O Evangelho de hoje nos questiona. Depois de um dia inteiro de lida com o povo, Jesus está cansado e resolve descansar um pouco. Os apóstolos o colocam no barco e começam a atravessar o mar de Tiberíades. Vem uma tempestade imprevista e eles precisam lutar muito para não afundar. Mas Jesus dorme sobre um travesseiro. Estava mesmo muito cansado!
Os apóstolos o acordam e chamam a sua atenção diante do perigo: “Mestre, não te importa que afundemos?” Muito assustados, eles temiam pela sua vida. Jesus levanta-se, dá ordens ao vento e ao mar e a tempestade se acalma. E agora é sua vez de chamar a atenção dos discípulos: “Por que tanto medo? Vocês ainda não têm fé?” Equivalia a dizer: ainda não se deram conta de quem eu sou? Não entenderam os milagres que presenciaram? Com o vento e o mar acalmados, é o coração dos discípulos que entrou em agitação novamente e então eles se perguntam: “quem é esse, a quem até o vento e o mar obedecem?” Antes ficaram assustados com a tempestade. Agora estão assustados com Jesus no barco. Este breve trecho do Evangelho de Marcos nos ensina muito. Vejamos!
Por vezes, nos vemos no meio de uma tempestade e lutamos, temendo pelo pior. Quem não ficou e está assustado e sentiu medo durante essa pandemia, COVID-19 que assola o mundo? Quem não se questiona sobre o rumo de certos momentos na vida pessoal e social, quando parece que não vamos mais dar conta e estamos prestes a perder a direção e o controle da situação? De vez em quando, o barquinho de nossa frágil existência é posto duramente à provas.
Então é hora de lembrar que não estamos sozinhos no barco. Sem a pretensão de querer resolver tudo sozinho, é hora de recorrer Àquele que sempre vai conosco e nunca nos abandona. Mesmo quando nos parece que Ele dorme e não age, podemos manter a confiança. Ele prometeu estar sempre conosco, especialmente, nos momentos de tempestade. Jesus reclama da falta de fé dos apóstolos. A fé, nesse caso, é a experiência do encontro com Deus, do estar com ele e da vida entregue a ele.
O cristão, como todas as pessoas, pode passar por muitas tempestades na vida, mas nunca deve esquecer que Alguém vai com ele no barquinho da vida e que não está sozinho. A serenidade e a confiança são características de quem tem uma forte experiência de fé em Deus. Com isso, ele não deixa de lutar e de se esforçar para enfrentar as tempestades da vida; pelo contrário, encontra motivações e forças ainda maiores para continuar e não se deixar afundar. A pessoa que se engaja consciente no processo de melhoria atende ao chamamento de renovação espiritual.
A vontade imprime, neste sentido, papel relevante, permitindo que as pessoas operem os mecanismos de progresso de forma consciente. Dessa forma, é necessário deixar a “multidão” de erros e equívocos para trás e levar junto a si, no “barco” da vida, o próprio Jesus. Medida que lhe será útil sobretudo quando a travessia de um estado evolutivo para outro se revele mais difícil.
O período atual por que passa a Humanidade terrestre é marcado por uma época de significativa transição moral. Sendo assim, é de fundamental importância trazermos o Cristo na mente e no coração, a fim de que não venhamos a sucumbir sob o peso dos temporais e das ventanias morais que nos assaltam a nossa existência nos dias atuais.
Na verdade, sendo o Senhor o Mestre por excelência, não retirou dos apóstolos a oportunidade educativa de ensinar com acerto. O sono de Jesus é um exemplo de como devemos agir perante as situações calamitosas da vida: com calma, “dormindo” na certeza da fé em Deus, que nos agasalha, protegendo-nos das intempéries que nos acometem diariamente. Dormir, no significado expresso no texto, não deve ter a conotação de invigilância ou de descuido.
A falta ou escassez de fé tem colocado muitos “barcos” humanos à deriva. Entretanto, ainda que pareça paradoxal, são muitas vezes as situações periclitantes que despertam as pessoas para as realidades do Evangelho, clamando por Jesus (“E, despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?”). Se confiamos a paz virá e tudo se acalmará.
No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas no seu íntimo, a princípio em estado latente. A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras.
Porém sabemos que é comum que o “barco” da nossa existência seja, em diferentes instantes, açoitado pelas provações, simbolizadas pelos ventos e tempestades que nos relata o evangelista. Em tais momentos é importante estejamos preparados, armando-nos da couraça da fé, cientes da proteção do Senhor, a fim de que possamos responder às indagações de Jesus: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Perante as provações previstas no nosso quadro existencial, devemos nos manter firmes na fé, alimentando as forças morais e intelectuais que possuímos, erguendo barreiras morais que concedam segurança à nossa própria existência.
Importa, contudo, marchar sempre com fé, no caminho interior da própria redenção, sem esmorecimento. Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade; depois, é o sofrimento e, em seguida, é a solidão, se um dia festejamos outro lamentamos. Ainda assim, é indispensável seguir sem desânimo. Quando não seja possível avançar dois passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo menos, alguns milímetros progressivamente. Será que Temos nós a humildade de recorrer a Deus em nossas tempestades e lutas do dia a dia e seguir confiantes em frente, crendo que tudo se acalmará em breve?
Direto da Santa Missa
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