Queridos irmãos, queridas irmãs, nesta celebração deste domingo, 27 de setembro de 2020 – “Os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no reino dos céus”, disse Jesus com muita naturalidade às autoridades judaicas que o escutavam no Templo. Podemos imaginar o escândalo que estas palavras, com certeza, causaram aos ouvidos dos “justos” de Israel! Ser precedido nos céus por uma prostituta ou um cobrador de impostos?! No tempo de Jesus, os cobradores de impostos eram totalmente desonestos. Não poderia se ouvir ofensa maior. Ser colocado para trás logo por quem? Por pessoas de má reputação?
Mas, a pergunta é, por que Jesus reprova tanto estes sacerdotes e anciãos? Onde foi que eles erraram? Exatamente na incoerência entre o “falar” e o “fazer”. E Jesus mostra isso claramente com a parábola dos dois filhos. Nela, para ambos os filhos, o pai pede cordialmente que trabalhem na vinha. O primeiro está decidido: “Não quero!”, mas pensa melhor e aparece lá para trabalhar. O segundo se prontifica imediatamente: “Sim, Senhor, eu vou!”, mas não move uma palha nem sai do lugar onde se encontrava.
No primeiro filho, as palavras até parecem brutas, mas a ação é boa. No segundo as palavras são boas e gentis, mas falta a sua realização. As palavras por si só não salvam, é preciso praticá-las. O próprio Jesus já havia alertado: “Nem todo aquele que diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Já o exemplo do primeiro filho é autêntico: ele cumpre a vontade do pai não com palavras, mas com ações. É aquele que vai e faz o que tem que ser feito.
Jesus, no trecho evangélico, insiste, porém, sobre um aspecto importante: sobre a concretude da resposta. A adesão do homem a Deus é livre, mas deve ser concreta e eficiente. Não é quem diz “Senhor, Senhor” que entra no Reino dos Céus, mas quem faz a vontade de Deus. Quem arregaça as mangas e traduz em gestos e fatos de vida cotidiana a vontade de Deus. Dos dois filhos da parábola, Jesus diz que prefere aquele que recusa, mas depois se arrepende e faz aquilo que o pai lhe pediu; prefere a este porque o outro diz sim ao pai, mas depois não faz nada e não vai para a lavoura trabalhar.
Os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus. A salvação é coisa pessoal e se decide na atitude que cada um assume diante de Deus. Cada um tem a possibilidade de se salvar, mas somente se o quiser; sinal disso é o perdão que Deus dá sempre e generosamente a quem decide deixar a vida do mal para converter – se a Ele de todo o coração. Ninguém, portanto, está condicionado irremediavelmente na vida pelo seu passado, mas pelas coisas presentes que se prontifica a realizar.
Os chefes judaicos até que estavam de acordo que a vontade do Pai, ser cumprida com ações, mas não estavam de acordo de jeito nenhum com a aplicação que Jesus fizera desta parábola. Assim, percebemos que tipo de distância abismal havia entre o dizer e o fazer na religiosidade daquele tempo e que é tão viva ainda nos dias de hoje. A reprovação de Jesus é dirigida a quem dá mais valor às aparências do que à essência, mais às palavras que à prática, mas ao exterior que ao interior. Se formos fazer um exame de consciência bem-feito, vamos perceber imediatamente como somos parecidos com aqueles fariseus, como o segundo filho pronto a dizer “sim” com os lábios, mas a não fazer quase nada quando o assunto é cumprir a vontade de Deus.
A exortação de Jesus se torna ainda mais provocante, porque contrapõe aos seus interlocutores os publicanos e as prostitutas. Para os chefes dos judeus, o fato de serem mencionados junto a pessoas dessa classe era muito ofensivo. Eles desprezavam e excluíam totalmente estas pessoas. Jesus, pelo contrário, vê nelas o primeiro filho. Num primeiro momento, deram um não, mas depois se arrependeram e fizeram a vontade do Pai. Jesus não aprova o modo de vida delas, mas reconhece a acolhida que elas deram à mensagem de conversão de João Batista e a julga como o cumprimento da vontade de Deus.
Jesus afirma que só aquele que reconhece o seu pecado pode se arrepender; aquele que se acha justo, um auto suficiente, seguro de sua justiça, nunca vai reconhecer que erra. De fato, foi isto o que aconteceu pela pregação de João Batista: os fariseus o rejeitaram, enquanto os pecadores se arrependeram e se converteram. Aqueles, de fato, não se agradaram em ouvi-lo, estavam fechados ao Evangelho e só quem se deixa tocar pelo Evangelho, se afasta de si mesmo (já que, no fundo, a religiosidade farisaica é o agradar a si mesmo, pelo próprio comportamento, pelas próprias ações) e se abandona à vontade de Deus.
Até que os fariseus faziam boas e muitas ações, pois observavam a lei de Moisés, mas esqueciam a parte fundamental: reconhecer os sinais da presença de Deus, primeiramente em João Batista, depois em Jesus. Descobrimos assim que a manifestação concreta da vontade de Deus não coincide nunca com aquilo que nós desejamos e que já pre estabelecemos como o nosso bem, mas tem sempre a ver com a fé, uma fé que envolve todo o nosso ser e se concretiza numa pequena, simples, mas dificílima ação. O importante não é, portanto, fazer alguma coisa, mas fazer aquilo que Deus quer que nós façamos pela obediência da fé.
Pai, quero ser para ti um filho que escuta a tua Palavra e se esforça para cumpri-la com sinceridade. Que a minha resposta ao teu apelo não seja pura formalidade.
Peçamos ao Senhor a graça de progredirmos na virtude da humildade, fundamento de todas as outras; pois a humildade, é a porta pela qual passam as graças que Deus; é ela que amadurece todos os nossos atos , dando –lhes valor e fazendo com que sejam agradáveis a Deus. Finalmente, constitui-nos donos do coração de Deus, até fazer Dele, por assim dizer nosso servidor, pois Deus nunca pode resistir a um coração humilde”. É uma virtude que não consiste essencialmente em reprimir os impulsos da soberba, da ambição, do egoísmo, da vaidade … Trata-se de uma virtude que consiste fundamentalmente em inclinar-se diante de Deus e diante de tudo o que há de Deus nas criaturas, em reconhecer a nossa pequenez e indigência em face da grandeza do Senhor. As almas santas sentem uma alegria muito grande em aniquilar-se diante de Deus, em reconhecer que só Ele é grande e que, em comparação com a dEle, todas as grandezas humanas estão vazias de verdade e não são mais do que mentira. Este aniquilamento não reduz, não encurta as verdadeiras aspirações da criatura, mas enobrece-as e concede-lhes novas asas, abre-lhes horizontes mais amplos.
A humildade nos fará descobrir que todas as coisas boas que existem em nós vêm de Deus, tanto no âmbito da natureza como no da graça: “Diante de Ti, Senhor, a minha vida é como um nada”. Somente a fraqueza e o erro é que são especificamente nossos. A humildade nada tem a ver com a timidez ou a mediocridade. Os santos foram homens magnânimos, capazes de grandes empreendimentos para a glória de Deus. O humilde é audaz porque conta com a graça do Senhor, que tudo pode, porque recorre com frequência à oração, convencido da absoluta necessidade da ajuda divina. E por ser simples e nada arrogante ou auto suficiente, atrai as amizades , que são veículo para uma ação apostólica eficaz e de longo alcance. A soberba e a tristeza andam frequentemente de mãos dadas, enquanto a alegria é patrimônio da alma humilde. Hoje o Senhor nos envia a trabalhar na sua vinha. Somos o filho que diz Sim ou o que diz Não? Somos o primeiro ou o segundo? Seria melhor que fôssemos como o terceiro filho, do qual a parábola não fala: aquele que diz sim e vai mesmo! O que importa mesmo não é parecer, mas ser realmente, realizar na vida o plano de Deus. Para tal, que tenhamos “o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus” (Fl. 2,5). Sejamos humildes, sinceros. As aparências enganam!
Direto da Homilia do Celebrante – Editado e produzido pelo TVJC – Editor: Vinícius Domingos
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