos irmãos e irmãs a redescobrir a beleza e a maravilha do amor de Deus e da transformação que ele provoca em nós, quando nos abrimos sem medo e sem reservas à sua vontade ou quando somos chamados a servir.
Mais uma vez nos encontramos para falar de paz e das lutas por liberdade, por justiça e contra todo tipo de opressão. O evangelho de hoje fala exatamente sobre essas coisas. Podemos dizer que Jesus iniciou sua vida pública neste evangelho. Jesus entra na sinagoga, lê um trecho da Sagrada Escritura, escrito pelo profeta Isaías (61,1-2) e ao terminar a leitura diz: “Hoje cumpriu-se esta passagem da Escritura”. Com essas palavras, Ele afirma que veio para libertar. A salvação se torna presente, através de Jesus.
Durante a celebração religiosa, na sinagoga, faziam-se duas leituras: uma da lei e outra dos profetas. Qualquer um dos participantes poderia oferecer-se para fazer uma leitura. Jesus ofereceu-se, levantou-se, escolheu esta passagem do profeta Isaías e fez a leitura. Jesus iniciou a leitura, com estas palavras: “O Espírito do Senhor me consagrou para anunciar a Boa Nova aos pobres”. Já pensou? Boa nova para os pobres? O que pode ser uma boa notícia para os pobres? Anunciar o que para esses marginalizados, sem alimentos, sem saúde, sem dignidade, sem nada?
Realmente, será que Jesus teria algo de bom para anunciar aos indigentes das praças e viadutos, aos idosos e menores abandonados? Que boa notícia poderia ter para os favelados, aposentados e desempregados, os mesquinhos e ingratos?
A Boa Notícia para todos os excluídos chama-se inclusão, aceitação, amor, libertação. Jesus é a própria Liberdade, Ele veio para libertar-nos de tudo que nos separa de Deus e dos irmãos. Veio para libertar-nos do egoísmo e da ganância que geram pobreza, divisão, opressão e violência. Muitos ficaram entusiasmados com Jesus, porém poucos acreditaram em suas palavras e se escandalizaram com tudo que viam e ouviam. Era muito difícil acreditar no carpinteiro que se transformara no Messias. Se fosse hoje, será que nós acreditaríamos?
Imagine aquele amigo de infância, que frequentou a mesma escola e que dividiu conosco os mesmos brinquedos. De repente cresceu e agora se apresenta como o libertador dos oprimidos, aquele que tem o poder de devolver aos cegos a visão. Dá para acreditar? Para aquelas pessoas, certamente foi uma prova muito difícil. Nós somos privilegiados, nossa geração é privilegiada, pois não fomos submetidos a esse teste. Já encontramos tudo pronto.
Nascemos dois mil anos depois. Nesse intervalo, Jesus já nos deu milhares de provas do seu amor e do seu poder, por isso, só não vive suas Palavras e não acredita, quem não quer. Quem acha que o mundo pode oferecer coisas melhores para serem felizes. Nós temos provas evidentes, por isso seremos também mais cobrados. Mesmo assim, apesar de tantas provas, milhares e milhares não acolhem Jesus, não vão ao seu encontro, não vivem suas Palavras, não lutam por dignidade e justiça, nem promovem a paz. E quando chamados, não dão ouvidos, vão em busca de prazeres mundanos e desenfreados, e renunciam sua verdadeira vocação.
Jesus, pelo contrário, identificou sua missão através da Palavra de Deus. Nós também precisamos fazer o mesmo corajosamente em tempos tão difíceis, nos colocando a provas todo o tempo. Evangelizar os pobres de espírito, libertar os oprimidos pela sociedade, remir os prisioneiros das superstições e tradições, recuperar as vistas daqueles que não querem enxergar a verdade e proclamar a Boa Nova a todos os povos é nosso objetivo, são nossas metas, por isso continuemos em frente. E digo mais! Essa tarefa é minha, é sua, é de todos nós! Esta é a missão de cada um dos seguidores de Jesus.
Que este Domingo da Palavra de Deus anime nossa diocese e nossa comunidade e nossas famílias e amigos a redescobrir o encanto pela leitura da Bíblia e pela oração a partir dos textos sagrados. Que esta bonita iniciativa da Igreja, somada ao Mês da Bíblia, e tantas outras atividades realizadas em nossas paróquias ao longo do ano, favoreçam o conhecimento, o interesse e o amor pela Palavra do Senhor.
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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