O número três, segundo a linguagem simbólica da bíblia, significa completude. A intenção do autor é destacar a completa oposição entre Jesus, o Filho de Deus, que veio para libertar o povo, e uma instituição que pretende dominar a Deus, mas que, na realidade, domina o povo.
Na primeira vez que Ele está na sinagoga, como veremos no texto deste Domingo do Tempo Comum, é interrompido. Na segunda vez, os fariseus, juntamente com os herodianos decidem matá-lo, porque havia transgredido publicamente o mandamento do sábado. Na terceira vez, Jesus está na sua terra natal, em Nazaré, quando é acusado de agir em nome de Belzebu, como se fosse um bruxo ou algo parecido, ao expulsar o demônio de um homem. É por tudo isso que Jesus se admira com a incredulidade deles.
Os escribas eram leigos que, depois de toda uma vida dedicada ao estudo e ao aprofundamento da Sagrada Escritura, recebiam, através da imposição das mãos, a transmissão do espírito de Moisés e do espírito dos profetas. A partir de então, tornavam-se os teólogos oficiais do sinédrio e a sua autoridade era maior do que a dos sumos sacerdotes e, inclusive, do próprio rei.
Segundo ensina o livro sagrado dos judeus, as decisões e as palavras dos escribas são superiores até mesmo à Torah. Portanto, representavam o magistério infalível da época.
O ensinamento dos escribas era considerado a própria palavra de Deus. Era superior, principalmente, porque em caso de controvérsia, era necessário e preferível crer nos escribas.
Pois bem, quando Jesus chega a Cafarnaum e se põe a ensinar, o povo fica surpreso, admirado, ao escutar um ensinamento diferente. A mensagem de Jesus é a resposta de Deus ao desejo de plenitude de vida, que cada pessoa traz dentro de si. Já a mensagem dos escribas, que depois Jesus denunciará, na realidade, eram apenas preceitos humanos.
Na verdade, “vendiam” como ensinamento divino o que, na verdade, era a vontade deles, os seus preceitos para dominar o povo. O profeta Jeremias já havia mencionado a denúncia do Senhor que diz, voltando-se esses escribas: “Como podeis dizer: somos sábios porque temos a lei do Senhor? A mentira reduziu a pena mentirosa dos escribas”.
Então, os escribas, para o seu próprio poder, para ter o domínio e pela própria conveniência deturparam a lei de Deus. E, assim como Jesus vai denunciar, ensinam preceitos humanos anulando a palavra de Deus.
Diante dessa novidade o ensinamento de Jesus, que é ouvido com admiração e surpresa, pois é algo totalmente novo e, por isso mesmo, urgente, e porque é urgente, Jesus o faz “imediatamente”.
É a mesma expressão que o evangelista indicou no momento em que Jesus entra em Cafarnaum e se põe a ensinar. Portanto, Jesus se põe a ensinar, subitamente no espaço que eram deles como podemos observar. Com essa expressão o autor do Evangelho destaca a distância entre Jesus e os escribas e dos seus ensinamentos. A sinagoga não pertence à comunidade cristã.
Portanto, o espírito, quando provém de Deus atrai o homem para dentro da dimensão divina do amor. Quando esse espírito provém de forças contrárias a Deus, se chama impuro porque mantém o homem nas trevas, ou seja, na morte.
Como narra o Evangelho, há um homem que está possuído por um espírito impuro. Ser possuído por um espírito impuro significa alguém que aderiu a uma ideologia, uma doutrina que o torna incompatível com o ensinamento de Jesus, como veremos.
Então, as pessoas ouvem um novo eco na mensagem de Jesus; escutam nessa mensagem a Palavra de Deus que chega ao coração aos seus corações, muito diferente do ensinamento dos escribas, que era um ensinamento repetitivo, destinado, sobretudo, a incutir um sentido de culpa e de indignidade das pessoas. O ensinamento de Jesus é o eco da Palavra de Deus, uma Palavra que, se acolhida, transforma a vida das pessoas.
Com esta expressão o evangelista indica que o povo reconhece que quem tem o mandato divino de anunciar a Palavra não são os escribas, mas Jesus. É por isso que o homem que havia aderido à doutrina dos escribas se sente ameaçado e, com ele, toda a categoria desses teólogos também se sente ameaçada.
As pessoas reconhecem que no ensinamento de Jesus existe a autoridade divina, o mandato divino, e compreendem que Deus não se manifesta na doutrina imposta dos escribas, mas na atividade libertadora de Jesus. Esta é a ruina, a destruição! O evangelista indica que a libertação da doutrina dos escribas é agora iniciada e, de fato. O anúncio de Jesus agora se propaga e a proposta de plenitude de vida é acolhida pelas pessoas que dela eram sedentos.
Direto da Redação por Rev. Neilo Machado
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