Dentre as perguntas mais difíceis de se responder figuram estas: Será que no nosso dia a dia podemos dizer se o cristão tem inimigo? E se sim, como pode ter inimigos se é discípulo de Jesus? São perguntas difíceis de responder quando Jesus nos convida a viver este Evangelho plenamente, pois esta é uma das missões mais sublimes do cristão. O Evangelho não nos pede para suportar ou conviver, nos é pedido para amar. Dom supremo e maior das máximas deixado por Jesus para que possamos buscar diariamente nossa santificação.
Quantas vezes fomos feridos na face e oferecemos a outra? Que situação difícil de enfrentar! Nosso desejo primeiro não é oferecer a outra, mas reivindicar, o tapa recebido. Não é verdade? Porque às vezes a vida parece que está contra nós! Parece que é a nossa maior inimiga, parece que nada vai dar certo. E Deus sempre a nos dizer: “se te tomam o manto, entrega também a túnica!” e se te tirarem o casaco não impeça de levarem a camisa. Mas entrega de cabeça erguida! Sabemos ser difícil entender alguns ensinamentos de Jesus, o mestre dos mestres.
Há momentos em que é preciso aceitar as circunstâncias e tentar vivê-las da melhor forma possível. E se conseguimos fazer isso nas horas ruins, fica mais difícil de nos sabotar nas horas boas! Se está tudo bem, se a vida nos sorri, vamos aproveitar! O que estamos fazendo com os presentes que vida nos dá? O que temos feito com a graça que é derramada sobre nossas vidas todos os dias? Temos desfrutado? Em tempos de pandemia é possível ser feliz quando tudo nos pede cautela e distanciamento uns dos outros?
Outro dia tive um problema de relacionamento. Alguém foi grosseira comigo. Uma colega recomendou: “Não deixe que isso estrague seu fim de semana” E eu respondi:: “Não se preocupe. O outro não tem esse poder. Só EU posso estragar o meu dia.” Se escolhemos a melhor parte, em tudo, ela não nos será tirada!
Muitas vezes esse Evangelho nos faz ver um cristão passivo exteriormente, que não reage a insultos, há difamações e até aos maus tratos, porém, não é verdade meus irmãos, muito pelo contrário: este Evangelho nos faz altamente ativos espiritualmente, pois mexe com o nosso “EU” interior, exercitando os dons espirituais e as virtudes existentes dentro de cada um de nós, nos fazendo perfeitos como nosso Pai celeste é perfeito. Quem controla meu eu interior, sou eu mesmo, porque sigo regras e determinações conforme Jesus nos ensinou.
Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; Penso que se conseguirmos viver este versículo, já estamos num estágio de vivência cristã admirável. Esta mensagem mostra claramente o amor radical de Jesus, que nos serve como um sinal dos cristãos. É um amor tão desmedido, que põe à prova os discípulos e nós também, pois é o amor incondicional, sem limites, o amor aos inimigos, que não pode ser compreendido nos padrões terrenos e que só acontece se estiver muito bem alicerçado na fé cristã.
As expressões “amar”, “fazer o bem”, “dar”, aparece por três vezes no texto. “Amar, fazer o bem e emprestar”, é apenas uma boa política, um bom negócio. Para sermos bons cristãos, considerados filhos de Deus, é preciso mais, pois Sua medida, são nossas atitudes. Assim, como julgarmos, seremos julgados; como condenarmos, seremos condenados, mas também, como perdoarmos seremos perdoados. É neste contexto, onde Jesus nos chama à generosidade, praticá-lo é nossa obrigação.
O Pai Celestial é nosso exemplo. Ser como Ele, é ser generoso, pois Ele não julga, não condena, perdoa as ofensas e dá sem medir custos. E nos ama com tanta intensidade, que jamais poderá ser superado. Estejam certos de que nunca poderemos retribuir tanta generosidade. Que todos unidos, façamos um esforço de fazer este mundo melhor através da palavra de Deus que é a verdadeira chave para abrir as portas do coração da humanidade. E como conseguiremos isso? Onde está o grande segredo desta chave? “Sede misericordiosos, como também nosso Pai celeste é misericordioso.”
No Evangelho de hoje, Jesus nos ensina a viver como seus seguidores. No texto o cristão é chamado a fazer a diferença mediante a vivência do amor até aos inimigos. Jesus nos propõe algo difícil de assumirmos, mas não impossível. Como discípulos de Cristo devemos trocar o ódio pelo amor incondicional, a maldição pela bênção e a calunia pela oração, devemos amar a todos sem distinção e não apenas os nossos familiares, amigos e patrícios, pois somos convidados a sermos misericordiosos como o Pai Celestial é misericordioso. De modo que tenhamos na sociedade em que vivemos condições de termos uma vida digna.
Não há nada mais evangélico do que esta máxima de Lucas, Amai vossos inimigos; certamente difícil de ser colocada em prática, sabemos disso. Este ideal pressupõe naturalmente um uso da liberdade muito maduro: ser livre para amar não como eu quero, mas como Deus quer que nos amemos. Sem condições, sem restrições, sem objeções. Cada qual respeitando o seu próximo.
A partir da Ressurreição de Cristo e através dela o homem pode realizar este ideal, pois aí está a ESPERANÇA para tudo o que fazemos, mesmo em tempos de pandemia, onde todo cuidado parece pouco, onde distanciamento, parece desprezo, quando trocamos o aperto de mãos ou o abraço a simples toques de mãos fechadas e mesquinhas.
Amar a partir da Ressurreição é, na linguagem Veterocatólica, possuir uma carne nova, um corpo novo, é viver na força do Espírito que nos confere a graça para realizarmos este ideal evangélico do amai vos uns aos outros, sem condições que nos pede Jesus.
Amar quem nos ama, quem nos elogia, quem nos prestigia, é muito fácil. Todo jogo dos interesses passa por este tipo de relação. Mas amar quem nos prejudica, quem nos amaldiçoa, quem não corresponde às nossas expectativas, é mais difícil e impossível sem a graça de Deus. Por isso, antes de tudo, temos que viver o que a Santa Missa deste Domingo nos esclarece, para depois vivermos o que nos pede Jesus no Evangelho de Lucas: “Domine, in tua misericórdia Speravi”. Esperar na misericórdia, nos diz o Salmista, é exultar pela Salvação, é cantar por tudo o que se nos acontece. O Salmo de Meditação após a Primeira Leitura nos faz conhecer, atestar, confirmar. Misericórdia e Graça são as prerrogativas do nosso Deus.
Assim o Cristo instaurou em nós uma Nova Criação, e a Nova Criação nos convida a este ideal para o qual somos hoje convocados: amar criativamente, como Deus quer, como Jesus amou. Como Cristo se torna o Novo Adão, também nós nos tornamos, com o nosso amor a buscar a beleza do Cristianismo que não existe em nenhum outro lugar. Então meditemos nas palavras de Jesus e Peçamos a graça de buscar viver fraternalmente a alegria do Ressuscitado em nossas vidas! Sabendo que tudo é possível. Amém!
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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