Neste 24º Domingo do Tempo Comum, a liturgia nos convida a refletir sobre um dos temas mais importantes do cristianismo: o perdão. Mas não é qualquer perdão. Não é o perdão pela metade, se é que isso existe; mas sim o perdão total, completo, não importando a quantidade de vezes que nossos irmãos nos tenham ofendido. Algo que não é nada fácil. É um dos maiores desafios do cristão. Por essa razão, ser cristão não é fácil. É preciso passar sempre por um processo de conversão. Somente uma pessoa convertida é capaz de perdoar até setenta vezes sete e não apenas sete vezes.
Mas, por que perdoar sempre?
Porque o perdão é o único caminho para obter e construir a paz. Quem não consegue perdoar conserva dentro de si sentimentos detestáveis, como o rancor e a raiva, afirma a primeira leitura do livro do Eclesiástico. O rancor e a raiva são sentimentos que nos corroem por dentro, nos destroem e vão matando aos poucos. Quando eles se instalam dentro de nós, fazem a vida perder qualidade. Quem traz dentro de si esses sentimentos se torna triste, mal humorado, de mal com a vida, enfim, profundamente infeliz. Tudo o que faz é canalizado para o desejo de vingança. Assim, a pessoa não tem mais tempo para fazer o bem, para amar e ser amada. Vive amargurada e infeliz.
O Evangelho de hoje é um profundo ensinamento sobre o perdão. Ele ensina a perdoar sempre. Pedro pergunta para Jesus se deveria perdoar até sete vezes se o irmão pecasse contra ele. O número sete e seus derivados têm na Bíblia um significado simbólico. Significam plenitude, totalidade. Assim, a resposta de Jesus é que devemos perdoar sempre. O perdão não se mede apenas por quantidade de vezes que se perdoa, mas pela profundidade e sinceridade com que se perdoa.
O rei que resolveu acertar as contas com seus empregados é Deus. Aquele que lhe devia uma enorme fortuna pode ser qualquer um de nós. Todos nós temos dívidas impagáveis com Deus, e um dia teremos que acertar as contas com Ele. Não podemos abusar de sua misericórdia e não medir as consequências do pecado. Ele quer a nossa conversão. Como a nossa dívida é impagável, imploramos o perdão e Ele se compadece e nos perdoa.
Porém, espera que façamos o mesmo com nossos semelhantes. Mas o que ocorre muitas vezes é que, mesmo recebendo o perdão de Deus por tão grande dívida, não temos um coração suficientemente generoso para perdoar o nosso próximo, mesmo que o próximo tenha feito algo irrelevante. É o que ocorre com o empregado perverso. Ele recebeu o perdão de uma grande dívida, mas ao sair não perdoou seu companheiro, que lhe devia apenas cem moedas.
Será que isso acontece conosco?
Quantos são os que acabam de sair do confessionário, aliviados pelo perdão de Deus, mas não estão dispostos a perdoar seus irmãos? Esta atitude é uma provocação a Deus e ao próximo, pois revela nossa incoerência entre aquilo que queremos para nós e o que queremos para os outros. Esquecemos que o mandamento de Deus é amar o próximo como a nós mesmos. Se os amássemos como a nós mesmos, daríamos o perdão porque queremos o perdão de Deus.
Tudo o que fazemos não é para nós, mas para Deus, diz Paulo na segunda leitura, aos Romanos. Quando fazemos o bem para o próximo, é para Deus que fazemos. Quando amamos nosso próximo, damos provas de que amamos verdadeiramente a Deus. Porém, se não amamos nosso semelhante e não o perdoamos, também não amamos a Deus. Bloqueamos nossa relação com Deus quando não amamos nosso próximo, quando não perdoamos. Lembremos que quando confessamos nossos pecados, Deus não fica repetindo as nossas faltas, se queixando de nós, como muitas vezes fazemos com nossos irmãos. Deus “não guarda eternamente seu rancor”, diz o Salmo de hoje.
Então porque guardamos rancor daqueles que nos magoaram?
Se quisermos uma vida em paz e com liberdade, é preciso aprender a perdoar. Somente os que aprenderam a perdoar são felizes verdadeiramente e levam a vida conforme os ensinamentos de Deus. Então exercitemos isso dentro de nós para nos tornarmos, a cada dia, pessoas melhores. À medida que nos tornamos pessoas melhores, tudo em nossa volta melhora, porque melhoramos nossos relacionamentos. O mundo e a vida se tornam melhor, porque nós estamos melhores interiormente.
Direto da Santa Missa em Seu Lar
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