A cura de leprosos, ou portadores de tantas outras doenças, realizadas por Jesus, teve como base a fé do enfermo. O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu intermédio o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá impulsão por assim dizer irresistível.
Daí decorre que aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural do que se se colocam a serviço do homem para curá-los.
Hoje diante desta pandemia que ninguém esperava, e que nos levou a sermos cautelosos no comportamento humano, seguir regras de higiene, evitar sair as ruas, abraçar nossos queridos, usar mascaras de proteção, nos leva a refletir nas leituras nos impostas hoje pela liturgia da palavra. A limpeza não é cura, mas é condição essencial para que ela se dê.
No plano físico, em muitos casos, o médico, os agentes de saúde, enfermeiros exigem primeiro a assepsia daquele envolvido no tratamento, para só depois iniciar o processo terapêutico propriamente dito. Jesus pôde limpar o leproso das chagas existentes em seu corpo físico, como forma de auxiliá-lo na cura, cura essa que, em se tratando do Espírito, só ele mesmo, o enfermo, poderia fazer através do tempo pela vivência no bem.
Os leprosos de hoje contaminou-se mais espiritualmente em pretérito ao próximo. Ontem, soberbo e egoísta, banhou-se nas lágrimas dos oprimidos, abusando do corpo como os ventos bravios nas tamareiras solitárias. Retornou aos caminhos de tormento em si mesmo atormentado, para ressarcir penosamente. O legado que hoje recebemos com a Covid 19 em ação é de responsabilidade antes que de merecimento, pois se não cuidarmos da nossa higiene, estaremos fadados a contrair o coronavírus, que parece não dar tregua, e vai fazer aniversários de um ano, atormentando a humanidade do mundo inteiro. O pai misericordioso não deseja a punição do filho rebelde e ingrato, mas a sua renovação.
Naquele tempo de Jesus Mandava a lei mosaica que quando um leproso fosse curado pelo poder divino, que ele devia se apresentar ao sacerdote para que fosse considerado purificado e pudesse se reinserir na sociedade de origem. Enquanto se dirigiam para o templo, ficaram curados e se maravilharam disso. Dos dez, apenas um retornou a agradecer ao senhor e a bendizer-lhe a intervenção divina. E Jesus pergunta: Eram dez os que curei, onde estão os outros nove? A gratidão é coisa da alma, e para recebermos a graça de Deus precisamos abastecer nossos corações com bondade infinita para com nossos semelhantes.
Entretanto, também os outros tinham sido curados. Fora mister que tal se verificasse, para que ele pudesse dar a lição que tinha em vista e tornar-lhes evidente a ingratidão. Quem sabe, porém, o que daí lhes haja resultado; quem sabe se eles terão se beneficiado da graça que lhes foi concedida? Dizendo ao samaritano: “Tua fé te salvou”, dá Jesus a entender que o mesmo não aconteceu aos outros.
Jesus, dá ao mesmo tempo, uma lição e um exemplo de tolerância; fazendo ressaltar que só o samaritano voltara a glorificar a Deus, mostrava que havia nele maior soma de verdadeira fé e de reconhecimento, em razão dos demais que não voltaram para lhe agradecer. Acrescentando: “Tua fé te salvou”, fez ver que Deus considera o que há no âmago do coração e não a forma exterior da adoração.
Na primeira leitura entendemos a cura do sírio Naamã, chefe do exército arameu, por Eliseu, homem de Deus. O relato procura nos mostrar uma universalidade de Deus, o qual não é exclusividade de um povo. A princípio resistente Naamã acaba por obedecer ao profeta e alcança seu objetivo. A ação de Deus se concretiza mediante a palavra profética.
Na segunda leitura diante das dúvidas a respeito das carnes imoladas aos ídolos, Paulo propõe buscar sempre a glória de Deus e evitar escandalizar as pessoas. Apresentando-se como exemplo, o apóstolo se mostra mais preocupado com os outros do que consigo mesmo.
No evangelho a missão de Jesus da Galileia está resumida no relato de hoje, quando diz que Jesus teve compaixão do doente. Sem preconceito e sem medo de se tornar impuro – consequência prevista por Lei, o Mestre estende a mão ao doente, levanta-o e desenvolve-lhe a dignidade. O preconceito, presente também na sociedade e nas comunidades de nossos dias, continua a marginalizar pessoas e grupos.
É preciso reconhecermos que Jesus tinha poder para curar. Que por sua vez cheio de compaixão transgride as normais legais – que eram impiedosas com o sofrimento dos marginalizados e toca sem nenhum receio naquele homem tido legalmente pela sociedade como intocável. Por sua vez o doente também é corajoso, sabia que não podia aproximar-se das pessoas, mas mesmo assim foi ao encontro daquele que podia curá-lo, Tocando-o Jesus torna-se impuro, para tornar o outro puro. E assim tem sido a vida. Principalmente nos dias de hoje, diante da terrível pandemia.
Somos tocados por mãos piedosas e generosas, que possuem poder e dignidade para nos conceder a cura, que também vem mediante socorro de Jesus. O mesmo de ontem e de sempre. Naquele tempo a lepra era tida como contagiosa, o que obrigava todo doente de pele a ficar a margem, sem poder conviver com a sociedade e pela própria religião. Muitas vezes até uma simples alegria era identificada como “lepra”.
A gratidão e a fé do homem doente são sentimentos admiráveis, que devem ser estimulados em todos os círculos do relacionamento humano. Diante da lição eloquente deste soberbo episódio, cumpre imitarmos o leproso da leitura de hoje e compararmos o que o mundo está vivendo com esta doença que tem ceifando vidas e vidas humanas sem distinção. A atitude de Jesus de se aproximar revela o rosto de Deus misericordioso, que não tolera a exclusão de ninguém, principalmente quando motivada por justificativas banais.
Hoje infelizmente nos defrontamos com o fantasma da Lepra, disfarçada de outra doença. O relato do evangelho nos mostra a sensibilidade de Jesus para com os doentes. É a atitude encontrada em muitos profissionais da saúde, que arriscam a própria vida para que o doente se recupere. A todos eles rendemos nossa singela homenagem e gratidão.
Cultivemos, portanto, a fé, e não uma fé. Identifiquemo-nos com a religião, e não com uma religião. Pertençamos à igreja, e não a uma igreja. Seja o nosso culto, o da verdade, o da justiça, o do amor. É tal o que Jesus ensina e exemplifica em seu santo ensinamento ao curar os enfermos e amar verdadeiramente os nossos semelhantes.
Direto da Santa Missa
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