O acidente de Lucas de Paula da Silva, de 21 anos, aconteceu em 23 de março enquanto o jovem trabalhava na laje de uma obra, no Bairro Nova Benfica, Zona Norte de Juiz de Fora/MG. Segundo Adriel, o pai biológico pediu que o filho ajudasse com o serviço no local.
Durante o trabalho uma barra de ferro, que ele segurava com uma das mãos, acabou esbarrando na rede de alta-tensão e ele recebeu uma forte descarga elétrica. Os funcionários de uma borracharia próxima do local ligaram para o Corpo de Bombeiros, que fez o resgate. O rapaz é auxiliar de escritório e não tem experiência para trabalhar em obras.
Com o forte impacto da descarga, Lucas teve várias queimaduras nos braços, na barriga e principalmente nas pernas e deu entrada em estado grave no Hospital de Pronto Socorro Dr. Mozart Teixeira (HPS), onde permaneceu por uma semana e precisou ser transferido para à Santa Casa.
A primeira pessoa a tomar conhecimento do que havia acontecido foi Tatiana Carla da Silva, de 40 anos, mãe do jovem.
Ela conta que em um primeiro momento, falaram que ele tinha recebido um choque. Falaram da real gravidade do acidente, “Ela tem chorado todos os dias. Está muito abalada emocionalmente, não tem condições de falar com outras pessoas devido a emoção e o sentimento de ver o filho nesta situação.
Diante das dores físicas intensas no leito de um hospital e reaprendendo a viver com uma nova realidade, Lucas tem encontrado na família e na solidariedade de muitas pessoas a força necessária para seguir adiante.
Internado há pouco mais de 30 dias em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, o jovem precisou amputar parte das pernas – cerca de cinco centímetros abaixo dos joelhos – também teve várias partes do corpo queimadas.
Agora, a família, com poucas condições financeiras, luta contra o tempo com o objetivo de arrecadar R$ 80 mil necessários para custear a aquisição das próteses ortopédicas – necessárias à à mobilidade do rapaz – e um longo tratamento de adaptação.
Logo, para levantar o valor, foi criado um perfil para o jovem em um site de financiamento coletivo por meio de doações.
Adriel Martins, de 39 anos, padrasto do jovem largou o emprego como coordenador de produção em uma empresa de alimentos da cidade para cuidar de Lucas, atualmente hospitalizado na Santa Casa de Misericórdia no município. “Eu o amo como se meu filho fosse. Estamos sempre juntos, um ajudando o outro. Felizmente, muitos amigos e pessoas da nossa comunidade têm nos ajudado”, afirma
“Estou focado nele. É um momento difícil. Em alguns dias, mesmo com a aplicação da morfina, a dor é intensa, não passa! E agora, ele também está com anemia. O médico passou uma dieta à base de proteína. Então, todos os dias, levo a comida dele”, conta.
Conforme detalha Adriel, a equipe médica realizou no último dia 19 de abril uma raspagem na barriga pela segunda vez. Trata-se de um procedimento para limpeza das feridas e retirada da pele morta e dos resíduos.
“Agora, eles estão avaliando a possibilidade de fazer um enxerto nessa área. Caso contrário, a pele fica muito fina e isso pode trazer problemas para ele”, explica.
O tratamento
Adriel conta que, por indicação de um médico da Santa Casa, a família optou pelo especialista em próteses Fabrício Daniel, de Belo Horizonte, para buscar orientações. Foi ele quem forneceu à mãe, em conversa privada no Instagram, uma estimativa do valor que seria necessário para custear todo o tratamento na capital mineira.
O médico protesista, que é referência no segmento e mestre em Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba (Univap), conversou com a reportagem e comentou o caso de Lucas, que iniciará um longo processo para retomar sua autonomia e mobilidade.
“Considerando as condições clínica e física e a idade do paciente, foi estipulado a prótese ideal para ele. Cada uma custa R$ 30 mil. No entanto, a família precisará ir a Belo Horizonte muitas vezes – o que incluirá gastos extras e frequentes com passagens, hospedagem e alimentação”.
“Nos primeiros contatos, vamos fazer a preparação do corpo com o uso de meias compressivas de silicone. Ele também será orientado em relação aos exercícios que precisará fazer (em casa). Em um segundo momento, ele deverá voltar a BH para um treinamento integral, pela manhã e à tarde, com fisioterapia intensiva e, posteriormente, a colocação das próteses por meio de encaixes provisórios”.
Na segunda etapa, conforme o médico, o objetivo é fazer com que Lucas já dê os primeiros passos. No entanto, o especialista prevê que, até lá, o paciente tenha uma perda de altura de aproximadamente 10 centímetros.
“O paciente amputado bilateralmente permanece muito tempo deitado ou sentado, por isso a estatura tende a diminuir um pouco, gerando uma modificação postural. À medida que ele vai ganhando estabilidade e equilíbrio, a gente vai aumentando a altura (da prótese)”, explica Fabrício Daniel.
Por fim, o médico detalha que o treinamento fisioterápico e o acompanhamento com personal trainer estão inclusos no decorrer do processo. Os objetivos são praticar o equilíbrio e estimular o ganho de força muscular para que o jovem consiga, enfim, caminhar.
“Então, quando ele não estiver mais precisando do apoio das barras paralelas para se locomover, começamos a liberá-lo para casa. Aí, na cidade dele, será preciso seguir com a fisioterapia para o ganho contínuo de força muscular. A previsão é que, a cada 15 dias, o Lucas volte a BH para os ajustes de altura nas próteses. Todo esse processo costuma durar cerca de seis meses”, finaliza.
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