O Evangelho de hoje é a continuação do discurso de Jesus, bom pastor, e procuremos entender por que ele se denomina dessa forma: doa a vida livremente, reúne os filhos e filhas de Deus dispersos, conhece seus seguidores. Há um conhecimento mutuo entre o pastor e as ovelhas. João retoma a imagem do profeta Ezequiel, para falar de Jesus, que se apresenta como o bom e autêntico pastor do seu povo.
Jesus é quem comunica a vida plena. Em Jesus habita o Pai, e o amor que o une ao Pai é uma fonte de vida que transborda para todos os homens e mulheres que vivem no mundo. Como bom pastor, Jesus conhece suas ovelhas e elas também o conhecem.
E por nos conhecer nos compreende e perdoa os nossos deslizes e quedas. Trata as nossas feridas e nos reveste de dignidade de filhos. O conhecimento dele é fruto do convívio e do diálogo com Deus seu Pai e que gera o amor. Jesus mantém uma relação pessoal e amorosa com cada um de nós. Chama a cada um pelo nome e a cada um fala ao coração. A relação de conhecimento e amor entre Jesus e suas ovelhas é da mesma natureza que a relação entre Jesus e o Pai.
O Pai me ama porque eu dou a minha vida para recebê-la outra vez. Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou por minha própria vontade. Tenho o direito de dá-la e de tornar a recebê-la, pois foi isso o que o meu Pai me mandou fazer! Disse Jesus!
O quarto domingo da Páscoa é dedicado à catequese do “Bom Pastor”, imagem que não foi inventada por João autor do quarto evangelho. Literalmente falando, esse discurso simbólico está construído com elementos provenientes do Antigo Testamento. Em especial, esse discurso está presente em Ezequiel 34.
Quando o evangelista chama Jesus de “Bom Pastor”, o adjetivo “bom” deve ser entendido no sentido de modelo e de ideal. O que significa ser um pastor modelo? É aquele que é capaz de se entregar, para dar a vida a suas ovelhas. Por ser bom, Ele não olha o exterior; antes, preocupa-se em conhecer cada qual a partir de dentro. Não se preocupa com a lógica interesseira, consumista, estável e estreita. Pois, o “Bom Pastor” quer apenas modelar cada um, a fim de que todos tenham acesso à fraternidade na comunidade.
Já o pastor mercenário “é o empregado contratado por dinheiro”. Este, logo, apega-se ao exterior, às estruturas e não é capaz de formar o rebanho, porque lhe falta amor. Como funcionário do sagrado, limita-se a cumprir apenar o seu contrato, fugindo de tudo aquilo que pode colocar em perigo ele próprio e os seus interesses pessoais. Tudo faz baseado em remunerações e interesses.
Jesus sempre foi considerado o “Bom Pastor”, pois o que O movia era a felicidade dos outros. Para ele, importava pregar o Reino e deixar saudades por onde passava. Sabia que era cidadão de uma história sofrida, com alto índice de maus pastores, e, por isso mesmo, Ele preferiu ser tão bom como Deus é bom.
Assim, os gestos, as palavras, a presença e a vida de Jesus tornaram-se, para a região da Palestina, um dom. Todos os dias, Ele presenciava sacerdotes da antiga aliança e numerosos religiosos brigarem por taxas e ofertas, enquanto Ele semeava o Reino. Assistia sempre uma espiritualidade estéril e uma liturgia desencarnada, enquanto Ele pregava a liturgia na vida e uma espiritualidade concreta baseada no amor ao próximo. Jesus teve tudo para ser um pastor mercenário. Mercenários foram muitos políticos de sua época, religiosos, homens da lei e de classes menos e mais abastadas. Porém, resolveu nadar contra toda a correnteza, a fim de mostrar para Israel que podemos fazer diferença, isto é, podemos ser parecidos com o Pai, que é bom e que não desiste do ser humano.
Porém, quem é o pastor? Este não é apenas o líder politico e religioso, o pai, a mãe, o patrão, o chefe, o professor, o amigo, o irmão. Todos são pastores, e enquanto tal, todos precisam ser modelos. Cristo é o pastor por excelência, contudo, nos deixou uma missão. O seu desejo é que nos tornemos vozes, a fim de fazer ecoar, nas estruturas deste mundo, a Sua voz; a fim de sermos, nesta vida, as Suas mãos; pés, para que possamos ir aonde o Pai é esquecido, a fé é evitada e a irracionalidade é gritante.
Num mundo de tantas lideranças políticas com pouco compromisso com o bem dos mais pobres e sofredores, num mundo de tantas lideranças religiosas prometendo prosperidade econômica a troco de ofertas, somos chamados a “conhecer” a voz daquele que é bom. Com tantos meios e informações, é fácil sermos enganados. É preciso atenção constante contra os falsos pastores, lideres mercenários a quem só importa o dinheiro.
Celebremos, fervorosamente, este domingo e, olhando para o Pastor por excelência, lembremo-nos do nosso compromisso de ser na vida pastores, e, portanto, modelos. Tal qual Israel, vivemos em um mundo que respira desigualdade e maldade. Mas, porque queremos ser anunciadores da missão de Jesus, introduziremos, em nossa vida, o que Ele sempre praticou: a semente da bondade! Ouvindo a voz do Bom Pastor, mesmo em meio às maiores dificuldades, seremos guiados pelo caminho certo, o caminho do discernimento, onde, como diz o salvador, “nada me faltará” para chegar à vida verdadeira. Amém!
Direto da Santa Missa
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