A liturgia deste domingo convida-nos a refletir: aquilo que nos enche o coração e que nós testemunhamos é a verdade que Jesus espera de nós?, ou são os nossos interesses e os nossos critérios egoístas que estão em primeiro plano em nossa vida?
O Livro do Eclesiástico 27, 5 a 8. nos dá um conselho muito prático e muito útil: não julguemos as pessoas pela primeira impressão, deixemos que falem, pois as palavras revelam a verdade ou a mentira que há em cada coração. Recorrendo a três imagens (a da peneira que, quando agitada, põe à vista as impurezas do trigo; a do forno, que obriga o vaso do oleiro a demonstrar a sua excelência; a do fruto, que revela a qualidade da árvore), o texto nos ensina que a Palavra revela claramente o íntimo do coração das pessoas.
É possível ao homem fingir, enganar, disfarçar e encenar determinados tipos de comportamento. Mas a palavra o revela e põe em destaque os seus sentimentos mais profundos. A conclusão é, pois, óbvia: não devemos deixar-nos condicionar pela primeira impressão ou por gestos mais ou menos teatrais que nada significam: só a palavra expressa a abundância do coração. – Quantas vezes temos de reformular as nossas impressões acerca de uma pessoa depois de a conhecermos bem! Um juízo apressado pode levar-nos a ser tremendamente injustos.
A última palavra de Paulo é para convidar a permanecermos “firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor” (1 Cor 15, 58). É um convite a não projetarmos a ressurreição apenas num mundo futuro, mas a trabalharmos cada dia para que a libertação do pecado, do egoísmo, da exploração, da maldade e da morte, se vá tornando uma realidade viva na história da nossa existência. Isto implica, evidentemente, não cruzar os braços numa passividade que aliena, mas nos empenharmos verdadeiramente numa efetiva transformação que traga vida nova ao homem e ao mundo.
O Evangelho nos dá os critérios para discernir o verdadeiro do falso “mestre”: o verdadeiro “mestre” é aquele que apenas apresenta a proposta de Jesus gerando, com o seu testemunho, comunhão, união, fraternidade, amor; o falso “mestre”, ao contrário, é aquele que manifesta intolerância, hipocrisia, autoritarismo e cujo testemunho gera divisões e confusões: o seu anúncio não tem nada a ver com o de Jesus. Ele prefere as coisas do mundo, do que as coisas de Deus.
Segundo Lucas, o verdadeiro mestre será sempre um discípulo de Jesus, o Mestre por excelência; e a doutrina apresentada não poderá afastar-se daquilo que Jesus disse e ensinou. Quando alguém apresenta a própria doutrina e não as propostas de Jesus está, muito provavelmente, desorientando os irmãos. A comunidade deve ter isto presente, a fim de não se deixar conduzir por caminhos que a afastem do verdadeiro caminho que é Jesus.
Há na comunidade cristã pessoas que se consideram iluminadas, que “nunca se enganam e raramente têm dúvidas”, muito exigentes para com os outros, que não reparam nos seus telhados de vidro quando criticam os irmãos. Apresentam-se muito seguros de si, às vezes, com atitudes de autoritarismo, de orgulho e de prepotência e são incapazes de aplicar a si próprios os mesmos critérios de exigência que aplicam aos outros. Quem não está numa permanente atitude de conversão e de transformação de si próprio, não tem nenhuma autoridade para criticar os irmãos.
Finalmente, Lucas apresenta o critério para discernir quem é o verdadeiro discípulo de Jesus: é aquele que dá bons frutos. Quando as palavras geram divisão e tensão, ou quando elas desorientam ou criam confronto na comunidade, elas revelam um coração cheio de egoísmo, orgulho, amor-próprio e autossuficiência: cuidado com esses “mestres”, pois eles não são verdadeiros! Já a palavra que vem do Cristo e ilumina o seu discípulo existe e serve para: “ensinar.
Fazemos cara e assumimos posturas de quem gere, da direção, do comando, como se fossemos os donos da verdade. Tornamo-nos santos e perfeitos diante dos erros e falhas dos outros. Nem sempre nos preocupamos em corrigir nossos próprios defeitos, e apresentamos como modelo de perfeição que deve ser seguido pelos demais. No evangelho de hoje Jesus está denunciando essa nossa pretensão inconsequente. A pretensão de querer guiar os outros, sem estar apto para isto. Assim nos convertemos em cegos querendo guiar os outros cegos. Deixa que eu vou te guiar. Vem comigo que eu te levo até lá. Vão é cair no próximo buraco juntos.
Outro grande defeito nosso é a grande capacidade de perceber as limitações e os pecados das outras pessoas. Reparou que nas brincadeiras entre nós constantemente estamos mostrando os defeitos dos pais, do marido, da esposa e dos filhos ou colegas? Principalmente se temos inveja de alguém. Na rodinha da conversa durante o almoço, durante o intervalo, a tônica é apontar brincando, é claro, os defeitos e as coisas erradas que os companheiros fazem.
Porém nos esquecemos da máxima de Jesus: não faças aos outros, o que não gostarias que te fizessem a ti. Portanto, tudo o que nós desejarmos das pessoas com quem nos relacionamos deverá ser regra de vida para nós. A ser assim, somos convidados a nos ajudar mutuamente na caminhada que fazemos em busca da perfeição. A nem um de nós cabe o papel de “mestre” e de “senhor” da situação, apenas ditando preceitos e normas para que os outros cumpram. É nosso dever, em primeiro lugar, examinar como estamos vivendo e qual o testemunho que nós estamos oferecendo ao mundo para que as outras pessoas sejam guiadas por nós.
Se, estamos cegos e não reconhecemos as nossas próprias falhas; se, não buscamos emendar o que está torto em nós, nunca poderemos nós, aconselhar, exortar ou admoestar alguém que também é passível de erro. A trave nos nossos olhos nos impede de enxergar as nossas fraquezas e limitações, principalmente se estivermos debilitados, doentes e sob efeito de remédios que muitas vezes atrapalham nosso bom humor.
Para tirá-la, ficarmos livres destas opressões muitas vezes até involuntárias, nós precisamos pedir ao Espírito Santo que purifique os nossos pensamentos, sentimentos e as nossas atitudes. Do contrário, Jesus nos lembra, nós poderemos cair no barranco e levar muita gente conosco. Porque não fazemos isso, é que muitos se decepcionam conosco e têm a sua fé enfraquecida se afastando do convívio da comunidade e culpando a Deus pelas nossas incoerências. A começar em mim, eis a regra de ouro!
Direto da Santa Missa em seu Lar
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