O fruto da justiça é semeado na paz”. A liturgia de hoje convida a Igreja e cada um de nós a abdicar da “sabedoria do ímpio” e a buscar a sabedoria do alto e entender os pensamentos de Deus – dizem os textos bíblicos deste domingo – Entender isso, possibilitará ao homem o acesso à vida plena.
A leitura do Livro de Sabedoria nos comunica que se decidirmos escolher servir a Deus provocaremos o ódio do mundo e em muito seremos provados pela nossa ousadia em espalhar as boas novas. Contudo, o sofrimento não pode desanimar os que escolhem os ensinamentos de Deus e os propagam: a perseguição e a ingratidão é a consequência natural da sua coerência de vida. Se quisermos viver bem, com atitudes pautadas pela justiça, temos que entender que irão alguns, armar ciladas contra nós, porque o justo incomoda. A verdade incomoda. A honestidade incomoda.
Na leitura de Tiago o autor nos garante que “o fruto da justiça é semeado na paz”. Por isso, na nossa experiência de vida, e diante dos acontecimentos do mundo, percebemos que tudo o que é disputado com sentimentos de inveja e de rivalidade, acaba levando à derrota.
Apenas a sabedoria que vem do alto poderá nos conduzir ao encontro da vida plena. Ao contrário disso, uma vida conduzida segundo os critérios da sabedoria do homem irá gerar violência, divisões, conflitos, infelicidade e ate morte.
A verdadeira sabedoria diante de Deus se alcança com a concórdia, com a misericórdia, sem parcialidade e fingimentos. A paz somente se consegue semeando a paz. Jesus propõe a solução para nós e para a humanidade: o serviço àqueles que são os últimos de nossa sociedade. Assim, o melhor caminho para experimentarmos o amor de Deus é através da caridade e da acolhida ao próximo a começar por aqueles que mais precisam de nossa ajuda e de nosso amor.
O Evangelho de hoje apresenta-nos uma história de confronto entre a “sabedoria de Deus” e a “sabedoria do mundo”. Jesus, envolvido da lógica de Deus, está disposto a aceitar o projeto do Pai e a fazer da sua vida um dom de amor aos homens; os discípulos, envolvidos da lógica do mundo, têm dificuldade em entender essa opção e em comprometer-se com esse projeto. Como muitos, possuem dificuldades para entender o recado de Jesus.
Os discípulos também não entenderam o anúncio que Jesus faz sobre sua morte e ressurreição. É que o medo de se mostrarem ignorantes lhes impediam de perguntar ao Mestre o que ele queria dizer com aquelas palavras.
Nesta mesma situação, muitos de nós na atualidade também não fazemos essa pergunta, talvez porque, assim como os primeiros discípulos, não compreendemos que Deus é aquele que assumiu a fraqueza da humanidade com suas limitações e sofrimentos. Não entendemos nossas atitudes, nem porque tomamos atalhos em vez de seguirmos em frente.
De modo que nada de que nos acontece lhe é indiferente e menos alheio, porque Ele é o Deus conosco, presente no meio de nossa frágil história humana. A discussão dos discípulos no caminho, sobre quem deles era o maior, manifesta que nada tinham compreendido das palavras de Jesus e tudo ficou do mesmo tamanho.
Jesus os conhece e por isso “explica com toda claridade”, uma vez mais, qual é sua proposta de vida. O detalhe de Marcos ao nos dizer que, depois de estar em casa, Jesus se senta e chama aos doze para conversar e se explicar melhor, isso nos permite imaginar a cena de um encontro privado com aqueles que eram os mais próximos. E ali Jesus começa a dar orientações fundamentais para os seus discípulos.
Jesus tenta explicar mais uma vez: “Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos”. O caminho para ser maior é oposto ao que pensavam os discípulos! Para entender a sentença e o exemplo deixado por Jesus, temos que nos reportarmos para a época de Jesus, onde as crianças eram criaturas insignificantes, não tinham condições de participar da vida social nem religiosa, não tinham importância alguma para o mundo dos adultos. Elas eram marginalizadas da sociedade. Lembremos que os essênios, um grupo religioso muito estimado em Israel, não aceitavam as crianças em seus cultos.
Com seu gesto e suas palavras Jesus mostra-lhes que para o serviço missionário é preciso acolher e cuidar dos desprezados, dos fracos e oprimidos, aqueles que muitas vezes eram considerados os servos e até escravos na sociedade. A imagem de Jesus abraçando a uma criança e fazendo comparação quanto ao futuro, não é só um gesto terno, porque as palavras que Jesus pronuncia apresentou uma mensagem diferente naquele dia.
Chamou uma Criança a Abraçou e disse: «Quem receber em meu nome uma destas crianças, estará recebendo a mim. E quem me receber, não estará recebendo a mim, mas aquele que me enviou».
Jesus identifica-se com aquela criança, com os pequenos da sociedade. Jesus anima a comunidade cristã a acolher essas pessoas em seu nome. A novidade de Jesus e de sua comunidade está justamente em servir em primeiro lugar, aqueles que a sociedade por diferentes motivos despreza e os deixa de lado. Jesus é o menor de todos, pois se fez servo em sentido pleno: até dar sua própria vida.
Lembrando que em muitas situações, a impressão que se tem é que Jesus e os discípulos estavam na mesma estrada, porém percorrendo caminhos diferentes. Cada qual seguindo seus desejos e metas. Não ao chamado e sim as vontades da própria vida.
Estavam com Ele, mas não vivendo como discípulos: cada um tinha seus próprios projetos e interesses. A falta de entendimento, o temor e o silêncio dos discípulos revelavam o abismo que existia entre eles e o Mestre. Por isso digo com toda convicção! Não basta estar junto com Jesus e até mesmo segui-lo através de nossos movimentos e grupos, participar das santas eucaristias, o discípulo precisa escutar com sabedoria e aprofundar a Palavra que lhe é oferecida e vivenciá-la no seu dia a dia. Muitos são chamados, porem, poucos são os escolhidos.
Ao final do Evangelho Jesus mostra que só há lugar na Comunidade cristã para aqueles que se tornam como crianças: simples, humildes e confiantes. Em síntese, o discípulo deve procurar sempre o serviço à luz do Evangelho no Reino de Deus.
E para ficar bem claro, repetimos as palavras de Jesus feitas naquele dia: — “Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele”. Jesus pega a criança, coloca-a no meio de todos, para dizer justamente isto: “Ele veio para acolher os pequenos, os menores, os simples e os humildes. Segue verdadeiramente a Jesus quem se coloca no último lugar, dando a própria vida para que o outro tenha a vida”.
Direto da Redação da IVCM – Diocese Pouso Alegre
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