Nunca foi tão difícil refazer uma matéria, durante 14 anos, as frases “time grande não cai” e “desde 1921 na Primeira Divisão” transformaram-se em mantras dos torcedores do Cruzeiro para provocar o arquirrival. O Atlético que foi rebaixado em 2005 sabe o que estamos escrevendo. Porém, com a queda do Cruzeiro para a Série B neste domingo, 8 de dezembro, o time estrelado entrou também para a trágica estatística endossada por vários outros “gigantes” do nosso futebol brasileiro.
Além do Cruzeiro, este ano, a Chapecoense outro time considerado “incaível” acabou sendo rebaixado. Fundada em 1973, a equipe de Chapecó disputou seu primeiro Nacional em 1978, voltando a figurar no ano seguinte, quando ficou na antepenúltima colocação. Como o regulamento daquele ano era somente político, e não previa rebaixamento, não era computada a participação da equipe do Sul do país como uma queda propriamente dita, apesar de ter disputado a Segunda Divisão em 1980.
Nesse caso, a participação nas Taças de Ouro e Prata (nomes da Série A e B, respectivamente, à época) de 1980 a 1984 era baseada na classificação dos campeonatos estaduais. Se considerarmos os brasileiros unificados, o time que mais vezes participou da Série A foi o Grêmio (60 vezes). O Cruzeiro aparece logo atrás, com (59). Isso é explicável devido à Taça Brasil ter como critério de classificação o triunfo no Estadual do ano anterior.
Assim, Tricolor e Raposa tornaram-se figuras constantes no certame, uma vez que dominaram seus Estados durante a realização da competição. O conceito de grande é complexo.
Por sua vez o lado preto e branco de Minas Gerais está em festa, minutos depois da confirmação do rebaixamento do Cruzeiro, o perfil oficial do Atlético-MG no Twitter provocou seu maior rival. Em um vídeo postado, o Galo, mascote da equipe alvinegra, cutucou a equipe celeste: “Fica titi não”.
O Galo que tentou voar batendo suas asas também entrou em campo e foi derrotado. De virada, o Atlético-MG foi superado pelo Internacional, no Beira-Rio, por 2 a 1, e terminou a competição em 13º lugar, com 48 pontos.
Para um time que até domingo havia vencido apenas sete partidas em 37 rodadas, a tarefa de vencer o Palmeiras, um dos elencos mais qualificados do Brasil, era praticamente impossível e todos temiam o pior. O Cruzeiro não dependia das próprias pernas para se salvar do rebaixamento: a equipe mineira precisava torcer por uma derrota do Ceará contra o Botafogo. Nem uma coisa, nem outra, e o time cruzeirense caiu pela primeira vez e irá disputar em 98 anos de história e glorias a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
Após o primeiro gol palmeirense, o que passou a se ouvir no estádio eram sons de bombas com estampidos, o que deve ter revoltado alguns vereadores de Pouso Alegre porque a proibição para os mesmos vieram para acabar com a festa de alguns que se deliram com a tristeza de outros.
Aos 35 minutos de jogo, quando o jogo já estava 2 a 0 para a equipe paulista, o árbitro da partida entre Cruzeiro e Palmeiras decidiu encerrar a partida por falta de segurança. Botafogo e Ceará empataram em 1 a 1, resultado esse que já garantia o time nordestino na Série A em 2020. Há relatos de torcedores feridos no confronto com a Polícia, que foram atendidos e levados ao Ambulatório do Mineirão, coisa exagerada para os torcedores irmãos e apaixonados pelo Cruzeiro, claro que não precisavam chorar o leite derramado.
O rebaixamento é uma consequência desastrosa à temporada caótica dentro e fora de campo. Se os primeiros meses de 2019 seguiam a toada dos últimos anos – o Cruzeiro foi bicampeão da Copa do Brasil em 2017 e 2018 -, no restante da temporada o Cruzeiro viveu um processo de decadência que, não por coincidência, começou com uma denúncia de corrupção de dirigentes celestes. Acredito que a bruxa já estava solta em 2019 para o lado cruzeirense.
O título do Campeonato Mineiro e a boa campanha na fase de grupos da Libertadores fizeram o time cruzeirense ser muito elogiado no início do ano, não podemos esquecer disso, mais precisamente até o mês de abril. Em maio, começaram os nossos problemas. Uma investigação da Polícia Civil resultou em uma denúncia de transações irregulares e uso de empresas de fachada para ocultar crimes cometidos dentro do clube. Isso gerou enorme instabilidade na equipe e não demorou para que os maus resultados aparecessem. Tudo foi acontecendo de maneira desastrosa, e a bruxa continuou atacando-nos.
Após a Copa América, o Cruzeiro foi eliminado da Libertadores pelo River Plate e da Copa do Brasil pelo Internacional. A campanha no Brasileirão foi ruim desde o início, mas no clube sempre prevaleceu a certeza de que quando a equipe se dedicasse com afinco à competição, as vitórias surgiriam. Mas não surgiram. Não aconteceram.
A troca de Mano Menezes, bicampeão da Copa do Brasil, por Rogério Ceni resultou em um desastre dos mais terríveis para o time. O jovem técnico não conseguiu domar as “feras” do elenco, especialmente Thiago Neves, e durou pouco no cargo e todo torcedor deu graças a Deus quando ele saiu.
A seguir, chegou o veterano Abel Braga, muito mais agradável para os atletas, mas o carioca não foi capaz de tirar o Cruzeiro do buraco. A três rodadas do fim, chegou Adilson Batista, antigo ídolo da torcida celeste. Agora só nos resta chorar e torcer para que a bruxa malvada cozinhe e galo e que as estrelas do Cruzeiro voltem a brilhar na segundona do Brasileirão.
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