A liturgia deste 6º domingo do tempo comum, nos fala sobre a Lei de Deus. Somos impressionados pela afirmação de Jesus no Evangelho: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade, Eu vos digo: antes que o Céu e a Terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra” . O Cristão verdadeiro precisa ter muito cuidado com suas palavras, com suas ações, com seu modo de ser.
Como cristãos, deveríamos ficar inquietos com tais palavras, afinal nós não observamos mais as Leis de Moisés: não nos deixamos circuncidar, não guardamos o sábado, não somos contrários às imagens sagradas, não fazemos restrições alimentares, distinguindo entre alimento puro e impuro. E agora: como lidar com essa palavra tão clara de nosso Senhor Jesus Cristo?
Jesus afirma, por essas palavras, que não veio abolir a Lei, veio para cumpri-la. Mas, cumprir aqui não significa obedecer a Lei, senão realizá-la, dar cumprimento ao que ela anuncia e promete! Assim, cumprindo a Lei, Jesus realiza o que ela anunciou e a reforça. Ele não a despreza; cumpre-a plenamente e, cumprindo-a, supera-a definitivamente! E Faz isso também como exemplo.
Com o seu nascimento, morte e ressurreição, nem uma letra, nem uma vírgula da Lei ficou em vão: tudo se cumpriu n’Ele, a plenitude da Lei e dos profetas. Eis porque, no Tabor, Moisés e Elias, a Lei e os profetas, apareceram envoltos na glória de Jesus (cf. Lc 9, 29-32). É Cristo quem leva a Lei e os profetas à plenitude do cumprimento. É Ele, e só Ele, que tudo realiza em comunhão com o Pai e o Espírito Santo.
Poderíamos perguntar: Então não há mais lei alguma no cristianismo? Os cristãos são livres para fazerem como bem desejarem, para viverem como bem imaginarem, tudo em nome da bondade e da misericórdia de Deus revelada em Jesus? Não. Esse pensamento seria totalmente falso. Não nos enganemos! O apóstolo Paulo nos previne contra esta ideia errada: “Iremos pecar porque não estamos sob a Lei, mas sob a graça? De modo algum!” (Rm 6,15). Ele mesmo responde. A Lei de Moisés foi superada, mas o cristão vive sob uma nova Lei, muito mais santa, profunda e exigente, dada no Espírito Santo de Amor. Por isso, o Espírito foi derramado sobre a Igreja no dia de Pentecostes.
Para os discípulos de Cristo, a Lei é essa ação do Espírito de Amor que no Batismo foi derramado em nossos corações (Rm 5,5). O cristão vive agora debaixo dessa Lei do Espírito. O Apóstolo diz: “Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós”. “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo!” (Rm 8,9). Portanto, é esse Santo Espírito, que nos dá a Vida de Cristo, seus sentimentos e sua sabedoria, bem diferente daquela do mundo, para vivermos segundo o Mestre.
A verdadeira sabedoria, da verdadeira Lei, somente pode ser revelada através do Espírito, que “esquadrinha as profundezas de Deus”. Ficai atentos, irmãos: é o Espírito que Cristo nos deu no Batismo e nos dá sempre de novo nos sacramentos da Igreja, quem imprime em nós a nova Lei, a Lei do Amor! Do respeito ao próximo.
Para os cristãos, a Lei, os mandamentos, resumem-se nisto: amar a Deus e amar os irmãos como Cristo nos amou. E amou até entregar-se na Cruz! Eis a Lei e a medida, eis o desafio e o consolo, eis a nossa desolação. Sigamos o conselho do Eclesiástico: guardemos o preceito de amor do Senhor e viveremos nele, graças à presença do seu Espírito em nós. Deixemo-nos conduzir por ele e obedeçamos a sua voz em nós, pois “o Senhor não mandou ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar” (Eclo 15,21), muito menos pecar contra o Espírito Santo de Amor, que nos impele a amar como Jesus amou.
Coragem, pois o que é impossível ao homem não é impossível ao Senhor. Por isso, ele nos deu o seu próprio Espírito, para que impulsionados por ele, tenhamos em nós os seus sentimentos, suas atitudes, cumprindo o preceito do Apóstolo: “Tende em vós os mesmos sentimentos do Cristo Jesus” (Fl 2,5). Desta forma, podemos compreender a Palavra do Senhor Jesus: “Eu vos digo: se a vossa justiça não for maior que a justiça dos escribas e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,26).
Para o cristão, a Lei é o Espírito de Cristo, Espírito de Amor, que nos imprime no coração os sentimentos de Cristo Jesus. A justiça do cristão, sua prática religiosa é impulsionada pelo Espírito de Jesus imolado e ressuscitado. Assim, no Evangelho de hoje, o Senhor dá três exemplos da Lei mosaica, indo direto ao mais profundo contido neles. São exemplos que nos mostram que o Espírito de Amor em nós, leva-nos a amar na medida de Cristo, que nos amou sem medidas.
Que mistério, que desafio: diante do amor de Cristo. Pensemos em tudo isso e deixemo-nos guiar pelo Espírito de Cristo. Que ele mesmo venha encontrar em nós, o poder do perdão e do amor no cumprimento da sua lei e nos fazer sentir, pensar, falar, agir e viver como cidadãos do bem, complacentes com nossos semelhantes. A ele a glória pelos séculos eternos. Amém.
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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