Em um cenário eleitoral polarizado, com muitos políticos do chamado “centrão” de olho no Palácio do Planalto e pouco dinheiro para financiar as campanhas, um grupo aparentemente homogêneo de eleitores vem brilhando os olhos dos presidenciáveis: os evangélicos. Eles somam praticamente um terço da população, segundo o Datafolha, e podem ser decisivos para definir o pleito.
A três meses do prazo para um candidato se filiar ou trocar de partido, os interessados em participar da disputa eleitoral intensificaram seus movimentos para conquistar o segmento. Fundador e presidente do Ministério Sara Nossa Terra, o bispo Robson Rodovalho afirmou ao HuffPost Brasil que alguns candidatos já o sondaram.
Nos últimos dias, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, interessado em concorrer pelo PSDB, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que cogita sair candidato pelo PSD, fizeram aceno aos evangélicos. Ambos apresentam afinidade com o perfil desejado por Rodovalho, cada um à sua maneira. Segundo colocado nas pesquisas presidenciais, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) também tem despertado a simpatia aos evangélicos.
Para Rodovalho, Bolsonaro, único que não se coloca como candidato de centro, é um dos que têm possibilidade de se alinhar com o segmento. Em eleições anteriores, o segmento esteve na mira de Lula e Dilma Rousseff a Marina Silva e Aécio Neves, por exemplo. A estratégia dos líderes evangélicos para este ano espera por uma definição apenas entre fevereiro e março.
Meirelles e Sara Nossa Terra
A peregrinação dos presidenciáveis começou cedo. Em setembro, Meirelles gravou um vídeo para pedir apoio dos evangélicos na aprovação da reforma da Previdência e começou com uma súplica: “preciso da oração de todos”.
Esse foi um dos movimentos do presidenciável para se aproximar dos fiéis. Nesta semana, foi apresentado por Flávio Rocha, presidente do grupo Riachuelo, como responsável pelo “maravilhoso milagre da economia brasileira”, em culto da igreja evangélica Sara Nossa Terra, na presença de Rodovalho.
Em entrevista ao jornal Estadão, o ministro, que é católico, diz que se aproximou da Assembleia de Deus porque a igreja “compartilha da mesma mensagem de gastar só o que se ganha” na doutrinação a seus fiéis. Ele alega também buscar apoio para a aprovação da reforma da Previdência.
Meirelles tem até abril para decidir se deixará o governo de Michel Temer para ser candidato. De acordo com pesquisa Datafolha publicada em dezembro, as intenções de voto variam entre 1% e 2%, dependendo do cenário. O ministro da Fazenda é conhecido por 48% dos eleitores.
Disputa pelo voto evangélico
Provável candidato do PSDB, Geraldo Alckmin também está de olho nos evangélicos, a fim de garantir que os votos do grupo não sejam conquistados pelo deputado federal Jair Bolsonaro.
Em agosto, o tucano participou da abertura da Expo Cristã, maior feira do segmento gospel no Brasil. O anfitrião do evento é o pastor da Assembleia de Deus Silas Malafaia. “Nós precisamos nos inspirar na igreja”, disse o presidenciável.
O governador deve organizar um jantar no Palácio dos Bandeirantes com líderes religiosos e visitar cultos da Assembleia de Deus Paulistana, da Fonte da Vida e da Igreja Mundial do Poder de Deus, de acordo com a Folha de S. Paulo.
As intenções de voto de Alckmin ficaram entre 6% e 12%, dependendo do cenário, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada em dezembro de 2017. Ele é conhecido por 85% dos eleitores.
Lula e Bolsonaro estão empatados nesse segmento, segundo o Datafolha. O ex-presidente tem 14% de preferência, contra 13% do parlamentar. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Apesar de católico, Bolsonaro já se batizou no rio Jordão (Israel) pelas mãos do pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC, partido que ele decidiu abandonar para disputar o Palácio do Planalto.
Voto evangélico com peso maior
Na avaliação do cientista político Antonio Lavareda, o voto evangélico terá um peso maior nas eleições de 2018 devido ao fim do financiamento privado de campanhas. “Provavelmente o voto evangélico vai ser mais importante nessa eleição de 2018 do que já foi anteriormente no Brasil”, afirmou ao HuffPost Brasil.
Especialista em pesquisas eleitorais e ex-consultor de estratégia de 91 campanhas majoritárias, Lavareda destaca o aumento da bancada evangélica no Congresso Nacional e a expansão do número de representantes desse setor eleitos nas eleições municipais de 2016, com destaque para áreas na periferia das regiões metropolitanas.
A Frente Parlamentar Evangélica do Congresso conta com 199 deputados e 4 senadores. Levantamento do Departamento de Assessoria Parlamentar identificou que nas eleições de 2014 foram eleitos 74 novos deputados do setor, seguindo tendência de crescimento.
Lavareda ressalta que não necessariamente o novo presidente será evangélico, mas lembra que candidatos dessa religião tiveram desempenho relevante em recentes eleições presidenciais.
Ele cita 2010, quando Marina Silva disputou o cargo pelo PV, conquistou o terceiro lugar, com 19,33% dos votos. Já em 2002, Anthony Garotinho, que concorreu pelo PSB, também ficou em terceiro, com 17,86% dos votos. No segmento, ele tinha 42% das intenções de voto, enquanto Lula, vencedor do pleito, tinha 27%, segundo o pesquisador.
O voto dos evangélicos é mais orgânico do que de outras religiões, segundo o especialista. Isso significa que esse setor vota mais em bloco, de acordo com a orientação dos líderes religiosos. “Se uma denominação evangélica apoiar um candidato, vai ficar mais fácil um apoio maior desses fiéis para esse candidato”, exemplifica.
Em 1991, 9% da população do País se declarava evangélica, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 2010, o grupo chegou a 22%. Segundo pesquisa Datafolha publicada em dezembro, os fiéis dessa religião correspondem hoje a 32% dos brasileiros.
Fonte: Datafolha
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