A nossa vida é um dom muito precioso que Deus colocou nas nossas mãos. Dom este que deve ser investido da melhor maneira possível. – Para quais valores devemos direcionar este dom? Quais são as ações em que mais me empenho? Há algumas que são muito disputados: o sucesso, a carreira, o dinheiro, a beleza, a saúde, a fama, e a maioria das pessoas apostam tudo nelas. Estarão fazendo uma escolha certa?
As leituras deste dia nos convidam a fazermos uma escolha sábia. Alertam-nos sobre o perigo de nos deixarmos iludir por certos valores que todos apreciam, mas que, em verdade, não têm valor algum diante de Deus. Há alguns bens “desvalorizados”, bens pelos quais poucos têm a ousadia de comprometer a própria vida. Entretanto, são estes que devem ser procurados. Os homens deste mundo os consideram com desprezo, mas Deus se apresenta como garantia para aqueles que os buscam.
Recordando aqui a leitura do centro da Bíblia que começa com uma afirmação clara e precisa: “Maldito o homem que confia em outro homem”. As experiências de traição levam-nos a desconfiança. É natural. Mas o que fazer? Ser mais prudente? O significado da angustiante advertência do profeta é outro. Não depositeis a vossa confiança – nos diz ele – nos valores propostos pelos homens. O mundo construído sobre estes valores é como um deserto no qual é impossível habitar; é como um lugar onde não pode existir uma sociedade, onde é impossível viver. Onde a ingretidão fala mais alto do que o amor entre as pessoas de bem.
No entanto o homem abençoado, aquele que pratica “as ações” corretas, protegidas pelo Senhor. Este assemelha-se à árvore plantada perto da água: mesmo durante o período da seca, conserva as folhas verdes e produz frutos saborosos.
Perguntemo-nos: Sobre quais valores fundamentamos a nossa vida? Nos bens materiais, na busca dos prazeres a qualquer preço, no roubo, na vingança, na trapaça, na exploração do trabalho dos outros, no egoísmo, nas amizades que nos conduzem à perdição? Estabelecemos como objetivo da nossa vida o sucesso nos negócios, na política, na profissão…? Estamos perdidos! Mas não está escrito que Deus castigará os que se deixam conduzir por esses míseros valores? O profeta simplesmente constata que uma vida construída sobre tais valores está fadada à ruína: de todos esses bens não sobrará nada! Podemos nos questionar: O fundamento da nossa vida está em Deus? Acreditamos que os valores autênticos são a partilha dos bens com os irmãos, a generosidade, o serviço prestado aos outros, o perdão, a busca da reconciliação? O bem praticado, o amor espalhado, a paz construída permanecerão para sempre!
Um detalhe bonito que o Evangelho de Lucas nos apresenta hoje é esse: Jesus levantando os olhos para os seus discípulos vê neles e em cada um de nós também a pobreza, a fome, o choro, as injustiças, as fadigas, as tribulações. Jesus reconhece nos seus discípulos e em cada
um de nós essa possibilidade da vivência das bem-aventuranças. Ele vê e dá um significado diferente, transforma todas essas realidades em bem-aventuranças, em possibilidade de santificação. Bem-aventurado, não pelo sofrimento, pelo choro, pela injustiça ou pela falta de sorte em si, mas porque nesta condição, Deus estará presente Ele transforma essas realidades em oportunidades de santificação.
Seja em Lucas seja em Mateus, as Bem-aventuranças estão sempre ligadas à montanha. Por quê? Porque, segundo o Êxodo, Moisés recebeu a Lei na solidão da montanha. Só depois desceu à planície, para comunicá-la ao povo. Em Mateus, Jesus, vendo as multidões, subiu a montanha somente com os discípulos. Já em Lucas, pelo contrário, Jesus desceu à planície para aí encontrar a multidão. Na Bíblia, a montanha é o lugar das manifestações divinas, com certeza por causa da solidão e da proximidade do céu, símbolo da transcendência divina. Lucas faz-nos compreender que, agora, esta transcendência faz-se iminente, proximidade. Em Mateus, os discípulos receberam a missão de transmitir a mensagem para o povo.
Já em Lucas, mesmo que esta tenha sido endereçada diretamente aos discípulos, a mensagem foi-lhes entregue na presença da multidão. Nos dois casos, é Deus quem fala: até mesmo a palavra de Cristo só chega a nós através dos intermediários. Uma observação, contudo, se impõe: Moisés desceu da montanha empunhando uma Lei, enquanto que, com os evangelistas, esta Lei torna-se uma Boa Nova. Não se trata mais de um conjunto de exigências, mas de um dom. A recompensa que estava prometida à perfeição moral, cede lugar agora à compensação dos males todos que atingem os homens.
Lucas insiste no «agora». Trata-se do momento de provação; o fim de todos os males é para o futuro. Significa que a alegria anunciada só pode chegar a nós «agora», através da fé e da esperança. E isto nos permite usar tudo o que temos de suportar como meio para atingir o amor, que é a única Lei que permanece. Assim podemos ser felizes mesmo quando somos atormentados pela fome, desprezados pelos homens e pelas lágrimas que muitas vezes teimam em cair. A nossa compensação está no futuro, mas a felicidade é imediata. Só que isto não nos parece evidente. Exatamente por isso Jesus faz questão de revelá-lo, repetindo “felizes” ou “bem-aventurados” quatro vezes em Lucas e oito vezes em Mateus.
Uma insistência significativa, pois é difícil fazer passar esta Boa Nova. A fé sempre exige que se vá além das aparências. Depositemos nossa fé neste que nos fala, sabendo que ela começa por reconhecer nele a Palavra de Deus. Resulta daí que nada verdadeiramente pode nos fazer mal. Paulo diz que nem a vida nem a morte podem nos separar de Cristo. Ora, fazermo-nos um só com Cristo é fazermo-nos um só com o Ressuscitado. Devemos compreender que podemos sofrer o que há de pior neste mundo sem que sejamos infelizes por causa disso.
A verdadeira felicidade se confunde com a certeza de sermos amados, desejados e esperados. Ela deve se conjugar com a paciência. Nossa fé, que obviamente pode muito bem estar presente quando tudo vai bem, estará sendo, verificada quando tudo vai mal. Por ela, já estamos na posse do Reino de Deus. Isto não significa que devamos nos entristecer se, no momento, nada temos de sofrer. As nossas alegrias também são imagem e antecipação do Reino, desde que não caiamos na idolatria do que elas nos proporcionam.
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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