A Santa Missa de Hoje nos leva a refletir: “Coragem! Não tenhais medo”! São palavras animadoras, de incentivo, de esperança presentes em praticamente todos os textos da Bíblia, especialmente nos textos vocacionais de chamado ou envio para a missão. Elas vêm acompanhadas da certeza da presença do Senhor: “Eu estarei convosco”; “eu estarei contigo”; “eu irei a vossa frente”.
Este é um dos critérios fundamentais para sabermos se estamos lendo corretamente a Bíblia, pois a Palavra de Deus é palavra criadora, geradora de vida, de esperança, de luz como se vivêssemos o invisível, e que levam à ação.
O Evangelho está contextualizado no retorno da viagem de Jesus da região de Tiro. Cita ainda a passagem na região de Sidônia e Decápole, ambas constituídas por pagãos, e dirige-se para a região da Galileia onde lhe é apresentado uma pessoa especial: não ouve, nem fala. Algo parece ter mudado na forma pedagógica de Jesus agir.
Ao contrário do que fez em outras situações, Jesus não impõe as suas mãos sobre o surdo-mudo, mas o leva a sós, para longe da multidão. Também há mudança pedagógica na forma de devolver-lhe a audição e a fala: “Jesus pôs os dedos nos seus ouvidos, cuspiu, e com a saliva tocou-lhe a língua”. Mas a cura não foi imediata. Parece algo processual, trabalhoso. “Olhando para o céu, suspirou, e disse ‘Effetá!’ [que quer dizer: ‘Abre-te!]”.
O apelo é ao Pai, mas a única palavra de Jesus dirige-se ao coração da pessoa com surdez e mudez. Somente um encontro profundo e pessoal com Jesus é capaz de curar de verdade. Quanto mais Jesus os proibia de contar, tanto mais eles, os desconhecidos, o proclamavam. Significa algo mais que simplesmente contar. “Proclamar” é um termo técnico usado por Marcos para referir-se à proclamação do Evangelho.
Proclamavam o bem que Jesus fez, não somente a este surdo-mudo, e sim no plural: “Ele tem feito tudo bem; faz tanto os surdos ouvirem como os mudos falarem”. Abrir os olhos e ouvidos são metáforas da situação em que vive o povo. A cegueira é uma referência à cegueira dos que têm olhos, mas não enxergam os sinais da transformação. Têm ouvidos, mas somente escutam o que reforça os seus próprios preconceitos. Têm pernas, mas vivem imobilizados pelo medo e suas concepções pessimistas. Têm boca, mas não dizem um “a” de ânimo, de profetismo e de esperança.
A viagem de Jesus para a região de Tiro, Sidônia e Decápole, provoca uma mudança de atitude em Jesus, não mais de primazia do povo de Israel sobre os povos tidos como pagãos, mas de participarem dos dons do Reino em condições iguais.
O que importa é fazer o bem, acolher-se mutuamente e desenvolver um processo que valoriza a diversidade, proporcione proximidade, de contato físico, de superação das próprias fronteiras. Daí a importância do alerta que Tiago faz para não cair em tentação de classificar as pessoas segundo a sua origem, cultura ou classe social.
Por fim, a Boa Nova é proclamada pelas pessoas que não são da comunidade de Israel que reconhecem que “tudo Ele tem feito bem”. Perceber essa novidade exige de nós uma mudança de mentalidade de estruturas, como afirma o documento Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade (Doc 105): “A Igreja não é uma ilha de perfeitos, mas uma comunidade missionária e de aprendizagem em seu modo de ser, organizar e agir como seguidora de Jesus Cristo. Viver e atuar neste mundo globalizado implica mudança de mentalidade e de estruturas”.
Jesus podia apenas dar uma ordem e aquele homem ficaria curado. Ele poderia também ter feito esse sinal no meio da multidão. Mas Jesus o chama à parte e toca-lhe com as mãos e com saliva. Esses gestos eram pontes de contato. Jesus toca esse homem para despertar-lhe a fé. Permita pois Jesus MUDAR sua vida. Permita Jesus ABRIR seus ouvidos. Permita Jesus FALAR por sua boca e curar através das suas mãos.
Direto da Santa Missa
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