A grande imagem da liturgia de hoje é a morte. Para muitos de nós, a morte causa medo, angústia, tristeza e até desespero. Mas o que se quer ressaltar não é a morte em si mesma, mas a vida nova que nasce a partir das diversas experiências de morte que possamos ter. Jesus disse a irmãs Maria e Marta, aquele que crê em mim não morre, tem a vida eterna.
É esse o canto de esperança que brota das profundezas, que o salmista entoa na liturgia de hoje. Israel não desanima, pois o Senhor é graça e salvação, e não abandona seu povo. A tristeza e angústia de quem tem fé se transformam em espera vigilante pela ação do Deus libertador. Assim acontece no nosso Batismo, o Espírito de Deus é quem conduz a nossa vida.
O Evangelho de hoje nos relata um fato que se coloca próximo à Páscoa do Senhor: a ressurreição de Lázaro. Ela é ao mesmo tempo dramática e reveladora de uma profunda esperança. Mostra Jesus que a princípio parece não se preocupar com o recado de que o amigo estava enfermo, mas ao chegar e ver que já havia morrido, chora e se compadece da dor humana. Por isso, Ele vem em nosso auxílio e nos consola com a sua presença misericordiosa. Os discípulos aparecem meio contrariados e amedrontados, com a morte de Lázaro, amigo de Jesus, mas também, se mostram assustados com a possibilidade da morte do próprio Mestre, que se aproxima em lugar onde era perigoso o Mestre estar.
A profissão de fé de Marta revela o projeto de Deus para todos os homens e mulheres deste mundo: Jesus é a ressurreição e a vida. O Filho de Deus que nos abre as portas do coração do Pai é guia e luz no caminho para Ele. É crer verdadeiramente que para Deus nada é impossível!
É preciso, porém, deixar que muita coisa morra em nós para alcançarmos a plenitude de Deus. Nossos medos, insegurança, apegos, mágoas, egoísmo, discriminações, falta de perdão, de amor ao próximo, indiferença, fome, doenças e tantos outros males são sinais de morte que teimam em impedir nossa vida nova com Cristo.
Com o intuito de animar o povo fiel nesse itinerário ao encontro do Senhor, a Campanha da Fraternidade deste ano propõe que voltemos o nosso olhar para os nossos irmãos mais necessitados, afetados pelo flagelo da fome. Ainda hoje, “milhões de pessoas sofrem e morrem de fome. A indicação dada por Jesus aos seus apóstolos” – “Dai-lhes vós mesmos de comer” é dirigida hoje a todos nós, para que partilhemos — do muito ou do pouco que temos, com os nossos irmãos que nem sequer tem com que saciar a própria fome.
Não podemos nos esquecer que a comunidade dos discípulos de Jesus é também missionária. Deve estar sempre preocupada com a urgência do Reino de Deus e das pessoas e ir ao encontro dos que sofrem e morrem sem esperança. A Igreja, deve ser sinal de esperança e vida para o nosso mundo atribulado, marcado pela cultura do descartável e da morte. Ninguém deve ser descartado, ignorado, quando busca solução para seus problemas, quando arrepende-se de suas faltas, morre por falta de recursos ou porque foram abandonados a própria sorte.
Que nesta Quaresma, nosso coração se torne mais dócil à Palavra de Deus. Que se abra ao cuidado da vida, em todas as suas dimensões, a exemplo de Jesus, nosso Senhor que amou e ama a todos sem distinção.
Estejamos atentos a toda fome de pão e de justiça que brota da mesa e do coração do nosso povo sofrido pelas mazelas da indiferença que conduz à morte. Que em nossos lares e comunidades, tenhamos condições de ressuscitar pessoas, mostrar as realidades, a aquelas que já experimentam a morte da esperança, da fé e da caridade no dia a dia.
Meus irmãos da mesma forma que julgamos nossos semelhantes seremos julgados, e da mesma forma que tratamos nossos irmãos, seremos tratados. Eu costumo dizer que plantamos aquilo que iremos colher um dia. Que sejamos mais juízes de nós mesmos e que olhemos nossos irmãos como olhou Jesus, quando se encontrou com o amigo Lazaro morto já a quatro dias, com misericórdia, com bondade e amor, ele o levantou das trevas para a vida, estendendo-lhe sua mão caridosa e amiga. Tem muita gente queridos irmãos precisando voltar a viver.
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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