Amados Irmãos e Irmãs: Vivemos no tempo. Somos seres “históricos, ainda que vocacionados ao eterno. Foi-nos dado um começo. Chegaremos sem dúvida a um final. Entre os dois extremos, há uma duração: é nesta duração que somos chamados a cumprir uma tarefa essencial: nosso encontro definitivo com Deus. Porque sabemos que nesta vida tudo tem um tempo e nada nos acontece por acaso. É o que a Santa MIssa deste domingo nos trás quando afirma que o tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo.
Esta condição “histórica é a marca registrada dos seres humanos: efêmeros, sim, mais frágeis que a erva que brotou nos telhados conforme nos relata salmos 129,6, mas dotados de um potencial de eternidade que deriva de nossa comunhão com a vida divina. Quem dela participa, não morrerá para sempre (Jo 11,26). Daí a importância da fé que leva à inadiável conversão e mudança radical de vida.
Comentando a liturgia deste Domingo, o teólogo Hans Von Balthasar afirma que o tema dos três textos é a urgência da conversão; não há mais tempo para outra coisa. Precisamos constantemente aceitar Jesus como nosso Salvador supremo. O livro de Jonas surge no pós-exílio. A primeira leitura mostra que o projeto de Deus é para todos os povos, ou seja, aponta para a Universalidade da salvação, levando a Ninive um resultado positivo de aceitação onde menos se esperava. Na segunda leitura o contexto leva a uma discussão sobre celibatários versus matrimonial, na perspectiva do fim dos tempos como realidade máxima. Paulo nos alerta que diante da brevidade do tempo, devemos saber discernir o que é essencial na vida do que é relativo, passageiro. Assim o Cristão estará em condições de viver sua liberdade religiosa e sua vocação ao chamado de Jesus.
“O Evangelho mostra as consequências do tempo que Jesus proclama “cumprido”. Com este cumprimento, o Reino de Deus se encontra no limiar do tempo terrestre, e torna-se também importante consagrar-se a este começo infalível com toda a sua existência. Não fazemos isto espontaneamente: somos chamados e equipados por Deus a buscar constantemente a nossa salvação.
O que muitos talvez não tenham percebido é que após a prisão de João Batista, chegou o momento de Jesus entrar em cena, para o seu ministério, anunciando a proximidade do Reino de Deus e convidando à conversão, a uma mudança de vida e de atitudes. O tempo é decisivo, não há mais o que esperar pois o esperado já está entre nós e precisamos saber de que lado estamos, da verdade, ou de que julgamos ser correto. É preciso deixar para trás preconceitos, orgulhos e certos legalismos farisaicos. Precisamos ter coragem de olhar as coisas e entender os acontecimentos como Jesus os via.
Aqui, quatro discípulos são chamados por Jesus a deixarem a sua atividade profana – e eles obedecem a este chamado sem vacilar – a fim de serem equipados para sua vocação no Reino de Deus: eles serão pescadores de homens: Muitas vezes somos chamados por Jesus, para abraçarmos uma causa religiosa, e por orgulho, ou por tradição familiar, nos escravizamos no que nos foi imposto ainda no berço, sem percebermos os chamados de Jesus mais adiante, para que tomemos um rumo que nos garantam de fato a salvação que desejamos obter. Jesus é bem claro quando nos afirma: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Mas muitas vezes, nos deixamos levar pelo que vimos e ouvimos nos últimos tempos como sendo uma verdade, que vem enganando nossos corações e temos medo de encararmos a nossa verdadeira fé, e ouvir de fato o chamado de Jesus, venha e lhe farei pescadores de homens!
A tudo isso costumo dizer que são vocações exemplares e não podemos, propriamente, falar de exceções. Também cristãos que permanecem em sua profissão secular foram chamados ao serviço do Reino que Jesus anuncia. Para seguir a este chamado, eles têm necessidade exatamente da indiferença de que Paulo falou na segunda leitura.
Assim como os filhos de Zebedeu deixam seu pai e os operários para seguirem a Jesus, assim também o cristão que permanece no mundo deve deixar muito daquilo que lhe parecia indispensável, se quiser seguir seriamente a Jesus. “Quem pôs a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus. (Lc 9,62.)”
O convite lançado por Jesus exige, portanto, generosidade, comprometimento com ele. Pode segui-lo na vida familiar ou religiosa, estando só ou acompanhado, no mundo do trabalho e das descobertas, na dedicação a política, nas diversas profissões e opções, tendo como referência a compaixão e a partilha com o teu próximo. Somos chamados a acreditar na possibilidade de uma mudança, agora, já, de modo que possamos tornar o mundo mais humano, justo e fraterno, começando em cada um de nós. A decisão é nossa, saiamos do muro e passemos para a banda de cá.
Ainda temos tempo. Não sabemos quanto. Mas como é precioso este tempo que nos foi dado para o exercício do amor! Tempo valioso demais para ser desperdiçado em pequenas brincadeiras, suaves diversões. De todo modo, não deixa de ser consolador o registro evangélico sobre o ladrão crucificado ao lado de Jesus (Lc 23,40). Tudo indica que Dimas vinha desperdiçando seu tempo de vida. Mas ele ainda teve tempo. Ao apagar das luzes, viu a Luz…“Lembra-te de mim, Jesus, quando entrares no teu Reino.
Direto da Santa Missa em seu Lar
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