Neste Domingo a liturgia nos convida a refletir a relação que estabelecemos com os bens passageiros, a riqueza que leva à perdição. Precisamos enxergar esses bens não como algo que nos pertence de forma exclusiva, possessiva. Do contrário, enxerguemos como dons que Deus colocou em nossas mãos, para serem administrados e partilhados, com gratuidade e amor, sobretudo com aqueles que nada têm.
O Evangelho de hoje pode ser dividido em duas partes. Na primeira (Lc 16,19-26), o evangelista nos apresenta os dois personagens: o rico que vive luxuosamente e promove grandes festas e o pobre Lázaro, que tem fome, está doente e vive na miséria.
No entanto, a morte dos dois, muda a situação por completo. As ações boas ou más que ambos cometeram não são relatadas, logo, não parece ser elas quem decide a sorte do rico e de Lázaro. Assim, o objetivo do texto é uma catequese sobre a posse dos bens e o uso deles.
Esse é o único relato de Jesus registrado nos Evangelhos em que Ele atribui um nome para um dos personagens. Portanto, nesta parábola, repetindo, o rico e o Lázaro o nome de um dos personagens foi revelado. Uma coisa que precisa ser ressaltada é que, o relato do rico e Lázaro, transmite ensinamentos importantíssimos, independentemente de ser ou não uma parábola ou, um fato real, contado por Jesus.
Devemos nos lembrar de que as parábolas de Jesus transmitem, por meio de ilustrações, ensinamentos e princípios reais e é isto que nos importa sabermos no momento.
Isso é importante porque algumas pessoas tentam anular verdades fundamentais do ensino do Senhor nesse relato. Por exemplo, alguns negam a realidade do inferno e a consciência após a morte. Eles tentam se apoiar na desculpa de que o relato sendo uma parábola, é uma ficção para ilustrar os ensinamentos de Jesus.
Todavia, há indícios de que esse relato realmente não seja uma parábola, porém é impossível resolvermos definitivamente essa questão ilustrativa, cada qual faça o seu julgamento. Procurando entender seu sublime significado.
O que lhes posso afirmar é que são muitas as lições que podemos tomar desse relato sobre o rico e Lázaro. Antes, precisamos enfatizar que a causa principal desta história do Rico e Lázaro é a advertência que Jesus nos faz contra a avareza.
A verdade é que as riquezas terrenas de nada valerão na eternidade. Isto fica muito bem claro no texto. Essa história é um convite ao arrependimento enquanto ainda há tempo. Após a morte, nada mais poderá ser feito. Estabelecido esse ensino principal, agora podemos pontuar algumas lições derivadas desse princípio, vejamos:
1. O problema não é ser rico: não existe nenhuma passagem bíblica que ensina que é pecado ser rico. O que a Palavra de Deus condena é o amor ao dinheiro. Não se pode servir a Deus e as riquezas. Muitos personagens bíblicos foram ricos, como por exemplo, José de Arimateia, um homem que viveu nos dias de Jesus. O ensino bíblico é de que alguém é verdadeiramente rico quando compartilha suas bênçãos materiais e espirituais com os necessitados.
2. A auto-justificação não pode livrar ninguém: como vimos, essa parábola foi direcionada aos fariseus, pessoas que achavam que poderiam se apoiar na justiça própria. Eles chamavam Abraão de pai, assim como o rico, e pensavam que por sua linhagem tinham um lugar garantido no Paraíso. A Palavra de Deus nos revela que é somente através da justificação pela fé em Jesus Cristo que poderemos desfrutar da bem-aventurança eterna (Romanos 5:1)
3. Após a morte, nada mais poderá ser feito: mesmo que o relato do rico e Lázaro for identificado como sendo uma parábola, não podemos negar, de forma alguma, que verdades definitivas acerca da vida por vir são reveladas muito claramente. Esse texto nos ensina que mesmo que exista, “conforme narrado no texto”, qualquer possibilidade de comunicação entre vivos e mortos. Não é possível alterar a condição de condenação eterna após a morte. A condição de bem-aventurança, como a de Lázaro, ou a de condenação, como a do rico, está fixada para sempre. A oportunidade de vivermos uma vida de acordo com a vontade de Deus deve ser aproveitada aqui e agora.
4. O sofrimento é eterno e sem alívio: o ensino que a morte é um sono, e que a pessoa fica completamente inconsciente não encontra sustentação bíblica, é um erro acreditar que quem morreu esta dormindo. Esse ensino se equivale de interpretações equivocadas de algumas passagens do Antigo Testamento. Na Parábola do Rico e Lázaro, Jesus deixou muito claro que, os que já partiram estão plenamente acordados e conscientes de tudo que fizeram enquanto vivos. Alguns aguardam o dia do juízo na bem-aventurança, enquanto outros aguardam em sofrimento nos purgatórios da vida.
5. A salvação é uma obra inteiramente divina: se Espírito Santo não regenerar o pecador, nem mesmo o maior dos milagres poderá fazer com que ele se convença de seu pecado. O rico pediu para que Abraão enviasse Lázaro, e depois qualquer um dos mortos, para que fosse ter com seus irmãos para que estes pudessem se converter. É claro que o rico mais uma vez estava completamente, equivocado. O Evangelho de João nos fala de outro Lázaro, aquele que ressuscitou dos mortos. O resultado dessa ressurreição não foi a conversão dos incrédulos, ao contrário, eles começaram a planejar a morte do próprio Lázaro que acabará de ser ressuscitado (Jo 11).
Por fim, a própria ressurreição de Jesus nos mostra que, se Deus não chamar soberanamente o pecador em sua graça, nunca tal pecador será salvo, ainda que alguém ressuscite dentre os mortos. O homem, morto em delitos e pecados, jamais abandona sua obstinação em ser inimigo da Palavra de Deus. O rico, mesmo após a morte, não demonstrou arrependimento. Ele apenas lamentou seu sofrimento, mas em nenhum momento indicou que compreendeu os mandamentos do Senhor.
O caráter do rico continuou o mesmo. Ele enxergou Lázaro como um simples servo. Tentou se aproveitar de sua condição de descendente de Abraão ao chamá-lo de “pai”. No final, ele ainda pensou que, até mesmo na eternidade, seus caprichos poderiam ser atendidos. Também devemos ressaltar que Abraão é considerado na Bíblia como o grande patriarca do povo judeu. Mas não apenas isto, ele também é considerado como o pai de todos os redimidos que creem em Jesus (Rm 4:11).
Outra coisa interessante é o fato de que no relato, Lázaro não pronuncia uma única palavra, nem enquanto estava vivo, nem mesmo após a morte. Diferentemente do rico, Lázaro em nenhum momento precisa tentar se auto justificar.
Isto nos quer dizer que, na perspectiva de Lucas, a riqueza é um pecado, pois supõe a apropriação, em benefício próprio, de dons de Deus que se destinam a todos, para serem partilhados e assegurar-lhes uma vida digna. A parábola mostra que o amor da riqueza torna o homem cego e mesquinho para Deus.
Para nós, Cristo ressuscitou e é o caminho para a salvação. Infelizmente, muitos, ainda, continuam a ser cegos e mesquinhos, não se decidem diante dessa realidade, ou seja, utilizar dos bens que possui para fazer o Reino de Deus acontecer, e sabe como isso pode acontecer? Pela acolhida, auxílio e solidariedade entre os irmãos. Muitos são perdoados porque não sabem o que fazem.
A segunda parte do texto (Lc 16, 27-31) confirma o que já foi exposto, ou seja, o caminho seguro para aprender e para assumir a atitude correta em relação aos bens é ouvir a Palavra de Deus, principalmente neste mês da Bíblia, ser transformado por ela e colocá-la em prática na sua vida. Quem recusa esse projeto e escolhe viver fechado no seu egoísmo e na sua autossuficiência, não faz parte desse mundo novo de fraternidade que Deus propõe. Eles fecham suas portas de oportunidades, e fazem de conta que tudo está dentro da normalidade.
Jesus ensina na ilustração de hoje, que não somos donos dos bens que Deus colocou em nossas mãos, somos apenas administradores, encarregados de partilhar com os irmãos aquilo que pertence a todos. Como ele, todos nós devemos anunciar e viver o projeto de Deus que passa por um Reino de fraternidade, amor e partilha. Que amemos uns aos outros como Ele nos amou.
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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