O Evangelho de hoje relata que Jesus, após ser batizado no Jordão, foi visitado pelo Espírito de Deus que O levou ao deserto para ser tentado pelo diabo em três situações (ou provocações): Constantemente passamos por muitas tentações. O Apóstolo Paulo diversas vezes alertou para o fato de que Satanás está sempre lançando ciladas contra as nossas vidas.
Por outro lado, na própria Bíblia, temos exemplos de como devemos nos comportar diante de tais tentações. Um desses exemplos é a tentação de Jesus descrita em Lucas 4: 1-13, onde o próprio Filho de Deus foi também tentado por Satanás.
Percebemos que Satanás usou a fraqueza da carne como a primeira tentativa, pois ele sabia que Jesus estava fisicamente debilitado após o período de jejum. Pede-lhe que transforme pedras em pão. Em outras palavras, o que ele disse foi o seguinte: “É justo o filho de Deus passar fome?”. Mas Jesus venceu o tentador com a seguinte resposta: Nem só de pão vive o homem. Em sua resposta, Jesus cita um texto do livro de Deuteronômio 8, 1 a 3: Mas de toda palavra que sai da boca de Deus.
Jesus não perdeu tempo discutindo ou debatendo com Satanás; Jesus apenas usou a Escritura, a Palavra de Deus. Diante dessa resposta, Satanás percebeu que Cristo usou a Palavra, e também tentou usá-la contra o próprio Jesus:
O que Satanás fez nada mais é do que algo muito comum dentro das igrejas nos dias de hoje. É o chamado “espetáculo da fé“, quando a Escritura é distorcida para que doutrinas de demônios possam ser ensinadas ao povo. Infelizmente muitos homens intitulados “pastores, autoridades religiosas”, têm a mesma estratégia que Satanás teve. Muitos pegam versículos isolados e fazem pré-textos, construindo ensinamentos contrários a Palavra com o objetivo de colocar o homem no centro de tudo, e Deus como um mero mordomo. Quando você encontrar alguém distorcendo a Escritura você já sabe com quem ele aprendeu.
Satanás queria que Jesus se jogasse do pináculo do templo. Ele estava tentando substituir a confiança por um teste, lançando duvida sobre a fidelidade de Deus. Acredite, ele estava usando a Bíblia contra Jesus. Basicamente o objetivo dele era forçar Jesus a tentar contra o próprio Deus. Quantas vezes já não escutamos palavras parecidas. Não é difícil encontrar alguém falando: “Se eu sou homem de Deus, Deus irá fazer isso agora!“. Como dissemos, isso não passa de um espetáculo da fé. Nós devemos confiar que nosso Deus conhece as nossas necessidades. Não devemos cair em práticas que tentam obrigar Deus a fazer o que nós queremos.
No versículo 7, a resposta de Jesus é uma aula de hermenêutica, pois a Bíblia interpreta a própria Bíblia: Não tentaras o Senhor teu Deus! Ainda não estando satisfeito, Satanás faz uma outra tentativa: Transportando Jesus a um alto monte, mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. Tudo isso lhe darei se prostrando, me adorares! Essa tentativa foi um pouco diferente. O que Satanás propôs a Jesus foi algo que chamamos de “apostasia”. Ele queria que Jesus abandonasse a Deus. No mesmo instante, Jesus repreendeu Satanás e venceu aquela tentação no deserto e no fim bradou: Vai te Satanás, porque está escrito, ao Senhor teu Deus adorarás e somente a ele servirás. Então Satanás o deixou, e os anjos se aproximaram e o serviram.
Conta a história que antes de São Cristóvão se tornar santo, ele se chamava Réprobo, era enorme em estatura e bastante feio. Ele havia decidido que buscaria encontrar o maior príncipe existente, a quem gostaria de se dedicar. Depois de se frustrar servindo ao denominado maior rei de todos da época, por notar que esse grande soberano temia o diabo, Réprobo decidiu reiniciar sua busca e tomou conhecimento da existência de Jesus, partindo em Sua procura. No caminho, ao passar por um rio, encontrou uma criança que lhe pediu ajuda. Aquele homem gigantesco, então, colocou a criança nos ombros para fazer a travessia e teve uma grande surpresa: à primeira vista essa não deveria ser uma tarefa difícil porque a criança parecia pequena e leve, mas ao iniciar o cruzamento para o outro lado do rio, deu-se conta do quanto pesado era aquele menino. Descobriu, então, tratar-se de Jesus. Depois desse encontro, Réprobo passou a se chamar Cristóvão, o condutor do Cristo.
Assim também nos comportamos quando buscamos o Mestre Jesus de Nazaré. No início O observamos como se fosse uma criança no sentido de ser fácil de ser compreendida, para depois percebermos o quanto pode se tornar complexa a tarefa de levarmos o Cristo conosco em nossas travessias.
Ao utilizarmos as tentações de Jesus como guia para o autoconhecimento, então, temos a oportunidade de sermos mais crísticos e de desenvolvermos:
Disciplina em primeiro plano para vencermos as ambições do ego, praticando os jejuns que nos fortalecem em nossos propósitos;
Fé para seguirmos nossos caminhos confiantes da presença divina em nosso favor, protegendo-nos, orientando-nos e garantindo-nos o progresso em direção à perfeição e à felicidade;
Amor que nos lembra que somos todos irmãos e ocupamos os mesmos lugares nos planos divinos, protegendo-nos, então, das fantasias do ego, que costuma se iludir com o poder.
Assim sendo, é sempre importante a mente vigilante e o Espírito direcionado ao propósito que desejamos como seres católicos autênticos, porque somos tentados diariamente, e essa fraqueza, nos obriga a uma transformação íntima que muitas vezes não desejamos, mas das quais somos vencidos, somos oprimidos. O progresso moral e a atenção às tentações que podem nos iludir com os tesouros materiais e físicos nos levam a desviar-nos de nossa tarefa na Terra. A de amar verdadeiramente o nosso próximo como Jesus nos pede.
Momentos de deserto, de oração, de imersão em si mesmo, buscando identificar as próprias sombras conflitivas, bem como as más influências externas, é recurso essencial para uma vida mais segura e protegida por Deus.
Podemos aprender muitas lições com esse episódio da tentação de Jesus. Já vimos que o diabo, se preciso, tentará usar a própria Bíblia para nos tentar. Vimos também que ele é especialista em distorcer a Palavra de Deus, e que devemos tomar cuidado para não imitarmos essa prática tão perigosa em nosso dia a dia.
Parece que a figura de Satanás, em suas investidas para dominar a Jesus, o tentou com as coisas do mundo, aquelas desejadas por quem prioriza os valores materiais. Para isso, instigou o a saciar a própria fome, que pode ser entendida no sentido simbólico como cobiça, ganância e ambição; provocou Jesus em Sua espiritualidade, testando a forma como vivenciava a conexão com o Divino e praticava a fé e, por fim, ofereceu-lhe, caso se lhe submetesse, uma posição de poder, que costuma carregar consigo grandes riquezas e prestígios.
Enfim, a mensagem de hoje feita na primeira leitura nos traz a profissão de fé do povo de Israel proclamada durante uma liturgia de ação de graças pelos dons da liberdade e da terra, provando que Deus liberta e caminha com seu povo. Na segunda leitura temos a profissão de fé do povo cristão a qual está fundamentada numa pessoa, Cristo ressuscitado, algo para ser vivido no coração, centro de nossas convicções e desejos. O Evangelho nos ensina que qualquer ser humano, deixando-se conduzir pelo Espírito, assim como Jesus, é também capaz de vencer as tentações. Deixemo-nos, pois, guiar pelo Espírito e, nestes tempos difíceis que atravessamos, nossa ação seja de acolhida e compaixão para com os que sofrem e estão caídos no deserto da vida. Amém!
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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